A tomada de decisão e o controle emocional no futebol

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Foto de Joppe Spaa na Unsplash

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Para ter uma tomada de decisão assertiva no futebol, o controle emocional é importantíssimo. Um jogador toma mais de duas mil decisões durante uma partida. Contudo, decidir o que fazer envolve inúmeros fatores como veremos a seguir. Dessa forma, qual a importância do controle emocional na tomada de decisão?

Competência emocional

A competência emocional diz respeito à capacidade de regular os próprios estados emocionais. Ela inclui habilidades como:

  • Capacidade de controlar os impulsos;
  • Motivar-se;
  • Gratificação;
  • Lidar com as incertezas.

Dessa forma, problemas no controle emocional podem comprometer o desempenho e refletir em outras competências.

O jogador Vinícius Júnior, do Real Madrid, é um exemplo dessa situação. O atacante, com apenas 20 anos, foi vendido em 2020 para um dos maiores clubes da história. Apesar dos bons jogos, conviveu no início com muitas críticas. Nesse ponto, sua tomada de decisão é o que mais chamou a atenção.

Vinícius Júnior sempre demonstrou uma excelente técnica e não apresentava tanta dificuldade em marcar gols. Sua oscilação é natural por ser muito jovem. O jogador sofre com altas expectativas por ter sido contratado a “peso de ouro”, ser novo e bom driblador. Todo um ambiente de pressão é gerado por um futebol no mais alto nível e com regularidade. Assim, quando erra alguma jogada, seja por gesto técnico, ou por execução negativa de um princípio tático, muita pressão recai sobre ele.

Uma análise pormenorizada da tomada de decisão

Conforme estudos do NUPEF, jogadores mais experientes têm tomadas de decisão mais rápidas. Além disso, as estratégias de busca visual exercem influência sobre o tempo de decisão correta do jogador de futebol. Desse modo, a ansiedade e a ativação pode influenciar na estratégia de busca visual. Em outras palavras, as emoções afetam os padrões de atenção, concentração e exploração visual. Portanto, a tomada de decisão fica prejudicada e o desempenho cai.

Nesse sentido, o bom desempenho está ligado com a manutenção do ótimo estado de ativação, o qual depende muito do controle emocional. Ou seja, o jogador não necessariamente é ruim tecnicamente, fraco taticamente ou esteja em más condições físicas. Em muitos casos, como neste citado, pode se tratar de uma dificuldade na regulação dos aspectos psicológicos do atleta.

O comportamento tático individual dos jogadores é outro exemplo que pode ser citado. Em recente entrevista o treinador Abel Ferreira relatou ter questionado um atleta sobre sua “obediência tática”. O treinador perguntou se, mesmo com a pressão da torcida para “jogar para frente”, o atleta tocaria a bola para trás e executaria a ação tática treinada previamente. O atleta, obviamente, confirmou que manteria o treinado. Entretanto, é notória a diferença que a pressão da torcida faz num jogo de futebol. Assim, o estado emocional dos jogadores pode influenciar na alteração das tomadas de decisão em uma partida.

A tomada de decisão e o psicológico do jogador

O controle emocional na tomada de decisão é preponderante, visto que dificuldades em lidar com as emoções afetam generalizadamente o desempenho. A regulação da ativação e controle do estresse e da ansiedade são necessários. Essas ações são aprendidas através do treinamento de habilidades psicológicas (THP).

Portanto, ao avaliar o mau desempenho de um atleta é necessário considerar todos os aspectos do jogo. Tanto intra quanto extracampo. Por vezes, um erro técnico, uma indisposição física ou uma leitura tática errada pode estar relacionada a aspectos psicológicos. Sendo assim, não adianta somente treinar exaustivamente o gesto técnico, poupar o jogador ou ensinar a tática. Nesses casos, devemos buscar os fatores que levam à dificuldade de controle emocional e trabalhar essas questões. Por fim, cabe frisar que os Psicólogos do Esporte realizam esse trabalho. Por isso e por outros motivos o psicólogo deve ser cada vez mais presente em comissões técnicas.

Fontes e Referências:

Contato do autor

Autor: Matheus Padilha
Instagram: @28padilha
E-mail: matheuspadilhaar@gmail.com

Confira abaixo um episódio de Podcast sobre o assunto:

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João Bonfatti

João Bonfatti atualmente trabalha como Coordenador do setor de Análise de Desempenho no América-MG. Antes disso, teve passagens pelo Vasco da Gama, onde atuou em diferentes categorias: foi auxiliar técnico do Sub-20, treinador interino do Sub-17 e auxiliar técnico do Sub-17.

Atuou também pelo Atlético-MG, onde desempenhou o papel de auxiliar técnico do Sub-15. No Corinthians, auxiliar técnico do Sub-14, além de exercer a função de supervisor metodológico.

Sua formação inclui o Bacharelado em Futebol pela Universidade Federal de Viçosa e a Licença B da CBF Academy, o que reforça sua base teórica e prática no desenvolvimento de atletas.

