Como são as transições de atletas nas categorias de base?

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Foto de leah hetteberg na Unsplash

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As transições de atletas nas categorias de base são evidentes e fazem parte do processo de formação do jogador de futebol. Como bem se sabe, cada categoria possui sua faixa etária e conta com competições específicas. Isso ajuda a manter uma equidade em competições com jogadores jovens. Consequentemente, à medida que envelhecem, os jogadores fazem as transições para as categorias posteriores.

As transições precoces

Muitos jogadores de base se destacam tanto em suas categorias, que são logo promovidos para a categoria maior. Ou seja, este jogador passa a atuar em treinos e competições com outros jogadores mais velhos. Porém, essas transições de categorias são muito perigosas caso não se tenha cuidado especial com o desenvolvimento global do jovem. Pois, mesmo com boa capacidade técnica, física e tática para jogar com jogadores mais velhos, devem-se considerar outros aspectos, como o processo maturacional, cognitivo e social.

Assim, as transições precoces dos atletas merece atenção especial por parte de profissionais como psicólogos, treinadores, auxiliares, dentre outros. Isso porque é necessário garantir uma transição adequada para que não se perca aquele talento.

Nas categorias de base a presença da Psicologia é fundamental. Um dos papéis do psicólogo do esporte é promover a autonomia daquele jovem. Uma boa intervenção do psicólogo na base, implica desenvolver as potencialidades e trabalhar formas de lidar com as vulnerabilidades do atleta. Ademais, para além do âmbito esportivo, formar atletas é um processo ético e social.

A transição da base para o profissional

A transição onde comumente ocorrem problemas é a transição base-profissional. Pois, o aproveitamento de jogadores da base na categoria profissional nem é sempre planejado. Em muitos casos, a necessidade cria a oportunidade para atletas jovens no “time de cima”. E geralmente acontece quando um clube está sem muito recurso para contratações ou quando há lesões/suspensões.

Nesse sentido, a transição da base para o profissional tem uma diferença muito maior em todos os aspectos. Isso porque, além do ritmo de jogos e treinos terem maior volume, outros aspectos também incrementam essa mudança. Por exemplo, ocorre uma visibilidade muito maior aos atletas e críticas mais negativas quanto positivas. Isso pode acabar minando a autoconfiança de um atleta ou o “deslumbrando”, gerando percepções distorcidas sobre seu potencial.

Além do mais, vale destacar que a dinâmica de jogo no futebol profissional requer um “profissionalismo” com cobrança diferente da base. Existem mais exames, dietas, restrições, rotinas puxadas, etc. Isso pode fazer com que um jovem craque tenha problemas de adaptação e oscilação de desempenho. Tais dificuldades, no entanto, nada tem a ver com qualidade técnica, física ou tática. Portanto, são as mudanças gerais que levam um tempo maior para serem assimiladas.

Problemas comuns nas transições de atletas no Brasil

É comum vermos equipes que são campeãs em torneios de base que não rendem muitos atletas aos profissionais. A falta de um planejamento nas categorias de base dos times brasileiros parece ser reflexo da falta de planejamento no futebol profissional. Por exemplo, pouquíssimos times possuem uma cultura de jogo definida. Isso, por sua vez, faz com que escolhas de técnicos não se baseiem numa filosofia de jogo ou mesmo no modelo de jogo. Neste sentido, a falta de um norteador acaba gerando diversos problemas, tais quais:

  • Categorias de base jogando com diferentes modelos de jogo. Isso, por si só não é um problema, já que é importante que atletas desenvolvam habilidades e conhecimento em diversas maneiras de jogar. O problema é a falta de critério para estabelecer esse “rodízio” de modelos de jogo.
  • A base não é vista como um processo de formação de jogadores, mas sim uma espécie de seleção daqueles que mais se destacam.
  • Os títulos têm grande importância, o que faz com que treinadores de base, por vezes, visem mais o resultado do que a formação.

Assim, esses e outros problemas oriundos das más gestões de muitos clubes culminam em dificuldades que afetam a formação de atletas. Além disso, atletas brasileiros saem cada vez mais novos para o exterior, a fim de socorrer os problemas financeiros dos clubes que os forçam a se desfazerem de suas joias muito cedo.

Como resolver os problemas das transições de atletas na base?

As transições nas categorias de base podem ser fruto de um desejo de acelerar o desenvolvimento de um jovem talento, bem como da necessidade de um clube. Em ambos os casos, é crucial um planejamento e acompanhamento de atletas em transição. A princípio, os clubes precisam gerir melhor seu departamento de futebol e alinhar o futebol de base ao profissional. E em segundo lugar, investir em profissionais qualificados que auxiliem a formação dos atletas em todos os sentidos.

Para concluir, o processo de transições de atletas nas categorias de base é natural, mas não deve ser forçado e sem critérios. Cabe aos agentes desse processo conduzirem-no cuidadosamente. Assim, portanto, teremos mais atletas bem formados e menos promessas desistindo do esporte por conta de fatores adaptativos.

Confira abaixo um episódio do Podcast sobre o assunto:

Contato do Autor: @28padilha
matheuspadilhaar@gmail.com

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João Bonfatti

João Bonfatti atualmente trabalha como Coordenador do setor de Análise de Desempenho no América-MG. Antes disso, teve passagens pelo Vasco da Gama, onde atuou em diferentes categorias: foi auxiliar técnico do Sub-20, treinador interino do Sub-17 e auxiliar técnico do Sub-17.

