A mentalização no treinamento de futebol

Data:

Foto de Dan Gold na Unsplash

Compartilhe:

A mentalização no treinamento de futebol pode ajudar no desenvolvimento dos atletas de várias maneiras. À primeira vista pode parecer que não tem tanta aplicação prática no jogo. No entanto sua utilização pode se aliar a treinamentos táticos, técnicos e até físicos. Mas por que usar esse tipo de treinamento?

A redução do espaço efetivo de jogo ao longo do tempo é uma característica percebida pela evolução tática do futebol. A proximidade entre os jogadores diminuiu o tempo de tomada de decisão. Dessa forma, o jogo ficou mais veloz e dinâmico do que se apresentava em décadas passadas. Essa evolução tática requereu um desenvolvimento técnico cada vez maior. Isso porque além de tomar decisões mais rápido, o atleta precisa executar o gesto técnico com maior qualidade. Como o treinamento de mentalização e de habilidades psicológicas (THP) pode ajudar nesse contexto?

O que é mentalização?

Atualmente existem vários métodos e técnicas que podem auxiliar um jogador de futebol nesse contexto dinâmico. Além disso, a mentalização é conhecida como: visualização, ensaio mental, ensaio simbólico, treino encoberto, e treino mental. Essa técnica se refere à criação ou recriação de uma experiência na mente. Assim sendo, percebemos que ela pode ter várias funções. Ela pode ser útil em períodos de treinamento, bem como de competição e reabilitação. Portanto, algumas dessas funções são: melhorar a concentração; aumentar a motivação; desenvolver a confiança; controlar respostas emocionais; adquirir, praticar e corrigir habilidades técnicas; preparar-se para a competição; enfrentar dores e lesões; e solucionar problemas.

Mentalização no treinamento de futebol e o gesto técnico

A aplicação da mentalização permite assimilar ou aprimorar o gesto técnico. Ela pode abreviar e melhorar o tempo de aprendizagem. Um exemplo disso é o uso da mentalização das diferentes fases de execução de um cabeceio. Ao mesmo tempo, outra função relacionada ao gesto técnico é aumentar a precisão de um movimento. Por exemplo, o ajuste mental das sensações e postura corporal para um chute ideal. Além destas, revisar mentalmente uma habilidade para perceber algum possível erro ou falha, pode ajudar no treinamento. Assim, quando ocorrem problemas recorrentes na execução de algum gesto técnico, a mentalização pode auxiliar a detectar o erro.

Estresse e a mentalização no treinamento de futebol

No treinamento das habilidades psicológicas, a mentalização pode ajudar no controle da ativação e do estresse. A ativação é uma combinação de atividades fisiológicas e psicológicas em uma pessoa e refere-se a dimensões de intensidade da motivação em determinado momento. Em outras palavras, a ativação é um continuum que vai de nem um pouco excitado (comatoso) a extremamente excitado (frenético). O estresse é “um desequilíbrio substancial entre demanda (física e/ou psicológica) e capacidade de resposta, sob condições em que deixar de satisfazer tal demanda tem importantes consequências”. Em síntese, isso quer dizer que há uma situação-problema. Uma vez que a capacidade de resolução é menor e a importância da situação é alta.

Teorias sobre a mentalização

A mentalização no treinamento de futebol é explicada por algumas teorias que tem efetividade comprovada em estudos. Seguem as principais:

  • A teoria psiconeuromuscular, que basicamente afirma que mentalizar facilita a aprendizagem de habilidades motoras devido à natureza dos padrões de atividade neuromuscular ativados durante a mentalização. Ou seja, os eventos mentalizados estimulam os músculos a exemplo da parte física do movimento.
  • A teoria da aprendizagem simbólica, que indica que a mentalização ajuda os indivíduos a entender e adquirir padrões de movimento.
  • A teoria bioinformativa, que traz a definição das proposições de estímulo e resposta. Sob o ponto de vista dessa teoria, as proposições de estímulo são enunciados que descrevem aspectos do cenário a ser mentalizado. Bem como, as de resposta descrevem a resposta da pessoa que mentaliza e visa produzir atividade fisiológica.

O modelo de código triplo, que define três efeitos fundamentais da mentalização: a imagem, a resposta somática e o significado. A relação entre essas três variáveis cria os diferentes efeitos de uma mesma visualização em diferentes pessoas.

