Estilos de ataque das equipes determinam deslocamentos dos árbitros no Futebol

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Foto: Reprodução/Redes Sociais

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Um novo estudo revelou que o estilo de jogo das equipes tem impacto significativo no desempenho físico dos árbitros de futebol. A pesquisa, analisou 41 jogos profissionais e descobriu que os contra-ataques exigem que os árbitros percorram distâncias maiores em alta intensidade, comparado a outras formas de ataque.

O artigo científico foi publicado na revista Retos por Paulo Sandi e outros colaboradores do NUPEDEFF (Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento em Futebol e Futsal), que é liderado pelo professor e pesquisador Juliano Fernandes na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

O artigo intitulado “The attacking style of teams is determinant of high-intensity actions of soccer referees“, teve a participação de 20 árbitros de campo e 36 assistentes, e utilizou tecnologia de análise de movimento para rastrear os deslocamentos dos árbitros durante as partidas.

Para entender melhor sobre o estudo, no último Ciência da Bola Lab recebemos o Professor Juliano Fernandes, que falou sobre os objetivos de realizar este artigo. Segundo Juliano, a pesquisa surgiu da necessidade prática de entender as dificuldades dos árbitros catarinenses em campo.

“Apesar de bem condicionados fisicamente, muitos árbitros tinham dificuldades de se posicionar estrategicamente em lances de área, resultando em colisões com jogadores ou a bola, impactando o ritmo do jogo.”

https://youtu.be/S7IFOjRMn00?si=vpYsiF3xX4DnYvo9

Quais foram os principais resultados?

Os resultados apontaram que contra-ataques são o principal gatilho para ações de alta intensidade dos árbitros. Em média, 60% das ações de alta intensidade dos árbitros e 50% dos assistentes são motivadas por contra-ataques, evidenciando a necessidade de aprimorar a leitura de deslocamento em situações rápidas e imprevisíveis.

Os pesquisadores observaram que, durante os contra-ataques, os árbitros precisavam cobrir distâncias significativamente maiores em alta intensidade em comparação com outras formas de ataque, como ataque posicional e ataque rápido.

Essa descoberta ressalta a importância de treinamentos específicos para árbitros que simulem situações reais de jogo, com ênfase em ações de alta intensidade repetidas ou isoladas e tomada de decisão rápida sob fadiga.

“Isso era esperado, pois os contra-ataques são caracterizados por transições rápidas, com jogadores realizando ações explosivas e buscando aproveitar o desequilíbrio defensivo, o que nos surpreendeu é o quanto isso representa das ações de alta intensidade, que no nosso estudo ficou em 60% para os árbitros” explicou Juliano.

Fonte: Gráfico apresentado no artigo

 

 

 

 

 

 

 

 

Fatores como placar e local da partida também influenciam

A pesquisa também revelou que o placar da partida influencia o desempenho físico dos árbitros. Jogos que terminaram empatados ou com diferença de um gol exigiram maior desgaste físico dos árbitros de campo, sugerindo que placares apertados demandam maior atenção e movimentação.

O estudo também revelou que jogos com equipes visitantes vitoriosas tendem a apresentar maior intensidade. Isso pode ser explicado pela necessidade das equipes da casa de buscar o resultado, intensificando a disputa e exigindo maior performance dos árbitros.

O impacto do estudo na arbitragem no Futebol

A análise de desempenho dos árbitros, porém, ainda é incipiente. Juliano destacou que a análise tradicional se concentrava em lances específicos, sem considerar o deslocamento e a estratégia do árbitro durante a partida. Atualmente, a Federação Catarinense está implementando análises mais abrangentes, incluindo o deslocamento dos árbitros, mas ainda há um longo caminho a percorrer.

Juliano defende que a formação de árbitros deve incluir uma compreensão profunda das táticas e estratégias das equipes. Isso permitirá que os árbitros se antecipem às jogadas, se posicionem de forma estratégica e tomem decisões mais assertivas.

Avanços do estudo

O estudo abre novas perspectivas para a evolução da arbitragem no Brasil. A compreensão de como o estilo de jogo impacta a performance dos árbitros é fundamental para o desenvolvimento de treinamentos mais eficientes e para a formação de árbitros mais completos.

Os pesquisadores pretendem expandir a pesquisa para incluir árbitros de competições nacionais e internacionais, além de analisar o impacto de ações defensivas no desempenho da arbitragem.

“É fundamental aprofundar o conhecimento sobre as demandas físicas e cognitivas da arbitragem para garantir a saúde e o bem-estar dos árbitros, além de aprimorar a qualidade da arbitragem em jogos de futebol”, concluiu Juliano Fernandes.

Para ter acesso ao estudo completo, clique aqui

Abaixo você pode conferir na íntegra a conversa no Ciência da Bola Lab com Juliano Fernandes:

https://www.youtube.com/watch?v=tT0zlcW7vEk&t=25s
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João Bonfatti

João Bonfatti atualmente trabalha como Coordenador do setor de Análise de Desempenho no América-MG. Antes disso, teve passagens pelo Vasco da Gama, onde atuou em diferentes categorias: foi auxiliar técnico do Sub-20, treinador interino do Sub-17 e auxiliar técnico do Sub-17.

Atuou também pelo Atlético-MG, onde desempenhou o papel de auxiliar técnico do Sub-15. No Corinthians, auxiliar técnico do Sub-14, além de exercer a função de supervisor metodológico.

