O Talento no futebol é treinável?

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Foto de Jeffrey F Lin na Unsplash

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O que é talento no futebol? Primeiramente, palavra “talento” serve para classificar um indivíduo que demonstra um conjunto de aptidões para o desenvolvimento de uma atividade específica. No futebol usamos a expressão “jogador talentoso”, os quais são alvos dos scouts desde a base. Por vezes, o fator tempo não é devidamente respeitado, o que influencia diretamente na evolução do atleta.

Talento no futebol: Inato ou adquirido?

Até ao final do seculo XX, o talento era exclusivamente considerado inato. No entanto, a partir dessa época, registrou-se uma mudança de paradigma. Dessa forma, devido à intensificação dos estudos, começamos a perceber a lógica do desenvolvimento, do treino e do contexto ambiental. Sendo isso a base da evolução do talento, surgiu assim o fator “contexto”.

O contexto é onde ocorre a exposição da prática, sendo ele essencial para o desenvolvimento do desempenho do jogador. Assim, para explicar as diferenças intra-individuais no desempenho dos jogadores, o papel do contexto e a prática da atividade assume destaque, em detrimento das influências genéticas.

Segundo Coyle em seu livro publicado em 2012, a motivação é um consenso para o desenvolvimento do talento no futebol e em outras áreas. Ele cita que o talento começa em pequenos e poderosos encontros. Ou seja, estimulando a motivação e vinculando a nossa identidade a uma pessoa ou grupo de alto desempenho. Isto é chamado ignição, em outras palavras, um pequeno pensamento de mudança que ilumina o nosso inconsciente, dizendo: “eu poderia ser eles”.

Esta linha de pensamento foi decisiva na forma como se passou a perceber e conceber o talento, sendo as variáveis de mais destaque nesta temática:

  • Contexto (treino e prática);
  • Social (influência dos pais, situação econômica, treinadores, colegas…);
  • Psicológica (motivações).

Ao acreditar-se no talento inato põe-se em desconfiança o papel da aprendizagem, do treino e da capacidade transformadora, sendo elas capacitadoras dos jogadores.

Identificação de talento

O futebol é um meio muito competitivo. Portanto, a identificação de talento, principalmente numa fase precoce, torna-se uma vantagem competitiva para os clubes, tanto ao nível desportivo como financeiro. Dessa forma, permite que estes tenham, nos seus elencos, bons jogadores sem despender recursos financeiros na sua aquisição.

No entanto, o processo de identificação de talento é bastante subjetivo, pois os jogadores têm fases de maturação diferentes. Neste sentido, o autor Júlio Garganta em 2009 disse que, no processo de recrutamento e seleção, o foco dos scouts recai essencialmente nos jogadores com um rendimento acima da média ou, ainda, sobre aqueles que demonstram condições de evolução num processo de treino estruturado. Num estudo publicado em 2009 realizado com oito treinadores de formação da seleção nacional dinamarquesa, eles mencionaram que utilizam a sua intuição e experiência para identificar padrões nos jogadores. Sendo os dois fatores mencionados por Garganta como base para suas decisões.

No processo de treino, mesmo que um atleta tenha uma orientação adequada, oportunidades precoces e muito incentivo, o sucesso nem sempre estará garantido. Apesar de atrativa e apelativa, a ideia na qual a prática leva à perfeição não parece ser realista. Porém, as explicações em termos práticos são insuficientes, valorizando também as características hereditárias.

Outro fato importante é a predisposição genética do indivíduo que pode interferir no desempenho desportivo. Nem todas as crianças conseguem responder positivamente às oportunidades e incentivos.

O que aprendemos sobre talento no futebol

Portanto, desempenhos elevados não estão em uma fórmula mágica. Há muitas formas de chegar lá, sendo extremamente difícil associar os fatores em questão.

A excelência no esporte é o resultado da conjugação entre genética e o ambiente envolvente. Mesmo pressupondo que existem influências genéticas no alto desempenho, elas devem ser entendidas de forma probabilística para obtenção do sucesso, sendo necessárias condições ambientais apropriadas para que o indivíduo se destaque. Deste modo, concluímos que o talento é algo inato e adquirido, ou seja, todos os indivíduos têm essa capacidade. Porém, depende do aperfeiçoamento, do interesse do praticante, de uma boa capacidade de relacionamento interpessoal, adaptações a diferentes contextos e disciplina.

Confira abaixo um episódio do Podcast sobre o assunto:

Contato do autor

E-mail: diogorunafutebol@gmail.com
WhatsApp: +351 961082732

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Rodrigo Aquino

Rodrigo Aquino é professor na Universidade Federal do Espírito Santo, onde atua no Departamento de Desportos e como docente do Programa de Pós-Graduação em Educação Física (Mestrado e Doutorado).

É líder do Grupo de Estudos Pesquisa em Ciências no Futebol (GECIF/UFES) e coordenador do Programa Academia e Futebol (Núcleo UFES), financiado pelo Ministério do Esporte. Seu trabalho envolve a coordenação de projetos técnico-científicos em parceria com categorias de base e equipes profissionais de futebol no Brasil.

Rodrigo é graduado em Educação Física e Esporte pela USP, com especialização em Ciências do Desporto pela Universidade do Porto. Concluiu o mestrado e doutorado em Ciências também pela USP. Acumula experiência prática no futebol desde 2015 como fisiologista e preparador físico em clubes profissionais, além de atuar como treinador e coordenador técnico em categorias de base. Reconhecido academicamente, está entre os 10 cientistas do esporte mais produtivos da América Latina em publicações científicas relacionadas ao futebol.

Neto Pereira

Neto Pereira é um profissional de preparação física e performance esportiva com experiência em clubes do Brasil e do exterior. Atualmente é Preparador Físico no sub-20 do Vasco da Gama.

Trabalhou como Head Performance and Fitness Coach no FC Semey do Cazaquistão (2024). Foi Preparador Físico no Confiança (2023-2024) e Head of Performance and Health no Avaí (2022-2023). Também exerceu o cargo de Coordenador de Performance no Confiança (2022) e trabalhou como Fisiologista no CRB (2021-2022) e no próprio Confiança (2019-2021).

Possui Mestrado em Saúde e Educação Física pela Universidade Federal de Sergipe e Especialização em Desempenho Humano pela Universidade Tiradentes (Unit). Suas principais competências incluem preparação física, análise de desempenho, força, potência e velocidade no esporte.

Rafael Grazioli

Rafael Grazioli, natural de Canoas (RS), é formado em Educação Física pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), onde também concluiu mestrado e doutorado em Ciências do Movimento Humano.

Com nove anos de experiência atuando como coordenador científico e fisiologista no futebol profissional, ele passou as últimas três temporadas no Guarani de Campinas (SP) antes de ser anunciado pelo Criciúma em janeiro de 2025.