A saída de bola no futebol exige coragem?

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Foto de Mpho Mojapelo na Unsplash

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Atualmente, a saída de bola no futebol é um assunto muito debatido. Quando o treinador Fernando Diniz passava por oscilações no São Paulo, por exemplo, ouviam-se comentários de que a melhor solução seria o “chutão” para os erros na saída de bola. No entanto, quando a equipe progredia de pé em pé até chegar ao último terço do campo, o estilo de jogo denominado “Dizinismo” era apoiado.

Então, qual alternativa está certa?

Já adianto que não há certo ou errado, existe o que funciona! Portanto, o objetivo de quem vos escreve não é definir a forma ideal de progressão, dado que depende da intenção de cada treinador.

Sendo assim, o texto separado nos princípios gerais, aborda aspectos relevantes para a 1ª fase de construção, seja através da saída: com linha quatro, lavolpiana, com lançamento, etc.

Criar superioridade numérica

Fonte: criado pelo autor no tactical-board.com
  • Procurar homem livre

Identificar as relações de oposição e cooperação são essenciais para localizar o homem livre. À medida que a equipe progride utilizando tal dinâmica, aumenta o conforto nas organizações ofensivas, proporcionando, sobretudo, confiança coletiva.

  • Importância do goleiro

A primeira fase de construção é o sub-momento mais fácil para se criar superioridade numérica. É matemática: se o goleiro adversário protege a própria baliza, podemos incentivar o nosso goleiro a jogar com os pés e ser o homem livre da situação, promovendo, dessa forma, a relação de 11 cooperações e 10 oposições.

Com a evolução do jogo, a saída de bola no futebol passou a contar com o goleiro, deixando 3 jogadores responsáveis por esse primeiro momento de construção, como o Felipe Alves no Fortaleza contra blocos médios. Porém, há aqueles que escolhem saídas densas (linha de 4 + 2 volantes, por exemplo). Assim, o goleiro tem a possibilidade de realizar lançamentos e verticalizar rapidamente o ataque, com o intuito de aproveitar os espaços deixados pelos oponentes em bloco alto.

Evitar igualdade numérica

Para evitar igualdade numérica, vale analisar a estrutura padrão da equipe adversária e observar quantos jogadores costumam constranger a saída de bola. Por exemplo, se na escalação inicial o treinador adversário optar por 2 centroavantes, significa que em uma construção iniciada com linha de quatro, nossos zagueiros ficarão em igualdade numérica.

Isso indica que a construção a partir da saída lavolpiana será proveitosa? Depende, é uma questão situacional que abrange diversas variáveis, como: quais são as características dos meus volantes? Os meus zagueiros são destros ou/e canhotos? Qual é o perfil dos oponentes? Qual é o tipo de marcação adversária? Como queremos atacar? Onde há espaços? Em qual posição estamos no campeonato?

Veja que a forma de construção envolve uma série de questionamentos. Desse modo, com as respostas em mente, o treinador refletirá as possíveis dinâmicas para progredir com êxito.

Não permitir inferioridade numérica

O jogo de futebol é como um cobertor curto, ou seja, se você cobre um lado, o outro torna-se exposto. Dessa forma, ao construir com inferioridade numérica, garantirá superioridade nas zonas subsequentes, sendo válido optar pelas bolas longas.

Mas lembre-se, não são “chutões” sem intenção. Leandro Zago explica que devemos pensar a organização ofensiva visando uma transição defensiva. Em outras palavras, ao realizar “chutões”, arrisca-se o ganho ou a perda da bola. Portanto, se não for treinada, corremos sérios riscos de fracasso, ao passo que a equipe estará descompactada e vulnerável para transitar defensivamente.

O medo do brasileiro na saída de bola no futebol

Levando em consideração o que foi mencionado, nunca saberemos se o “chutão” ou se construir curto seria a melhor opção para o Diniz. Mas o que podemos destacar é que haverá diversos outros treinadores que irão preferir construir de pé em pé.

Nesse sentido, eles não decidem construir sob pressão porque querem correr riscos. Há intencionalidades por trás das ideias. Logo, é desnecessário temer essa forma de construção, pois as vezes, é fundamental realizar um passe para trás, para dar dois à frente.


Contato do autor
Instagram: @g_tadashi

Confira abaixo um episódio em nosso Podcast sobre o assunto:

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Rodrigo Aquino

Rodrigo Aquino é professor na Universidade Federal do Espírito Santo, onde atua no Departamento de Desportos e como docente do Programa de Pós-Graduação em Educação Física (Mestrado e Doutorado).

É líder do Grupo de Estudos Pesquisa em Ciências no Futebol (GECIF/UFES) e coordenador do Programa Academia e Futebol (Núcleo UFES), financiado pelo Ministério do Esporte. Seu trabalho envolve a coordenação de projetos técnico-científicos em parceria com categorias de base e equipes profissionais de futebol no Brasil.

Rodrigo é graduado em Educação Física e Esporte pela USP, com especialização em Ciências do Desporto pela Universidade do Porto. Concluiu o mestrado e doutorado em Ciências também pela USP. Acumula experiência prática no futebol desde 2015 como fisiologista e preparador físico em clubes profissionais, além de atuar como treinador e coordenador técnico em categorias de base. Reconhecido academicamente, está entre os 10 cientistas do esporte mais produtivos da América Latina em publicações científicas relacionadas ao futebol.

Neto Pereira

Neto Pereira é um profissional de preparação física e performance esportiva com experiência em clubes do Brasil e do exterior. Atualmente é Preparador Físico no sub-20 do Vasco da Gama.

Trabalhou como Head Performance and Fitness Coach no FC Semey do Cazaquistão (2024). Foi Preparador Físico no Confiança (2023-2024) e Head of Performance and Health no Avaí (2022-2023). Também exerceu o cargo de Coordenador de Performance no Confiança (2022) e trabalhou como Fisiologista no CRB (2021-2022) e no próprio Confiança (2019-2021).

Possui Mestrado em Saúde e Educação Física pela Universidade Federal de Sergipe e Especialização em Desempenho Humano pela Universidade Tiradentes (Unit). Suas principais competências incluem preparação física, análise de desempenho, força, potência e velocidade no esporte.

Rafael Grazioli

Rafael Grazioli, natural de Canoas (RS), é formado em Educação Física pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), onde também concluiu mestrado e doutorado em Ciências do Movimento Humano.

Com nove anos de experiência atuando como coordenador científico e fisiologista no futebol profissional, ele passou as últimas três temporadas no Guarani de Campinas (SP) antes de ser anunciado pelo Criciúma em janeiro de 2025.