Como os árbitros de Futebol exploram visualmente o jogo?

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No futebol, a principal função dos árbitros de campo é determinar se as ações dos jogadores estão de acordo com as regras do esporte, o que exige uma série de decisões durante a partida. Essas decisões, em grande parte, se baseiam na percepção do árbitro, ou seja, no que ele vê. Portanto, a informação visual e o comportamento do olhar que coleta essa informação, são cruciais para o desempenho do árbitro.

Tradicionalmente, as pesquisas sobre o comportamento do olhar de árbitros se concentrou em situações específicas do jogo, como faltas, impedimentos ou passes longos. No entanto, essas situações representam apenas uma pequena parcela da partida. Já que a maior parte do tempo, o árbitro está em “jogo aberto”, observando o desenrolar da partida e antecipando eventos potenciais.

E um novo estudo realizado pelos pesquisadores Van Biemen e Mann da Vrije Universiteit Amsterdam e da Real Federação Holandesa de Futebol, publicado na revista científica Journal of Sports Sciences, investigou como os árbitros de futebol exploram visualmente o campo durante o jogo.

Como o estudo foi feito?

Para investigar como os árbitros observam jogos em situações abertas, o estudo teve a participação de árbitros de elite e sub-elite que utilizaram um dispositivo de rastreamento ocular móvel durante as partidas que nada mais era que um óculos que permitia rastrear para onde os árbitros estavam olhando.

Foram 13 árbitros de futebol (5 de elite e 8 sub-elite) que usaram o rastreador, e todos os dados foram gravados e, em seguida, analisados quadro a quadro para identificar os movimentos da cabeça e dos olhos.

Principais resultados

Os resultados mostraram que os árbitros utilizaram uma combinação de movimentos de cabeça e de olhos, com movimentos de cabeça sendo mais comuns que os movimentos oculares.

Além disso, os movimentos da cabeça e dos olhos foram sincronizados com eventos importantes do jogo, principalmente antes ou após os passes. Os árbitros tendiam a direcionar seu olhar para a bola no momento do passe, evitando movimentos da cabeça e dos olhos nesse instante específico. Essa sincronia sugere que os árbitros são capazes de prever o momento do passe e coordenar seu olhar para a próxima ação.

Gráfico no artigo. Head movements (movimentos da cabeça) e Eye movements (movimentos dos olhos).

Árbitros de elite tem comportamento diferente na busca visual?

A pesquisa também identificou que os árbitros de elite não são caracterizados por padrões diferentes de comportamento visual em comparação com árbitros sub-elite. Porém, eles tendem a fazer movimentos de cabeça e olhos mais rápidos e, portanto, passam menos tempo com o olhar desviado da bola ou do jogador em posse de bola.

Embora os árbitros de elite tenham apresentado movimentos de cabeça e olhos mais rápidos, não houve diferenças significativas nos padrões de visualização entre os dois grupos. Em vez disso, o estudo revelou que possivelmente há diferentes estilos de visualização individual; alguns árbitros tendem a explorar o campo de forma mais abrangente, enquanto outros se concentram em detalhes específicos da bola e do jogador em posse.

Implicações práticas do estudo

Este estudo aprofunda a compreensão de como os árbitros exploram visualmente o jogo durante situações de jogo abertas e fornece resultados valiosos para a educação e treinamento de árbitros. O estudo destacou a necessidade de considerar a coordenação entre movimentos da cabeça e dos olhos e a importância de desenvolver estratégias de visualização individual, em vez de aplicar um método único para todos.

Os resultados também levantam questões importantes para futuras pesquisas, principalmente com a crescente utilização de tecnologias de rastreamento ocular em diferentes áreas. Isso poderia melhorar a compreensão do comportamento visual dos árbitros e contribuir para o aprimoramento do desempenho e da tomada de decisões.

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Nathália Arnosti

Nathalia Arnosti é uma profissional da Educação Física com formação acadêmica sólida e experiência em alto rendimento esportivo.

Graduada pela Universidade Metodista de Piracicaba (2009), mestre pela mesma instituição (2012) e doutora pela Universidade Estadual de Campinas (2016), sua especialização concentra-se em Treinamento Desportivo, Fisiologia do Exercício e Avaliação Física.

Ao longo de sua carreira, trabalhou em clubes de futebol brasileiro, atuando como Preparadora Física e Fisiologista. Passou por equipes como Ponte Preta (2017), Ferroviária (2017-2018), Grêmio Audax (Libertadores Feminina 2018), Palmeiras (2019), Red Bull Bragantino (2020-2022) e Athletico Paranaense (2022-2024). Atualmente, integra o departamento de desempenho do Cruzeiro (desde 2024) como Sports Physiologist.

Neto Pereira

Neto Pereira é um profissional de preparação física e performance esportiva com experiência em clubes do Brasil e do exterior. Atualmente é Preparador Físico no sub-20 do Vasco da Gama.

Trabalhou como Head Performance and Fitness Coach no FC Semey do Cazaquistão (2024). Foi Preparador Físico no Confiança (2023-2024) e Head of Performance and Health no Avaí (2022-2023). Também exerceu o cargo de Coordenador de Performance no Confiança (2022) e trabalhou como Fisiologista no CRB (2021-2022) e no próprio Confiança (2019-2021).

Possui Mestrado em Saúde e Educação Física pela Universidade Federal de Sergipe e Especialização em Desempenho Humano pela Universidade Tiradentes (Unit). Suas principais competências incluem preparação física, análise de desempenho, força, potência e velocidade no esporte.

Rafael Grazioli

Rafael Grazioli, natural de Canoas (RS), é formado em Educação Física pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), onde também concluiu mestrado e doutorado em Ciências do Movimento Humano.

Com nove anos de experiência atuando como coordenador científico e fisiologista no futebol profissional, ele passou as últimas três temporadas no Guarani de Campinas (SP) antes de ser anunciado pelo Criciúma em janeiro de 2025.