Como prevenir as lesões dos adutores em jogadores de futebol?

Data:

Foto por Jeffrey F Lin na Unsplash

Compartilhe:

Ao longo dos últimos meses, aqui no Blog do Ciência da Bola, exibimos uma visão mais prática sobre a temática das lesões musculares no futebol. Assim, apresentamos nos textos até aqui produzidos, estudos científicos que mostram os principais exercícios utilizados na atualidade para prevenir e reabilitar lesões nos isquiotibiais e quadríceps. Dessa forma, seguiremos nessa proposta com estudos relacionados a exercícios preventivos no futebol para lesões dos músculos adutores.

Como mencionamos no texto anterior, não apontaremos uma resposta definitiva sobre o assunto, mas sim, fazê-los refletir e criar ainda mais questionamentos a respeito desse assunto. Então vamos ao texto!

Quais são os músculos adutores do quadril?

Os adutores do quadril (Figura 1 e 2) são um conjunto de músculos na região da coxa, formados pelo: pectíneo, grácil, adutor curto, adutor longo e adutor magno. É válido ressaltar que o adutor mínimo é parte do adutor magno, não sendo considerado o sexto músculo adutor do quadril.

Em jogadores de futebol, 35% das lesões na virilha ocorrem na musculatura dos adutores, sendo que 29% das lesões são de reincidência. Dentre os músculos dessa região, o músculo adutor longo foi considerado o que apresenta lesões com maior frequência. Isto é, 62% das lesões nesse grupo muscular ocorre, especificamente, nesse músculo.

Os adutores são muito estressados durante corridas de alta intensidade, intensas mudanças de direção com acelerações/desacelerações e, principalmente, durante os chutes. Lesões na virilha relacionadas aos adutores são o segundo tipo de lesão muscular mais comum no futebol. Além disso, também é a lesão mais comum na região do quadril / virilha, constituindo 63% de todas as lesões nesta região.

Figura 1. Músculos adutores da coxa em destaque, retirado do atlas de anatomia humana.
Figura 2. Músculos adutores da coxa em destaque, retirado do atlas de anatomia humana.

Como acontecem as lesões dos adutores?

As lesões nos adutores são causadas em razão do que chamamos de mecanismos estressores da região dos adutores do quadril. Conforme citado anteriormente, as corridas em alta intensidade, as mudanças de direção e os chutes são mecanismos estressores da região do quadril e, consequentemente, responsáveis pelas lesões.

Porém, existem outros fatores, por exemplo:

  • Relação de força menor a 90% entre adutores e abdutores;
  • ‘Deficit’ de força na região dos adutores, maior a 10% na comparação das extremidades inferiores, principalmente para jogadores em fase de reabilitação.
  • Redução da força de adução do quadril (força isométrica, excêntrica e isocinética);
  • Jogadores com um histórico lesivo nesse grupo muscular.

Desta maneira, até este ponto podemos perceber que um programa de prevenção de lesões deve incluir testes para verificar a relação de força de adução-abdução do quadril, e verificar os índices de força isométrica, concêntrica e excêntrica. Além disso, devemos incluir também exercícios para o fortalecimento dessa região, de modo a diminuir o estresse na unidade músculo-tendão adutora para evitar lesão por uso excessivo dessa musculatura.

Quais exercícios são indicados para prevenir/reabilitar lesões dos adutores?

Muitas vezes quando trabalhamos na readaptação de jogadores de futebol ou estamos montando um programa de trabalho preventivo de lesões em geral, nos perguntamos: qual é o melhor exercício que selecionaremos conforme a necessidade do atleta? Qual o mais indicado para alguém em fase inicial de recuperação? E em fase avançada? Ou para um programa preventivo com um jogador iniciante?

Portanto, para responder a essas e outras possíveis questões, apresentamos o estudo realizado pelo professor Serner da Universidade de Copenhagen. O estudo investigou a atividade muscular do adutor longo em oito exercícios de adução de quadril (6 tradicionais e 2 novos) (Figura 3); e analisou a ativação muscular de glúteos e abdominais.

Figura 3. Oito exercícios analisados no estudo proposto, adaptado de Serner (2013).