Felipe Bonholi

Felipe Bonholi integra a equipe do Palmeiras como Analista de Desempenho no Centro de Formação de Atletas (CFA), contribuindo para o desenvolvimento e acompanhamento de jovens talentos.

Antes disso, acumulou cinco anos de experiência na Ferroviária, onde atuou como Analista de Desempenho da equipe profissional, e no São Carlos Futebol Clube na mesma função.

Sua formação acadêmica inclui Bacharelado em Administração de Empresas pela UNIARA (2014–2017) e graduação em andamento em Educação Física pela mesma instituição, iniciada em 2019.

Com sólida base teórica e ampla experiência prática, Felipe Bonholi se destaca por sua capacidade de integrar análise técnica, gestão e visão estratégica no contexto esportivo, contribuindo para o desempenho e evolução de atletas e equipes.

Mylena Baransk

Mylena Baransk é doutora em Educação Física pela Universidade Federal do Paraná e mestre em Ciências da Saúde pela Universidade Estadual de Ponta Grossa, onde também concluiu sua graduação em Educação Física – Bacharelado. Especialista em futsal com foco em análise de desempenho, atuou como docente em cursos do ensino superior e analista de desempenho no futebol.

Atualmente, exerce a função de analista de desempenho no Clube Atlético Mineiro, onde trabalha desde agosto de 2024. Antes disso, desempenhou a mesma função na Associação Ferroviária de Esportes entre março e agosto de 2024, atuando em Araraquara, São Paulo.

Além da atuação em clubes, possui experiência acadêmica como docente, tendo lecionado na UniCesumar entre julho e outubro de 2023, em Curitiba, Paraná. Também foi professora na UNIFATEB, onde atuou por quase três anos, de fevereiro de 2021 a outubro de 2023, em Telêmaco Borba, Paraná.

Com forte presença na área de análise de desempenho no futebol, também é CEO da Statisticsfut, onde se dedica ao desenvolvimento de conteúdos e estratégias voltadas à análise estatística e desempenho esportivo.

Nathália Arnosti

Nathália Arnosti é uma profissional de destaque na área de Fisiologia do Esporte e Preparação Física, com sólida formação acadêmica e ampla experiência no futebol brasileiro.

Bacharel e mestre em Educação Física pela Universidade Metodista de Piracicaba e doutora pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), ela construiu uma carreira marcada pela integração entre ciência e prática esportiva.

No cenário dos clubes, já contribuiu com equipes como Athletico Paranaense, Red Bull Bragantino, Palmeiras, Audax, Ferroviária e Ponte Preta. Em janeiro de 2024, assumiu o cargo de fisiologista do Cruzeiro, reforçando seu papel como referência no acompanhamento e otimização do desempenho esportivo.

Rodrigo Aquino

Rodrigo Aquino é professor na Universidade Federal do Espírito Santo, onde atua no Departamento de Desportos e como docente do Programa de Pós-Graduação em Educação Física (Mestrado e Doutorado).

É líder do Grupo de Estudos Pesquisa em Ciências no Futebol (GECIF/UFES) e coordenador do Programa Academia e Futebol (Núcleo UFES), financiado pelo Ministério do Esporte. Seu trabalho envolve a coordenação de projetos técnico-científicos em parceria com categorias de base e equipes profissionais de futebol no Brasil.

Rodrigo é graduado em Educação Física e Esporte pela USP, com especialização em Ciências do Desporto pela Universidade do Porto. Concluiu o mestrado e doutorado em Ciências também pela USP. Acumula experiência prática no futebol desde 2015 como fisiologista e preparador físico em clubes profissionais, além de atuar como treinador e coordenador técnico em categorias de base. Reconhecido academicamente, está entre os 10 cientistas do esporte mais produtivos da América Latina em publicações científicas relacionadas ao futebol.

Neto Pereira

Neto Pereira é um profissional de preparação física e performance esportiva com experiência em clubes do Brasil e do exterior. Atualmente é Preparador Físico no sub-20 do Vasco da Gama.

Trabalhou como Head Performance and Fitness Coach no FC Semey do Cazaquistão (2024). Foi Preparador Físico no Confiança (2023-2024) e Head of Performance and Health no Avaí (2022-2023). Também exerceu o cargo de Coordenador de Performance no Confiança (2022) e trabalhou como Fisiologista no CRB (2021-2022) e no próprio Confiança (2019-2021).

Possui Mestrado em Saúde e Educação Física pela Universidade Federal de Sergipe e Especialização em Desempenho Humano pela Universidade Tiradentes (Unit). Suas principais competências incluem preparação física, análise de desempenho, força, potência e velocidade no esporte.

Rafael Grazioli

Rafael Grazioli, natural de Canoas (RS), é formado em Educação Física pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), onde também concluiu mestrado e doutorado em Ciências do Movimento Humano.

Com nove anos de experiência atuando como coordenador científico e fisiologista no futebol profissional, ele passou as últimas três temporadas no Guarani de Campinas (SP) antes de ser anunciado pelo Criciúma em janeiro de 2025.