Portanto, as explicações psicológicas da mentalização baseiam-se no conjunto atenção-ativação. Essas teorias afirmam que a mentalização funciona como um conjunto preparatório que ajuda a alcançar um nível de ativação ideal. Do mesmo modo, esse nível permite que o atleta se concentre em sinais relevantes à tarefa e desconsidere sinais irrelevantes. Outra explicação psicológica é a de que a mentalização ajuda a aumentar a confiança e a concentração e a diminuir a ansiedade.

Em síntese, todas as teorias possuem alguma validação através de estudos e explicam o funcionamento do mentalização.

Como realizar um programa de mentalização?

A aplicação da mentalização no treinamento do futebol requer um profissional qualificado. Apesar de parecer simples, a técnica possui peculiaridades que devem ser observadas.

A princípio, a implementação de um programa de treinamentos que incluem a mentalização necessita de um planejamento. Existem três fases: a fase educativa, a fase de aquisição e a fase prática. As habilidades devem ser aprendidas e praticadas. Dessa forma pode-se esperar resultados positivos com esse treinamento. Em suma, trabalhar as habilidades psicológicas no esporte requer constância. As atividades devem ocorrer tanto na pré-temporada, quanto durante a competição e após seu término e as avaliações dos resultados podem ser melhor observadas.

Agora veja este vídeo com um exemplo básico de visualização no treinamento de futebol.

Fontes e Referências

“Entrenamiento mental en el fútbol moderno: Herramientas prácticas” de Marcelo Roffé e Santiago Rivera.

Contato do autor – Instagram: @28padilha

Veja abaixo um episódio em nosso Podcast sobre o assunto:

Para receber conteúdos como esse em seu e-mail, participe da nossa Newsletter.

spot_img
spot_img

Posts Relacionados

Quais os critérios utilizados por treinadores da base no processo de seleção de jovens no Futebol?

Uma pesquisa recente investigou os fatores que influenciam a seleção de jovens jogadores de futebol. O estudo foi...

Os dados de GPS devem ser normalizados para monitoramento de desempenho e fadiga no futebol?

Um novo estudo publicado na revista German Journal of Exercise and Sport Research em junho de 2025 questiona a...

O que influencia a velocidade máxima nas partidas ao longo de uma temporada no Futebol?

Um estudo recente analisou a velocidade máxima atingida por jogadores de futebol durante as partidas, levando em consideração...

Tratamentos para dor crônica em jogadores de Futebol

Um estudo em formato de revisão integrativa analisou a eficácia de tratamentos farmacológicos e não farmacológicos na gestão...

João Bonfatti

João Bonfatti atualmente trabalha como Coordenador do setor de Análise de Desempenho no América-MG. Antes disso, teve passagens pelo Vasco da Gama, onde atuou em diferentes categorias: foi auxiliar técnico do Sub-20, treinador interino do Sub-17 e auxiliar técnico do Sub-17.

Atuou também pelo Atlético-MG, onde desempenhou o papel de auxiliar técnico do Sub-15. No Corinthians, auxiliar técnico do Sub-14, além de exercer a função de supervisor metodológico.

Sua formação inclui o Bacharelado em Futebol pela Universidade Federal de Viçosa e a Licença B da CBF Academy, o que reforça sua base teórica e prática no desenvolvimento de atletas.

Felipe Bonholi

Felipe Bonholi integra a equipe do Palmeiras como Analista de Desempenho no Centro de Formação de Atletas (CFA), contribuindo para o desenvolvimento e acompanhamento de jovens talentos.

Antes disso, acumulou cinco anos de experiência na Ferroviária, onde atuou como Analista de Desempenho da equipe profissional, e no São Carlos Futebol Clube na mesma função.

Sua formação acadêmica inclui Bacharelado em Administração de Empresas pela UNIARA (2014–2017) e graduação em andamento em Educação Física pela mesma instituição, iniciada em 2019.

Com sólida base teórica e ampla experiência prática, Felipe Bonholi se destaca por sua capacidade de integrar análise técnica, gestão e visão estratégica no contexto esportivo, contribuindo para o desempenho e evolução de atletas e equipes.

