O que é Natureza Fractal na Periodização Tática?

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Foto de Ralph (Ravi) Kayden na Unsplash

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No texto anterior sobre Periodização Tática, explicamos sobre os principais conceitos e princípios que regem esta metodologia. Agora, abordaremos neste artigo os conceitos de natureza fractal e teoria do caos na Periodização Tática.

Geometria fractal e a Teoria do Caos

Então, de forma bem resumida, a geometria tradicional, aquela que conhecemos nos tempos de Escola, não conseguia descrever várias das formas vistas na natureza, devido às suas irregularidades. Notando isto, o Matemático Benoit B. Mandelbrot desenvolveu o conceito de fractal, visando “[…] descrever e analisar a irregularidade estruturada do mundo real”.

Em seu livro Mandelbrot diz:

“Nuvens não são esferas, montanhas não são cones e os raios não viajam em linha reta. A complexidade das formas da natureza difere em tipo, não apenas em grau, daquela das formas da geometria comum, a geometria das formas fractais”.

Mas o que isso tem a ver com a Teoria do Caos?

A princípio, apenas para contextualizar, de forma bem sucinta: a Teoria do Caos fala sobre o quanto alguns eventos podem ser suscetíveis às condições iniciais. Ou seja, algo à primeira vista sem relevância pode influenciar muito no médio ou longo prazo. Dito isto, para quem se interessa pelo tema, recomendo o filme “Efeito Borboleta”.

Bom, agora para responder a pergunta, iniciaremos a partir de um trecho publicado por Batanete e Castro que diz que “a teoria do caos não é uma teoria de desordem, mas busca no aparente acaso uma ordem intrínseca determinada por leis precisas”.

Pois bem, uma figura fractal nos apresenta algo extremamente complexo, mas que segue um padrão em sua forma, onde, olhando para suas partes conseguimos enxergar o todo. Ou seja, dá uma forma a algo caótico, que a princípio parecia pura desordem e de extrema aleatoriedade, mas no fim conseguimos notar um padrão, onde sua parte é idêntica ao todo. Notou a sua ligação com a Teoria do Caos? Como citamos, a Teoria do Caos busca no aparente acaso uma ordem intrínseca, algo apresentado em figuras fractais.

Como é uma figura fractal?

De antemão, vamos citar o trecho da Tese de Doutorado do Prof. Rodrigo Leitão, temos que:

“[…] em uma figura fractal, qualquer mínimo pedaço seu, será em forma e conteúdo, a expressão idêntica de sua figura maior (o todo) a qual está contida, ou de um pedaço menor (o qual está contido nele). […] A ideia marcante de que, em uma figura fractal, um pequeno pedaço contém o todo, vai ao encontro das teorias da complexidade e permite que se enxerguem fenômenos diversos, em sua totalidade. ”

Agora, repare na imagem a seguir:

Note como a estrutura se mantém similar, tanto na forma fragmentada como no todo. Isto quer dizer que o micro sempre se parecerá com o macro. E podemos levar isto para o futebol.

Geometria fractal e a Periodização Tática

Reduzir sem empobrecer, este é um dos lemas da Periodização Tática. Então, isso quer dizer que o treino precisa ser um fractal do jogo, ou seja, ao se observar o treino é possível ver a manifestação de acontecimentos do jogo. Claro, ao falar de jogo, queremos falar da forma com que a equipe em questão atua, quais são as suas ideias ao jogar. E estas ideias que constroem seu jogo devem ser expressas em todos os momentos do treino.

Sendo assim, quando criamos um treino, devemos ter em cada mini jogo uma representatividade do jogo. Não faria sentido fazermos um treino que não representasse o que ocorrerá na partida em questão. Portanto, quanto mais aproximarmos nossos jogadores no treino do que realmente acontecerá no jogo, mais bem preparados eles estarão para este grande momento do futebol.

Por fim, para concluir, apresentamos o trecho da dissertação de Julian B. Tobar:

“Daí a importância de que em todos os treinos, a dimensão fractal do jogar esteja presente, em maior ou menor escala, mas deverá estar sempre se reportando ao jogar, às intenções prévias pretendidas.”

Contato dos Autores

Chrístopher Kilpp Suhre
Instagram: @Christopher_Suhre
Roberto Augusto Lazzarotto Pereira
Instagram: @ralazzarottop

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Rodrigo Aquino

Rodrigo Aquino é professor na Universidade Federal do Espírito Santo, onde atua no Departamento de Desportos e como docente do Programa de Pós-Graduação em Educação Física (Mestrado e Doutorado).

É líder do Grupo de Estudos Pesquisa em Ciências no Futebol (GECIF/UFES) e coordenador do Programa Academia e Futebol (Núcleo UFES), financiado pelo Ministério do Esporte. Seu trabalho envolve a coordenação de projetos técnico-científicos em parceria com categorias de base e equipes profissionais de futebol no Brasil.

Rodrigo é graduado em Educação Física e Esporte pela USP, com especialização em Ciências do Desporto pela Universidade do Porto. Concluiu o mestrado e doutorado em Ciências também pela USP. Acumula experiência prática no futebol desde 2015 como fisiologista e preparador físico em clubes profissionais, além de atuar como treinador e coordenador técnico em categorias de base. Reconhecido academicamente, está entre os 10 cientistas do esporte mais produtivos da América Latina em publicações científicas relacionadas ao futebol.

Neto Pereira

Neto Pereira é um profissional de preparação física e performance esportiva com experiência em clubes do Brasil e do exterior. Atualmente é Preparador Físico no sub-20 do Vasco da Gama.

Trabalhou como Head Performance and Fitness Coach no FC Semey do Cazaquistão (2024). Foi Preparador Físico no Confiança (2023-2024) e Head of Performance and Health no Avaí (2022-2023). Também exerceu o cargo de Coordenador de Performance no Confiança (2022) e trabalhou como Fisiologista no CRB (2021-2022) e no próprio Confiança (2019-2021).

Possui Mestrado em Saúde e Educação Física pela Universidade Federal de Sergipe e Especialização em Desempenho Humano pela Universidade Tiradentes (Unit). Suas principais competências incluem preparação física, análise de desempenho, força, potência e velocidade no esporte.

Rafael Grazioli

Rafael Grazioli, natural de Canoas (RS), é formado em Educação Física pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), onde também concluiu mestrado e doutorado em Ciências do Movimento Humano.

Com nove anos de experiência atuando como coordenador científico e fisiologista no futebol profissional, ele passou as últimas três temporadas no Guarani de Campinas (SP) antes de ser anunciado pelo Criciúma em janeiro de 2025.