Resultados principais do estudo:

  1. O exercício isométrico com uma bola entre os joelhos (b) e o exercício Copenhagen (h) tiveram maior ativação na perna dominante para o músculo adutor longo, classificados como mais intensos;
  2. Por outro lado, a assimetria na ativação entre perna dominante (chute) e não dominante apresentada nos exercícios “c”, “e” e “h”, poderá ajudar na seleção de exercícios quando se desejar uma carga de treino diferenciada entre pernas;
  3. Por fim, os exercícios que apresentaram valores eletromiográficos similares para ativação do músculo adutor longo na perna dominante (chute) e não-dominante foram os exercícios “b”, “f” e “g”. Em suma, o exercício “b” apresentou uma similaridade alta (108 / 102), o exercício “f” apresentou uma similaridade intermediária (99 / 95) e o exercício “g” apresentou uma similaridade baixa (14 / 15). Dessa forma, interpretamos esses resultados e entendemos que quando não houver uma assimetria entre os membros inferiores e se tratar de um indivíduo iniciante ou que está passando por um trabalho de reabilitação, dependendo do estágio em que se encontre, poderemos utilizar esses três exercícios, realizando uma progressão.

O que aprendemos sobre lesões de adutores?

Em resumo até aqui, percebemos que diferentes exercícios possuem diferentes formas de ativação do músculo adutor longo; e diferentes formas de ativação entre a perna dominante (chute) e não-dominante. Essa informação tem relevância para o momento da escolha dos exercícios, levando em conta o momento em que se encontra o jogador e qual o objetivo a ser alcançado com o plano de treinamento. Porém, compreendendo que a variabilidade de exercícios possa ser a forma completa para prevenir e/ou reabilitar um jogador.

Assim, esse entendimento da variabilidade dos exercícios tem o apoio do estudo proposto pelo pesquisador Hölmich, o qual apontou uma redução no risco de lesão de 31%. Ainda sobre essa linha de raciocínio, o material de 2018 do Barça Guideline sugere que um programa de exercícios preventivos deve ser multidimensional. Ou seja, deve incluir não apenas exercícios direcionados ao músculo específico, como o caso do exercício Copenhagen (específico para adutores), mas também atividades específicas da modalidade e exercícios de condicionamento de desempenho.

Portanto, fica evidente que, assim como ocorre com a musculatura isquiotibial e na musculatura do quadríceps, não existe um padrão ouro de exercícios que evite totalmente o risco de lesões dos adutores. O caminho nesse caso é elaborar um plano de trabalho com variabilidade de exercícios, onde eles não sejam apenas específicos da musculatura em questão. Mas também com outros exercícios específicos da modalidade que ajudem na melhora da aptidão física geral e no fortalecimento de músculos secundários. Para assim evitar o aumento no risco de lesões dos adutores do quadril.

Para receber conteúdos como esse em seu e-mail, participe da nossa Newsletter.

Fontes e Referências

Eccentric strengthening effect of hip-adductor training with elastic bands in soccer players: a randomised controlled trial.

EMG evaluation of hip adduction exercises for soccer players: implications for exercise selection in prevention and treatment of groin injuries.

Contato do autor:
Instagram @pf_ricardosa
E-mail: ricardosa2506@gmail.com

Confira abaixo um episódio do Podcast sobre o assunto:

spot_img
spot_img

Posts Relacionados

Quais os critérios utilizados por treinadores da base no processo de seleção de jovens no Futebol?

Uma pesquisa recente investigou os fatores que influenciam a seleção de jovens jogadores de futebol. O estudo foi...

Os dados de GPS devem ser normalizados para monitoramento de desempenho e fadiga no futebol?

Um novo estudo publicado na revista German Journal of Exercise and Sport Research em junho de 2025 questiona a...

O que influencia a velocidade máxima nas partidas ao longo de uma temporada no Futebol?

Um estudo recente analisou a velocidade máxima atingida por jogadores de futebol durante as partidas, levando em consideração...

Tratamentos para dor crônica em jogadores de Futebol

Um estudo em formato de revisão integrativa analisou a eficácia de tratamentos farmacológicos e não farmacológicos na gestão...

João Bonfatti

João Bonfatti atualmente trabalha como Coordenador do setor de Análise de Desempenho no América-MG. Antes disso, teve passagens pelo Vasco da Gama, onde atuou em diferentes categorias: foi auxiliar técnico do Sub-20, treinador interino do Sub-17 e auxiliar técnico do Sub-17.

Atuou também pelo Atlético-MG, onde desempenhou o papel de auxiliar técnico do Sub-15. No Corinthians, auxiliar técnico do Sub-14, além de exercer a função de supervisor metodológico.

Sua formação inclui o Bacharelado em Futebol pela Universidade Federal de Viçosa e a Licença B da CBF Academy, o que reforça sua base teórica e prática no desenvolvimento de atletas.

Felipe Bonholi

Felipe Bonholi integra a equipe do Palmeiras como Analista de Desempenho no Centro de Formação de Atletas (CFA), contribuindo para o desenvolvimento e acompanhamento de jovens talentos.

Antes disso, acumulou cinco anos de experiência na Ferroviária, onde atuou como Analista de Desempenho da equipe profissional, e no São Carlos Futebol Clube na mesma função.