Sua formação inclui o Bacharelado em Futebol pela Universidade Federal de Viçosa e a Licença B da CBF Academy, o que reforça sua base teórica e prática no desenvolvimento de atletas.

Felipe Bonholi

Felipe Bonholi integra a equipe do Palmeiras como Analista de Desempenho no Centro de Formação de Atletas (CFA), contribuindo para o desenvolvimento e acompanhamento de jovens talentos.

Antes disso, acumulou cinco anos de experiência na Ferroviária, onde atuou como Analista de Desempenho da equipe profissional, e no São Carlos Futebol Clube na mesma função.

Sua formação acadêmica inclui Bacharelado em Administração de Empresas pela UNIARA (2014–2017) e graduação em andamento em Educação Física pela mesma instituição, iniciada em 2019.

Com sólida base teórica e ampla experiência prática, Felipe Bonholi se destaca por sua capacidade de integrar análise técnica, gestão e visão estratégica no contexto esportivo, contribuindo para o desempenho e evolução de atletas e equipes.

Mylena Baransk

Mylena Baransk é doutora em Educação Física pela Universidade Federal do Paraná e mestre em Ciências da Saúde pela Universidade Estadual de Ponta Grossa, onde também concluiu sua graduação em Educação Física – Bacharelado. Especialista em futsal com foco em análise de desempenho, atuou como docente em cursos do ensino superior e analista de desempenho no futebol.

Atualmente, exerce a função de analista de desempenho no Clube Atlético Mineiro, onde trabalha desde agosto de 2024. Antes disso, desempenhou a mesma função na Associação Ferroviária de Esportes entre março e agosto de 2024, atuando em Araraquara, São Paulo.

Além da atuação em clubes, possui experiência acadêmica como docente, tendo lecionado na UniCesumar entre julho e outubro de 2023, em Curitiba, Paraná. Também foi professora na UNIFATEB, onde atuou por quase três anos, de fevereiro de 2021 a outubro de 2023, em Telêmaco Borba, Paraná.

Com forte presença na área de análise de desempenho no futebol, também é CEO da Statisticsfut, onde se dedica ao desenvolvimento de conteúdos e estratégias voltadas à análise estatística e desempenho esportivo.

Nathália Arnosti

Nathália Arnosti é uma profissional de destaque na área de Fisiologia do Esporte e Preparação Física, com sólida formação acadêmica e ampla experiência no futebol brasileiro.

Bacharel e mestre em Educação Física pela Universidade Metodista de Piracicaba e doutora pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), ela construiu uma carreira marcada pela integração entre ciência e prática esportiva.

No cenário dos clubes, já contribuiu com equipes como Athletico Paranaense, Red Bull Bragantino, Palmeiras, Audax, Ferroviária e Ponte Preta. Em janeiro de 2024, assumiu o cargo de fisiologista do Cruzeiro, reforçando seu papel como referência no acompanhamento e otimização do desempenho esportivo.

Rodrigo Aquino

Rodrigo Aquino é professor na Universidade Federal do Espírito Santo, onde atua no Departamento de Desportos e como docente do Programa de Pós-Graduação em Educação Física (Mestrado e Doutorado).

É líder do Grupo de Estudos Pesquisa em Ciências no Futebol (GECIF/UFES) e coordenador do Programa Academia e Futebol (Núcleo UFES), financiado pelo Ministério do Esporte. Seu trabalho envolve a coordenação de projetos técnico-científicos em parceria com categorias de base e equipes profissionais de futebol no Brasil.

Rodrigo é graduado em Educação Física e Esporte pela USP, com especialização em Ciências do Desporto pela Universidade do Porto. Concluiu o mestrado e doutorado em Ciências também pela USP. Acumula experiência prática no futebol desde 2015 como fisiologista e preparador físico em clubes profissionais, além de atuar como treinador e coordenador técnico em categorias de base. Reconhecido academicamente, está entre os 10 cientistas do esporte mais produtivos da América Latina em publicações científicas relacionadas ao futebol.

Neto Pereira

Neto Pereira é um profissional de preparação física e performance esportiva com experiência em clubes do Brasil e do exterior. Atualmente é Preparador Físico no sub-20 do Vasco da Gama.

Trabalhou como Head Performance and Fitness Coach no FC Semey do Cazaquistão (2024). Foi Preparador Físico no Confiança (2023-2024) e Head of Performance and Health no Avaí (2022-2023). Também exerceu o cargo de Coordenador de Performance no Confiança (2022) e trabalhou como Fisiologista no CRB (2021-2022) e no próprio Confiança (2019-2021).

Possui Mestrado em Saúde e Educação Física pela Universidade Federal de Sergipe e Especialização em Desempenho Humano pela Universidade Tiradentes (Unit). Suas principais competências incluem preparação física, análise de desempenho, força, potência e velocidade no esporte.

Rafael Grazioli

Rafael Grazioli, natural de Canoas (RS), é formado em Educação Física pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), onde também concluiu mestrado e doutorado em Ciências do Movimento Humano.

Com nove anos de experiência atuando como coordenador científico e fisiologista no futebol profissional, ele passou as últimas três temporadas no Guarani de Campinas (SP) antes de ser anunciado pelo Criciúma em janeiro de 2025.