Análise dos pedidos de tempo técnico em jogos de futsal: quando solicitar e o que esperar?

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Compreender a dinâmica e as estratégias utilizadas no futsal de alto rendimento é um tema de interesse contínuo para técnicos, jogadores e entusiastas do esporte. Uma estratégia tática relevante são os pedidos de tempo, e um estudo recente aprofundou a análise de sua utilização e impacto nas partidas.

Qual foi o foco do estudo?

A pesquisa abordou o uso estratégico dos pedidos de tempo técnico em jogos de futsal de alto desempenho. O objetivo foi identificar o momento em que esses pedidos são feitos e como eles influenciam o desempenho das equipes durante a partida.

O estudo foi realizado por Vitor Lovato e Júlia Barreira, pesquisadores da Escola de Educação Física da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), e publicado na revista científica International Journal of Performance Analysis in Sport, em abril de 2025.

A razão da pesquisa

A motivação para o estudo surgiu da observação de que, embora os pedidos de tempo sejam uma interrupção formal que permite aos treinadores oferecerem instruções táticas e motivarem seus jogadores, pouco se sabia sobre quando e em que situações de jogo eles eram solicitados no futsal de elite, e qual o seu impacto real no desempenho da equipe.

Como o estudo foi realizado?

Para a pesquisa, foi empregado um método de observação, analisando dados de múltiplas equipes. Foram examinadas 244 partidas da Liga Brasileira de Futsal de 2023 (LNF), abrangendo fases de grupos e eliminatórias. Um total de 735 pedidos de tempo técnico foram analisados. As variáveis de desempenho, como chutes ao gol, gols marcados e gols sofridos, foram avaliadas em uma janela de três minutos antes e depois de cada pedido de tempo.

Resultados e implicações práticas

O estudo revelou que os pedidos de tempo técnico são uma estratégia com uso frequente no futsal de alto rendimento, sendo acionados em 75% das oportunidades disponíveis. A maioria desses pedidos ocorreu nos dez minutos finais de cada etapa do jogo, e predominantemente quando as equipes estavam perdendo ou em situações de empate.

Quando pedir tempo?

Uma das principais conclusões práticas indica que os pedidos de tempo técnico apresentaram uma melhoria significativa no desempenho das equipes em situações de desvantagem no placar. Nessas circunstâncias, as equipes que solicitaram o tempo técnico registraram um aumento nos chutes ao gol, uma redução nos gols sofridos e uma maior probabilidade de marcar.

Isso ocorre porque o pedido de tempo pode quebrar um momento positivo do adversário ou interromper uma sequência negativa da própria equipe, permitindo que o treinador reorganize taticamente o time e reforce aspectos motivacionais.

Por outro lado, o impacto dos pedidos de tempo técnico foi limitado quando as equipes estavam em vantagem ou com o placar empatado. Uma possível explicação para isso é que as equipes em vantagem podem evitar o pedido de tempo para não quebrar o próprio ritmo de jogo, o que poderia dar ao adversário a chance de se reagrupar.

Pedir tempo com bola em jogo ou bola parada?

Foi observado também que os pedidos de tempo técnico foram mais eficazes em situações de jogo “aberto” (com a bola em movimento) do que em situações de bola parada, como faltas ou escanteios. No jogo “aberto”, as dinâmicas são mais fluidas, e os ajustes táticos comunicados durante o tempo técnico podem ter um efeito mais imediato na fluidez do jogo. Em contraste, nas jogadas de bola parada, as equipes já possuem planos de execução predefinidos, e o impacto adicional de um tempo técnico pode ser menor.

Outra associação relevante foi identificada entre os pedidos de tempo técnico em situações de desvantagem e o uso do goleiro-linha pelo time adversário. Isso sugere que os treinadores utilizam os pedidos de tempo de forma estratégica para preparar suas equipes para essa manobra de alto risco. A estratégia do goleiro-linha, comum nos minutos finais, exige rápidas adaptações ofensivas e defensivas, e o tempo técnico pode ser um momento para organizar a equipe para lidar com essa tática.

Conclusões práticas

Em resumo, as descobertas indicam que os treinadores podem otimizar o uso dos pedidos de tempo técnico, priorizando-os em situações de desvantagem no placar e em momentos de jogo aberto, onde ajustes táticos podem gerar um impacto considerável. O estudo contribui para um entendimento mais claro de como essa ferramenta tática pode influenciar o resultado das partidas de futsal de alto nível.

O artigo completo está disponível clicando aqui

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João Bonfatti

João Bonfatti atualmente trabalha como Coordenador do setor de Análise de Desempenho no América-MG. Antes disso, teve passagens pelo Vasco da Gama, onde atuou em diferentes categorias: foi auxiliar técnico do Sub-20, treinador interino do Sub-17 e auxiliar técnico do Sub-17.

Atuou também pelo Atlético-MG, onde desempenhou o papel de auxiliar técnico do Sub-15. No Corinthians, auxiliar técnico do Sub-14, além de exercer a função de supervisor metodológico.

Sua formação inclui o Bacharelado em Futebol pela Universidade Federal de Viçosa e a Licença B da CBF Academy, o que reforça sua base teórica e prática no desenvolvimento de atletas.