Sua formação acadêmica inclui Bacharelado em Administração de Empresas pela UNIARA (2014–2017) e graduação em andamento em Educação Física pela mesma instituição, iniciada em 2019.

Com sólida base teórica e ampla experiência prática, Felipe Bonholi se destaca por sua capacidade de integrar análise técnica, gestão e visão estratégica no contexto esportivo, contribuindo para o desempenho e evolução de atletas e equipes.

Mylena Baransk

Mylena Baransk é doutora em Educação Física pela Universidade Federal do Paraná e mestre em Ciências da Saúde pela Universidade Estadual de Ponta Grossa, onde também concluiu sua graduação em Educação Física – Bacharelado. Especialista em futsal com foco em análise de desempenho, atuou como docente em cursos do ensino superior e analista de desempenho no futebol.

Atualmente, exerce a função de analista de desempenho no Clube Atlético Mineiro, onde trabalha desde agosto de 2024. Antes disso, desempenhou a mesma função na Associação Ferroviária de Esportes entre março e agosto de 2024, atuando em Araraquara, São Paulo.

Além da atuação em clubes, possui experiência acadêmica como docente, tendo lecionado na UniCesumar entre julho e outubro de 2023, em Curitiba, Paraná. Também foi professora na UNIFATEB, onde atuou por quase três anos, de fevereiro de 2021 a outubro de 2023, em Telêmaco Borba, Paraná.

Com forte presença na área de análise de desempenho no futebol, também é CEO da Statisticsfut, onde se dedica ao desenvolvimento de conteúdos e estratégias voltadas à análise estatística e desempenho esportivo.

Nathália Arnosti

Nathália Arnosti é uma profissional de destaque na área de Fisiologia do Esporte e Preparação Física, com sólida formação acadêmica e ampla experiência no futebol brasileiro.

Bacharel e mestre em Educação Física pela Universidade Metodista de Piracicaba e doutora pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), ela construiu uma carreira marcada pela integração entre ciência e prática esportiva.

No cenário dos clubes, já contribuiu com equipes como Athletico Paranaense, Red Bull Bragantino, Palmeiras, Audax, Ferroviária e Ponte Preta. Em janeiro de 2024, assumiu o cargo de fisiologista do Cruzeiro, reforçando seu papel como referência no acompanhamento e otimização do desempenho esportivo.

Rodrigo Aquino

Rodrigo Aquino é professor na Universidade Federal do Espírito Santo, onde atua no Departamento de Desportos e como docente do Programa de Pós-Graduação em Educação Física (Mestrado e Doutorado).

É líder do Grupo de Estudos Pesquisa em Ciências no Futebol (GECIF/UFES) e coordenador do Programa Academia e Futebol (Núcleo UFES), financiado pelo Ministério do Esporte. Seu trabalho envolve a coordenação de projetos técnico-científicos em parceria com categorias de base e equipes profissionais de futebol no Brasil.

Rodrigo é graduado em Educação Física e Esporte pela USP, com especialização em Ciências do Desporto pela Universidade do Porto. Concluiu o mestrado e doutorado em Ciências também pela USP. Acumula experiência prática no futebol desde 2015 como fisiologista e preparador físico em clubes profissionais, além de atuar como treinador e coordenador técnico em categorias de base. Reconhecido academicamente, está entre os 10 cientistas do esporte mais produtivos da América Latina em publicações científicas relacionadas ao futebol.

Neto Pereira

Neto Pereira é um profissional de preparação física e performance esportiva com experiência em clubes do Brasil e do exterior. Atualmente é Preparador Físico no sub-20 do Vasco da Gama.

Trabalhou como Head Performance and Fitness Coach no FC Semey do Cazaquistão (2024). Foi Preparador Físico no Confiança (2023-2024) e Head of Performance and Health no Avaí (2022-2023). Também exerceu o cargo de Coordenador de Performance no Confiança (2022) e trabalhou como Fisiologista no CRB (2021-2022) e no próprio Confiança (2019-2021).

Possui Mestrado em Saúde e Educação Física pela Universidade Federal de Sergipe e Especialização em Desempenho Humano pela Universidade Tiradentes (Unit). Suas principais competências incluem preparação física, análise de desempenho, força, potência e velocidade no esporte.

Rafael Grazioli

Rafael Grazioli, natural de Canoas (RS), é formado em Educação Física pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), onde também concluiu mestrado e doutorado em Ciências do Movimento Humano.

Com nove anos de experiência atuando como coordenador científico e fisiologista no futebol profissional, ele passou as últimas três temporadas no Guarani de Campinas (SP) antes de ser anunciado pelo Criciúma em janeiro de 2025.