Treinamento pliométrico na areia ou na grama?

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Um grupo de pesquisadores de instituições brasileiras e norte-americana publicou um estudo na International Journal of Strength and Conditioning analisando os efeitos de um programa de cinco semanas de treinamento pliométrico realizado em superfícies diferentes — areia e grama — no desempenho físico de jogadores de futebol sub-20. O trabalho foi conduzido por Charles Ricardo Lopes, da Faculdade Adventista de Hortolândia, com coautoria de professores da USP, Unimep e da California State University.

Qual o objetivo do estudo?

O estudo buscou entender se há diferenças nos ganhos de desempenho em saltos verticais e corrida curta (15 metros) ao se treinar na areia ou na grama. A hipótese partia da premissa de que diferentes superfícies poderiam interferir no ciclo alongamento-encurtamento dos músculos, afetando a potência e o rendimento dos atletas.

Como o estudo foi realizado?

Participaram 19 atletas sub-20 de um clube profissional do estado de São Paulo, todos com experiência prévia em treinamento pliométrico. Eles foram divididos aleatoriamente em dois grupos: um treinando exclusivamente na areia (n=10) e outro na grama (n=9). O programa durou cinco semanas, com três sessões semanais de saltos progressivos em volume e intensidade. Durante o período, os atletas mantiveram sua rotina normal de treinos técnicos e físicos, mas sem realizar outros tipos de treino de força.

O desempenho foi medido antes e depois da intervenção por meio de saltos do tipo squat jump (SJ), countermovement jump (CMJ), drop jump (DJ) de diferentes alturas e sprints de 15 metros.

Quais foram os principais resultados?

Os dados indicaram que tanto o grupo da areia quanto o da grama tiveram ganhos semelhantes em todas as variáveis medidas.

O squat jump (SJ) melhorou em 18,2% no grupo da areia e 17,6% no grupo da grama. O countermovement jump (CMJ) aumentou 12,5% e 12,4%, respectivamente. A melhora no tempo de sprint de 15 metros foi de cerca de 2,2% para ambos. Não houve diferença estatística significativa entre os grupos.

Por que os resultados foram parecidos?

Segundo os autores, embora superfícies mais firmes, como a grama, favoreçam o aproveitamento da energia elástica armazenada durante os saltos, o treino na areia exige maior ativação da musculatura na fase concêntrica dos movimentos, o que pode compensar essa diferença biomecânica. Além disso, o controle das variáveis de volume, intensidade e recuperação ajudou a equilibrar os efeitos do treinamento nas duas condições.

Implicações práticas para o treinamento de jovens atletas

O estudo sugere que treinadores podem utilizar tanto a grama quanto a areia para desenvolver potência de membros inferiores, desde que o programa de treino seja bem estruturado. A escolha da superfície pode considerar o contexto e as características individuais dos atletas: por exemplo, a areia pode ser mais indicada no início da pré-temporada, para atletas menos experientes ou em recuperação física, enquanto a grama pode ser preferida em fases mais próximas da competição por sua semelhança com o jogo.

A pesquisa oferece uma base sólida para que profissionais do futebol tomem decisões mais seguras e fundamentadas sobre como incluir a pliometria no planejamento físico de suas equipes.

O artigo completo está disponível clicando aqui
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Wesley Fernandes

Wesley Luiz Fernandes atua como Preparador Físico de Força, Condicionamento e Return to Play no Red Bull Bragantino. Também é fundador da SPAI, empresa focada em Inteligência Artificial, desenvolvimento de sistemas e pipelines de dados.

No esporte, trabalhou em clubes de futebol como Atlético-MG e América Locomotiva.

Possui formação em Ciência do Esporte (Mestrado e Bacharelado pela Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG) e cursa Engenharia de Software (UniCesumar).

Matheus Gasques

Matheus Gasques é Preparador Físico e Coordenador de Rendimento com passagens Club Sporting Cristal, Atlético Mineiro, Santos, América-MG e Inter de Limeira

Possui graduação em Educação Física com Especialização em Treinamento no Futebo. Possui licenças da CBF e AFA.

Recentemente lançou o livro digital: Retorno ao Jogo após Lesões Musculares no Futebol.

João Bonfatti

João Bonfatti atualmente trabalha como Coordenador do setor de Análise de Desempenho no América-MG. Antes disso, teve passagens pelo Vasco da Gama, onde atuou em diferentes categorias: foi auxiliar técnico do Sub-20, treinador interino do Sub-17 e auxiliar técnico do Sub-17.

Atuou também pelo Atlético-MG, onde desempenhou o papel de auxiliar técnico do Sub-15. No Corinthians, auxiliar técnico do Sub-14, além de exercer a função de supervisor metodológico.

Sua formação inclui o Bacharelado em Futebol pela Universidade Federal de Viçosa e a Licença B da CBF Academy, o que reforça sua base teórica e prática no desenvolvimento de atletas.