Mylena Baransk

Mylena Baransk é doutora em Educação Física pela Universidade Federal do Paraná e mestre em Ciências da Saúde pela Universidade Estadual de Ponta Grossa, onde também concluiu sua graduação em Educação Física – Bacharelado. Especialista em futsal com foco em análise de desempenho, atuou como docente em cursos do ensino superior e analista de desempenho no futebol.

Atualmente, exerce a função de analista de desempenho no Clube Atlético Mineiro, onde trabalha desde agosto de 2024. Antes disso, desempenhou a mesma função na Associação Ferroviária de Esportes entre março e agosto de 2024, atuando em Araraquara, São Paulo.

Além da atuação em clubes, possui experiência acadêmica como docente, tendo lecionado na UniCesumar entre julho e outubro de 2023, em Curitiba, Paraná. Também foi professora na UNIFATEB, onde atuou por quase três anos, de fevereiro de 2021 a outubro de 2023, em Telêmaco Borba, Paraná.

Com forte presença na área de análise de desempenho no futebol, também é CEO da Statisticsfut, onde se dedica ao desenvolvimento de conteúdos e estratégias voltadas à análise estatística e desempenho esportivo.

Nathália Arnosti

Nathália Arnosti é uma profissional de destaque na área de Fisiologia do Esporte e Preparação Física, com sólida formação acadêmica e ampla experiência no futebol brasileiro.

Bacharel e mestre em Educação Física pela Universidade Metodista de Piracicaba e doutora pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), ela construiu uma carreira marcada pela integração entre ciência e prática esportiva.

No cenário dos clubes, já contribuiu com equipes como Athletico Paranaense, Red Bull Bragantino, Palmeiras, Audax, Ferroviária e Ponte Preta. Em janeiro de 2024, assumiu o cargo de fisiologista do Cruzeiro, reforçando seu papel como referência no acompanhamento e otimização do desempenho esportivo.

Rodrigo Aquino

Rodrigo Aquino é professor na Universidade Federal do Espírito Santo, onde atua no Departamento de Desportos e como docente do Programa de Pós-Graduação em Educação Física (Mestrado e Doutorado).

É líder do Grupo de Estudos Pesquisa em Ciências no Futebol (GECIF/UFES) e coordenador do Programa Academia e Futebol (Núcleo UFES), financiado pelo Ministério do Esporte. Seu trabalho envolve a coordenação de projetos técnico-científicos em parceria com categorias de base e equipes profissionais de futebol no Brasil.

Rodrigo é graduado em Educação Física e Esporte pela USP, com especialização em Ciências do Desporto pela Universidade do Porto. Concluiu o mestrado e doutorado em Ciências também pela USP. Acumula experiência prática no futebol desde 2015 como fisiologista e preparador físico em clubes profissionais, além de atuar como treinador e coordenador técnico em categorias de base. Reconhecido academicamente, está entre os 10 cientistas do esporte mais produtivos da América Latina em publicações científicas relacionadas ao futebol.

Neto Pereira

Neto Pereira é um profissional de preparação física e performance esportiva com experiência em clubes do Brasil e do exterior. Atualmente é Preparador Físico no sub-20 do Vasco da Gama.

Trabalhou como Head Performance and Fitness Coach no FC Semey do Cazaquistão (2024). Foi Preparador Físico no Confiança (2023-2024) e Head of Performance and Health no Avaí (2022-2023). Também exerceu o cargo de Coordenador de Performance no Confiança (2022) e trabalhou como Fisiologista no CRB (2021-2022) e no próprio Confiança (2019-2021).

Possui Mestrado em Saúde e Educação Física pela Universidade Federal de Sergipe e Especialização em Desempenho Humano pela Universidade Tiradentes (Unit). Suas principais competências incluem preparação física, análise de desempenho, força, potência e velocidade no esporte.

Rafael Grazioli

Rafael Grazioli, natural de Canoas (RS), é formado em Educação Física pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), onde também concluiu mestrado e doutorado em Ciências do Movimento Humano.

Com nove anos de experiência atuando como coordenador científico e fisiologista no futebol profissional, ele passou as últimas três temporadas no Guarani de Campinas (SP) antes de ser anunciado pelo Criciúma em janeiro de 2025.