Felipe Bonholi

Felipe Bonholi integra a equipe do Palmeiras como Analista de Desempenho no Centro de Formação de Atletas (CFA), contribuindo para o desenvolvimento e acompanhamento de jovens talentos.

Antes disso, acumulou cinco anos de experiência na Ferroviária, onde atuou como Analista de Desempenho da equipe profissional, e no São Carlos Futebol Clube na mesma função.

Sua formação acadêmica inclui Bacharelado em Administração de Empresas pela UNIARA (2014–2017) e graduação em andamento em Educação Física pela mesma instituição, iniciada em 2019.

Com sólida base teórica e ampla experiência prática, Felipe Bonholi se destaca por sua capacidade de integrar análise técnica, gestão e visão estratégica no contexto esportivo, contribuindo para o desempenho e evolução de atletas e equipes.

Mylena Baransk

Mylena Baransk é doutora em Educação Física pela Universidade Federal do Paraná e mestre em Ciências da Saúde pela Universidade Estadual de Ponta Grossa, onde também concluiu sua graduação em Educação Física – Bacharelado. Especialista em futsal com foco em análise de desempenho, atuou como docente em cursos do ensino superior e analista de desempenho no futebol.

Atualmente, exerce a função de analista de desempenho no Clube Atlético Mineiro, onde trabalha desde agosto de 2024. Antes disso, desempenhou a mesma função na Associação Ferroviária de Esportes entre março e agosto de 2024, atuando em Araraquara, São Paulo.

Além da atuação em clubes, possui experiência acadêmica como docente, tendo lecionado na UniCesumar entre julho e outubro de 2023, em Curitiba, Paraná. Também foi professora na UNIFATEB, onde atuou por quase três anos, de fevereiro de 2021 a outubro de 2023, em Telêmaco Borba, Paraná.

Com forte presença na área de análise de desempenho no futebol, também é CEO da Statisticsfut, onde se dedica ao desenvolvimento de conteúdos e estratégias voltadas à análise estatística e desempenho esportivo.

Nathália Arnosti

Nathália Arnosti é uma profissional de destaque na área de Fisiologia do Esporte e Preparação Física, com sólida formação acadêmica e ampla experiência no futebol brasileiro.

Bacharel e mestre em Educação Física pela Universidade Metodista de Piracicaba e doutora pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), ela construiu uma carreira marcada pela integração entre ciência e prática esportiva.

No cenário dos clubes, já contribuiu com equipes como Athletico Paranaense, Red Bull Bragantino, Palmeiras, Audax, Ferroviária e Ponte Preta. Em janeiro de 2024, assumiu o cargo de fisiologista do Cruzeiro, reforçando seu papel como referência no acompanhamento e otimização do desempenho esportivo.

Rodrigo Aquino

Rodrigo Aquino é professor na Universidade Federal do Espírito Santo, onde atua no Departamento de Desportos e como docente do Programa de Pós-Graduação em Educação Física (Mestrado e Doutorado).

É líder do Grupo de Estudos Pesquisa em Ciências no Futebol (GECIF/UFES) e coordenador do Programa Academia e Futebol (Núcleo UFES), financiado pelo Ministério do Esporte. Seu trabalho envolve a coordenação de projetos técnico-científicos em parceria com categorias de base e equipes profissionais de futebol no Brasil.

Rodrigo é graduado em Educação Física e Esporte pela USP, com especialização em Ciências do Desporto pela Universidade do Porto. Concluiu o mestrado e doutorado em Ciências também pela USP. Acumula experiência prática no futebol desde 2015 como fisiologista e preparador físico em clubes profissionais, além de atuar como treinador e coordenador técnico em categorias de base. Reconhecido academicamente, está entre os 10 cientistas do esporte mais produtivos da América Latina em publicações científicas relacionadas ao futebol.

Neto Pereira

Neto Pereira é um profissional de preparação física e performance esportiva com experiência em clubes do Brasil e do exterior. Atualmente é Preparador Físico no sub-20 do Vasco da Gama.

Trabalhou como Head Performance and Fitness Coach no FC Semey do Cazaquistão (2024). Foi Preparador Físico no Confiança (2023-2024) e Head of Performance and Health no Avaí (2022-2023). Também exerceu o cargo de Coordenador de Performance no Confiança (2022) e trabalhou como Fisiologista no CRB (2021-2022) e no próprio Confiança (2019-2021).

Possui Mestrado em Saúde e Educação Física pela Universidade Federal de Sergipe e Especialização em Desempenho Humano pela Universidade Tiradentes (Unit). Suas principais competências incluem preparação física, análise de desempenho, força, potência e velocidade no esporte.

Rafael Grazioli

Rafael Grazioli, natural de Canoas (RS), é formado em Educação Física pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), onde também concluiu mestrado e doutorado em Ciências do Movimento Humano.

Com nove anos de experiência atuando como coordenador científico e fisiologista no futebol profissional, ele passou as últimas três temporadas no Guarani de Campinas (SP) antes de ser anunciado pelo Criciúma em janeiro de 2025.