Atuou também pelo Atlético-MG, onde desempenhou o papel de auxiliar técnico do Sub-15. No Corinthians, auxiliar técnico do Sub-14, além de exercer a função de supervisor metodológico.

Sua formação inclui o Bacharelado em Futebol pela Universidade Federal de Viçosa e a Licença B da CBF Academy, o que reforça sua base teórica e prática no desenvolvimento de atletas.

Felipe Bonholi

Felipe Bonholi integra a equipe do Palmeiras como Analista de Desempenho no Centro de Formação de Atletas (CFA), contribuindo para o desenvolvimento e acompanhamento de jovens talentos.

Antes disso, acumulou cinco anos de experiência na Ferroviária, onde atuou como Analista de Desempenho da equipe profissional, e no São Carlos Futebol Clube na mesma função.

Sua formação acadêmica inclui Bacharelado em Administração de Empresas pela UNIARA (2014–2017) e graduação em andamento em Educação Física pela mesma instituição, iniciada em 2019.

Com sólida base teórica e ampla experiência prática, Felipe Bonholi se destaca por sua capacidade de integrar análise técnica, gestão e visão estratégica no contexto esportivo, contribuindo para o desempenho e evolução de atletas e equipes.

Mylena Baransk

Mylena Baransk é doutora em Educação Física pela Universidade Federal do Paraná e mestre em Ciências da Saúde pela Universidade Estadual de Ponta Grossa, onde também concluiu sua graduação em Educação Física – Bacharelado. Especialista em futsal com foco em análise de desempenho, atuou como docente em cursos do ensino superior e analista de desempenho no futebol.

Atualmente, exerce a função de analista de desempenho no Clube Atlético Mineiro, onde trabalha desde agosto de 2024. Antes disso, desempenhou a mesma função na Associação Ferroviária de Esportes entre março e agosto de 2024, atuando em Araraquara, São Paulo.

Além da atuação em clubes, possui experiência acadêmica como docente, tendo lecionado na UniCesumar entre julho e outubro de 2023, em Curitiba, Paraná. Também foi professora na UNIFATEB, onde atuou por quase três anos, de fevereiro de 2021 a outubro de 2023, em Telêmaco Borba, Paraná.

Com forte presença na área de análise de desempenho no futebol, também é CEO da Statisticsfut, onde se dedica ao desenvolvimento de conteúdos e estratégias voltadas à análise estatística e desempenho esportivo.

Nathália Arnosti

Nathália Arnosti é uma profissional de destaque na área de Fisiologia do Esporte e Preparação Física, com sólida formação acadêmica e ampla experiência no futebol brasileiro.

Bacharel e mestre em Educação Física pela Universidade Metodista de Piracicaba e doutora pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), ela construiu uma carreira marcada pela integração entre ciência e prática esportiva.

No cenário dos clubes, já contribuiu com equipes como Athletico Paranaense, Red Bull Bragantino, Palmeiras, Audax, Ferroviária e Ponte Preta. Em janeiro de 2024, assumiu o cargo de fisiologista do Cruzeiro, reforçando seu papel como referência no acompanhamento e otimização do desempenho esportivo.

Rodrigo Aquino

Rodrigo Aquino é professor na Universidade Federal do Espírito Santo, onde atua no Departamento de Desportos e como docente do Programa de Pós-Graduação em Educação Física (Mestrado e Doutorado).

É líder do Grupo de Estudos Pesquisa em Ciências no Futebol (GECIF/UFES) e coordenador do Programa Academia e Futebol (Núcleo UFES), financiado pelo Ministério do Esporte. Seu trabalho envolve a coordenação de projetos técnico-científicos em parceria com categorias de base e equipes profissionais de futebol no Brasil.

Rodrigo é graduado em Educação Física e Esporte pela USP, com especialização em Ciências do Desporto pela Universidade do Porto. Concluiu o mestrado e doutorado em Ciências também pela USP. Acumula experiência prática no futebol desde 2015 como fisiologista e preparador físico em clubes profissionais, além de atuar como treinador e coordenador técnico em categorias de base. Reconhecido academicamente, está entre os 10 cientistas do esporte mais produtivos da América Latina em publicações científicas relacionadas ao futebol.

Neto Pereira

Neto Pereira é um profissional de preparação física e performance esportiva com experiência em clubes do Brasil e do exterior. Atualmente é Preparador Físico no sub-20 do Vasco da Gama.

Trabalhou como Head Performance and Fitness Coach no FC Semey do Cazaquistão (2024). Foi Preparador Físico no Confiança (2023-2024) e Head of Performance and Health no Avaí (2022-2023). Também exerceu o cargo de Coordenador de Performance no Confiança (2022) e trabalhou como Fisiologista no CRB (2021-2022) e no próprio Confiança (2019-2021).

Possui Mestrado em Saúde e Educação Física pela Universidade Federal de Sergipe e Especialização em Desempenho Humano pela Universidade Tiradentes (Unit). Suas principais competências incluem preparação física, análise de desempenho, força, potência e velocidade no esporte.

Rafael Grazioli

Rafael Grazioli, natural de Canoas (RS), é formado em Educação Física pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), onde também concluiu mestrado e doutorado em Ciências do Movimento Humano.

Com nove anos de experiência atuando como coordenador científico e fisiologista no futebol profissional, ele passou as últimas três temporadas no Guarani de Campinas (SP) antes de ser anunciado pelo Criciúma em janeiro de 2025.