Um grupo de pesquisadores da Universidad de Cuenca, no Equador, realizou um estudo que investigou os efeitos de um programa de treinamento intervalado intensivo sobre a capacidade de repetir sprints em atletas juvenis de futebol. O artigo foi publicado na edição de fevereiro de 2025 da LATAM Revista Latinoamericana de Ciencias Sociales y Humanidades.
Objetivo e importância do estudo
A pesquisa teve como propósito avaliar se um programa de 12 semanas de treinamento intervalado de alta intensidade, baseado na periodização ATR (Acumulação, Transformação e Realização), poderia melhorar a Repeated Sprint Ability (RSA), ou seja, a capacidade de repetir sprints com curtos intervalos de descanso – uma exigência recorrente no futebol competitivo.
A relevância do estudo está no fato de ter sido realizado em uma cidade situada a 2560 metros de altitude, explorando os efeitos da hipoxia natural (baixa disponibilidade de oxigênio), algo pouco comum em estudos anteriores, principalmente com atletas juvenis.
Como o estudo foi realizado
Participaram 15 atletas da categoria sub-16 da “Academia River” de Cuenca. Eles realizaram um teste padronizado de RSA antes e depois da intervenção. Esse teste consistia em correr oito sprints consecutivos de 40 metros, com 30 segundos de recuperação ativa entre eles. O programa de treinamento foi inserido na rotina semanal dos atletas, com duas sessões específicas por semana, além de treinos técnico-táticos habituais.
O plano foi dividido em três fases:
- Acumulação: foco em resistência aeróbica e corridas a 80-85% da velocidade máxima.
- Transformação: introdução de sprints com ações técnicas e aumento gradual da intensidade (até 95%).
- Realização: sessões com sprints a 100% de intensidade, incluindo mudanças de direção e elementos técnicos de jogo.
Resultados e conclusões práticas
Os resultados demonstraram uma melhora estatisticamente significativa em todos os parâmetros avaliados da RSA. Entre os principais achados:
- O tempo médio dos sprints caiu de 6,28s para 5,98s.
- O índice de fadiga (Sdec) caiu de 8,58% para 4,98%, com efeito considerado alto.
- O pior tempo de sprint individual reduziu de 6,76s para 6,31s, o que indica melhora em condições de maior fadiga.
As maiores melhorias foram observadas nos tempos mais lentos (RSA Peor) e na resistência à fadiga (Sdec), o que sugere que o programa ajudou os jogadores a manterem o desempenho mesmo sob cansaço. Já os parâmetros como o melhor sprint (RSA Mejor) e o ideal (tempo ideal se todos os sprints fossem iguais ao melhor) mostraram mudanças menores, o que é esperado, já que não houve foco específico em potência máxima ou aceleração pura.
Essas mudanças podem ser explicadas por adaptações fisiológicas relacionadas ao treino intervalado de alta intensidade, como melhora na regeneração da fosfocreatina, regulação do lactato, aumento da eficiência mitocondrial e recrutamento de fibras musculares rápidas – especialmente potencializadas pelas condições de hipoxia da altitude.
Implicações para o futebol latino-americano
O estudo oferece suporte à adoção de treinamentos intervalados curtos e bem periodizados em regiões de altitude, especialmente para categorias de base. Em países como o Equador, onde os campeonatos alternam entre cidades a nível do mar e regiões montanhosas, essa abordagem pode representar uma vantagem competitiva significativa. Além disso, a metodologia pode ser útil para academias que têm períodos de competição curtos e definidos.
Os autores destacam a necessidade de novos estudos com amostras maiores e com grupos de controle para validar os achados. Ainda assim, os dados obtidos já contribuem para o desenvolvimento de estratégias de preparação física mais adaptadas ao contexto andino e às demandas atuais do futebol juvenil.
O artigo completo está disponível clicando aqui
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