Identificação de talentos nas peneiras

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Imagem de Josh Dick por Pixabay

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Você se lembra que formar atletas é uma das funções do treinador de futebol? Devido a isso, é necessário primeiramente selecionar e captar os indivíduos que agregarão a sua equipe. Este procedimento também pode ser exercido por um analista de desempenho ou olheiro. Assim, quanto mais profissionais qualificados neste processo, mais a avaliação será fidedigna. Porém, em muitos casos não são aplicados indicadores para a identificação de talentos no futebol. Daí entra o problema das avaliações com base em visões subjetivas.

Posto isto, vale destacar qual dos significados considerarei para “talento” ao decorrer do texto. Em razão de que, na literatura existem inúmeras definições para a talento, porém, não há verdades. Assim, o professor Próspero Paoli afirma que, o jogador talentoso é aquele que possui capacidades acima da média. Além de considerar também as condições que o meio oferece.

Dado que o desempenho depende de vários aspectos, sejam emocionais, cognitivos, técnicos, táticos, contextuais etc, é sabido que a vertente física também é determinante para um bom desempenho no futebol. Apesar disso, analisar somente o biotipo físico ou a quantidade de gols que o indivíduo realiza, demonstra uma interpretação equivocada.

Então antes de mais nada, cabe aos avaliadores diminuírem a margem de erro nos processos seletivos ao não avaliar o atleta de forma reducionista.

As desvantagens na seleção de talentos

Para muitos jovens brasileiros, a porta de entrada para as categorias de base são as peneiras. Regularmente, esta seletiva é avaliada pelos treinadores de futebol da instituição, a fim de selecionar os atletas que se sobressaem. Dessa forma, não é a minha responsabilidade mostrá-los como se deve fazer um processo seletivo. Já que, a operacionalização e os indicadores de avaliação diferem de clube para clube. Contudo, o meu dever é apresentar métodos através da ciência para que os erros sejam minimizados. Afinal, podemos estar subestimando algum talento.

Nas peneiras, verifica-se comumente a separação dos atletas em idade cronológica. Porém, a ciência do esporte traz que, tal segregação potencializa os cenários de desvantagens físicas e cognitivas. Diante disso, favorece o conceito presente na literatura intitulado como o efeito da idade relativa. Ou seja, os pesquisadores afirmam que no processo de seleção, os clubes acreditam ser mais vantajoso selecionar atletas nascidos nos primeiros meses do ano em relação aos nascidos nos últimos meses. Justamente pelo fato do indivíduo amadurecer mais precocemente.

Sendo assim, convém ressaltar que a variabilidade biológica se mostra exposta dentro de um grupo com a mesma idade cronológica. Portanto, é mais vantajoso você captar jogadores maturados ou aqueles que evidenciam alta capacidade de adaptação? Quem evoluirá mais ao decorrer das categorias de base?

Aspectos psicológicos na identificação de talentos no futebol

De forma simples, os avaliadores, em peneiras ou processos de seleção, raramente analisam os fatores psicológicos do atleta, por exemplo: liderança, união, ansiedade, entre outros. Assim, se justifica que a necessidade de uma equipe interdisciplinar é primordial nessas situações. Além disso, as seletivas de futebol costumam durar cerca de 1-2 dias, originando-se mais pressão no jovem.

Oportunidade e caminhos para seleção de atletas

Na intervenção das peneiras, haveria a possibilidade de separar os indivíduos em ordem biológica. Para isso, um jogador de 15 anos que não atingiu o seu estado maturacional, poderia jogar com jovens de 13 e 14 anos. Consequentemente, um jovem de 13 anos mais maturado, conseguiria competir com jogadores do perfil físico semelhante.

Caso não haja tempo para a divisão supramencionada, vale salientar um estudo realizado com alguns olheiros do clube PSV Eindhoven. Para o fácil acesso à idade dos jogadores, os pesquisadores separaram a idade cronológica utilizando os números dos coletes em ordem crescente. Logo, foi minimizado o efeito da idade relativa, pois a informação da idade foi transmitida adequadamente.

Já em relação aos fatores psicológicos, uma alternativa seria trazer os jovens das peneiras junto à equipe durante 2 semanas. Evidentemente não seriam todos de forma simultânea, mas sim havendo uma alternância entre os inscritos. Deste modo, os treinadores de futebol ofereceriam mais estabilidade emocional para os atletas. Como efeito, reduziria a pressão imposta pelo curto prazo do processo seletivo.

Tais medidas são importantes para promover uma captação de talentos mais justa e precisa. Por isso, é imprescindível que o treinador de futebol apresente uma visão mais pormenorizada. Bem como, sempre dialogar com as ciências do esporte, conseguindo contribuir para a melhor qualidade destes julgamentos. Afinal, o nosso capitão do penta participou de 9 peneiras.

Essas seletivas apresentaram muitos erros ou Cafu não tinha talento?

Links Relacionados

O processo avaliativo para captação de atletas de futebol nas categorias de base dos clubes profissionais do Rio Grande do Sul

U.S. Soccer Launches Bio-Banding Initiative Aimed At Developing Late-Blooming Prodigies

Instagram: g_tadashi

Confira um episódio do Podcast Ciência da Bola que fala sobre o assunto:

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Rodrigo Aquino

Rodrigo Aquino é professor na Universidade Federal do Espírito Santo, onde atua no Departamento de Desportos e como docente do Programa de Pós-Graduação em Educação Física (Mestrado e Doutorado).

É líder do Grupo de Estudos Pesquisa em Ciências no Futebol (GECIF/UFES) e coordenador do Programa Academia e Futebol (Núcleo UFES), financiado pelo Ministério do Esporte. Seu trabalho envolve a coordenação de projetos técnico-científicos em parceria com categorias de base e equipes profissionais de futebol no Brasil.

Rodrigo é graduado em Educação Física e Esporte pela USP, com especialização em Ciências do Desporto pela Universidade do Porto. Concluiu o mestrado e doutorado em Ciências também pela USP. Acumula experiência prática no futebol desde 2015 como fisiologista e preparador físico em clubes profissionais, além de atuar como treinador e coordenador técnico em categorias de base. Reconhecido academicamente, está entre os 10 cientistas do esporte mais produtivos da América Latina em publicações científicas relacionadas ao futebol.

Neto Pereira

Neto Pereira é um profissional de preparação física e performance esportiva com experiência em clubes do Brasil e do exterior. Atualmente é Preparador Físico no sub-20 do Vasco da Gama.

Trabalhou como Head Performance and Fitness Coach no FC Semey do Cazaquistão (2024). Foi Preparador Físico no Confiança (2023-2024) e Head of Performance and Health no Avaí (2022-2023). Também exerceu o cargo de Coordenador de Performance no Confiança (2022) e trabalhou como Fisiologista no CRB (2021-2022) e no próprio Confiança (2019-2021).

Possui Mestrado em Saúde e Educação Física pela Universidade Federal de Sergipe e Especialização em Desempenho Humano pela Universidade Tiradentes (Unit). Suas principais competências incluem preparação física, análise de desempenho, força, potência e velocidade no esporte.

Rafael Grazioli

Rafael Grazioli, natural de Canoas (RS), é formado em Educação Física pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), onde também concluiu mestrado e doutorado em Ciências do Movimento Humano.

Com nove anos de experiência atuando como coordenador científico e fisiologista no futebol profissional, ele passou as últimas três temporadas no Guarani de Campinas (SP) antes de ser anunciado pelo Criciúma em janeiro de 2025.