Felipe Bonholi

Felipe Bonholi integra a equipe do Palmeiras como Analista de Desempenho no Centro de Formação de Atletas (CFA), contribuindo para o desenvolvimento e acompanhamento de jovens talentos.

Antes disso, acumulou cinco anos de experiência na Ferroviária, onde atuou como Analista de Desempenho da equipe profissional, e no São Carlos Futebol Clube na mesma função.

Sua formação acadêmica inclui Bacharelado em Administração de Empresas pela UNIARA (2014–2017) e graduação em andamento em Educação Física pela mesma instituição, iniciada em 2019.

Com sólida base teórica e ampla experiência prática, Felipe Bonholi se destaca por sua capacidade de integrar análise técnica, gestão e visão estratégica no contexto esportivo, contribuindo para o desempenho e evolução de atletas e equipes.

Mylena Baransk

Mylena Baransk é doutora em Educação Física pela Universidade Federal do Paraná e mestre em Ciências da Saúde pela Universidade Estadual de Ponta Grossa, onde também concluiu sua graduação em Educação Física – Bacharelado. Especialista em futsal com foco em análise de desempenho, atuou como docente em cursos do ensino superior e analista de desempenho no futebol.

Atualmente, exerce a função de analista de desempenho no Clube Atlético Mineiro, onde trabalha desde agosto de 2024. Antes disso, desempenhou a mesma função na Associação Ferroviária de Esportes entre março e agosto de 2024, atuando em Araraquara, São Paulo.

Além da atuação em clubes, possui experiência acadêmica como docente, tendo lecionado na UniCesumar entre julho e outubro de 2023, em Curitiba, Paraná. Também foi professora na UNIFATEB, onde atuou por quase três anos, de fevereiro de 2021 a outubro de 2023, em Telêmaco Borba, Paraná.

Com forte presença na área de análise de desempenho no futebol, também é CEO da Statisticsfut, onde se dedica ao desenvolvimento de conteúdos e estratégias voltadas à análise estatística e desempenho esportivo.

Nathália Arnosti

Nathália Arnosti é uma profissional de destaque na área de Fisiologia do Esporte e Preparação Física, com sólida formação acadêmica e ampla experiência no futebol brasileiro.

Bacharel e mestre em Educação Física pela Universidade Metodista de Piracicaba e doutora pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), ela construiu uma carreira marcada pela integração entre ciência e prática esportiva.

No cenário dos clubes, já contribuiu com equipes como Athletico Paranaense, Red Bull Bragantino, Palmeiras, Audax, Ferroviária e Ponte Preta. Em janeiro de 2024, assumiu o cargo de fisiologista do Cruzeiro, reforçando seu papel como referência no acompanhamento e otimização do desempenho esportivo.

Rodrigo Aquino

Rodrigo Aquino é professor na Universidade Federal do Espírito Santo, onde atua no Departamento de Desportos e como docente do Programa de Pós-Graduação em Educação Física (Mestrado e Doutorado).

É líder do Grupo de Estudos Pesquisa em Ciências no Futebol (GECIF/UFES) e coordenador do Programa Academia e Futebol (Núcleo UFES), financiado pelo Ministério do Esporte. Seu trabalho envolve a coordenação de projetos técnico-científicos em parceria com categorias de base e equipes profissionais de futebol no Brasil.

Rodrigo é graduado em Educação Física e Esporte pela USP, com especialização em Ciências do Desporto pela Universidade do Porto. Concluiu o mestrado e doutorado em Ciências também pela USP. Acumula experiência prática no futebol desde 2015 como fisiologista e preparador físico em clubes profissionais, além de atuar como treinador e coordenador técnico em categorias de base. Reconhecido academicamente, está entre os 10 cientistas do esporte mais produtivos da América Latina em publicações científicas relacionadas ao futebol.

Neto Pereira

Neto Pereira é um profissional de preparação física e performance esportiva com experiência em clubes do Brasil e do exterior. Atualmente é Preparador Físico no sub-20 do Vasco da Gama.

Trabalhou como Head Performance and Fitness Coach no FC Semey do Cazaquistão (2024). Foi Preparador Físico no Confiança (2023-2024) e Head of Performance and Health no Avaí (2022-2023). Também exerceu o cargo de Coordenador de Performance no Confiança (2022) e trabalhou como Fisiologista no CRB (2021-2022) e no próprio Confiança (2019-2021).

Possui Mestrado em Saúde e Educação Física pela Universidade Federal de Sergipe e Especialização em Desempenho Humano pela Universidade Tiradentes (Unit). Suas principais competências incluem preparação física, análise de desempenho, força, potência e velocidade no esporte.

Rafael Grazioli

Rafael Grazioli, natural de Canoas (RS), é formado em Educação Física pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), onde também concluiu mestrado e doutorado em Ciências do Movimento Humano.

Com nove anos de experiência atuando como coordenador científico e fisiologista no futebol profissional, ele passou as últimas três temporadas no Guarani de Campinas (SP) antes de ser anunciado pelo Criciúma em janeiro de 2025.