O treinamento psicológico no futebol

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O treinamento psicológico no futebol, também conhecido como treinamento mental ou treinamento de habilidades psicológicas, é a prática de habilidades mentais de forma sistemática, visando melhorar o desempenho, prazer ou satisfação na prática esportiva. A princípio, essas práticas se desenvolveram através dos estudos em Psicologia do Esporte.

Da mesma forma, essa especialidade da Psicologia se dedica a estudar pessoas e seus comportamentos em atividades esportivas e físicas. Nos esportes, o treinamento se baseia em dimensões: táticas, técnicas e físicas. Além disso, a dimensão psicológica abrange todas elas, visto que não há como trabalhar com seres humanos sem levar em conta as questões psicológicas.

Deste modo, cada esporte possui características únicas e, por isso, esse tipo de treinamento pode variar bastante. No caso do futebol algumas habilidades são mais importantes, como atenção, concentração e controle emocional, por exemplo.

Aplicação do treinamento psicológico

No esporte a preparação psicológica é uma prática sistemática, em que exige o regime de treinamento de forma constante. Nesse sentido, existem métodos e técnicas que auxiliam no desenvolvimento das chamadas habilidades psicológicas.

A princípio, essas técnicas permitem que atletas desenvolvam uma série de habilidades essenciais para a prática esportiva. Alguns exemplos dessas habilidades são: concentração, atenção, controle do estresse e da ativação. Quando esse treinamento ocorre de maneira organizada dentro do plano da equipe, os atletas conseguem realizar um processo chamado de autorregulação. Em outras palavras, é quando o atleta consegue trabalhar por objetivos de curto e longo prazo, monitorando e controlando efetivamente os pensamentos, sentimentos e comportamentos.

Como consequência, a preparação psicológica ou treinamento psicológico para um jogo de futebol é como a preparação física. Não adianta realizar alguns exercícios antes do jogo se você não está em uma rotina de treinamento. Portanto, frases motivacionais, tentativas de relaxamento e outras ações comuns podem não surtir efeito ou ainda causar um efeito negativo no aspecto psicológico dos atletas.

Para quem o treinamento é indicado?

Você já deve ter visto jogadores mais “esquentados”, outros mais “sonolentos” ou dispersos em campo. Em síntese, esses comportamentos podem ser sinais de que os jogadores estejam com dificuldades de manter a concentração no jogo, ou em controlar os níveis de ativação, por exemplo. Essa é uma explicação do porquê os fatores psicológicos são os principais responsáveis pelas oscilações de desempenho.

Por outro lado, não deve-se pensar que o treinamento de habilidades psicológicas é apenas para atletas problemáticos ou que apresentem baixo rendimento. Esse tipo de treinamento é de grande valia para todos os atletas pois desenvolver essas habilidades potencializa o rendimento.

Em suma, cada atleta sente e interpreta as situações de jogo à sua própria maneira. Por isso as técnicas e métodos devem ser individualizados. É necessário identificar as necessidades, planejar as intervenções necessárias e realizar ações de maneira adaptada. Dessa forma a preparação psicológica surtirá efeito positivo no rendimento durante um jogo de futebol.

Psicologia do esporte no futebol

Além do treinamento psicológico no futebol para jogos e competições, a Psicologia do Esporte tem muito mais contribuições para o futebol. Uma delas é o psicodiagnóstico, que é a avaliação psicológica do atleta. Essa avaliação ajuda a estabelecer perfis de personalidade que por sua vez ajudam a direcionar treinamentos ou formas de tratar/agir com cada atleta. Como dito anteriormente, cada atleta responde melhor a uma maneira particular.

Existe ainda a possibilidade de integração entre comissão técnica e psicologia para o desenvolvimento de treinamentos analíticos. São treinos que desenvolvam em integração aspectos psicológicos e físicos/técnicos/táticos. Um exemplo são os treinos voltados para o desenvolvimento da tomada de decisão.

Seja no esporte de alto rendimento, que é o futebol profissional, ou nas categorias de base a Psicologia se faz necessária. Tanto nos aspectos esportivos quanto para a promoção de um desenvolvimento mais saudável para crianças e adolescentes.

E engana-se quem acredita que o Psicólogo no contexto do futebol só trabalha com atletas. Além de atletas e comissão técnica, são realizadas ações com as famílias dos atletas (como no acompanhamento dos atletas na pandemia ou na adaptação de um atleta recém-chegado). Ações integradas com fisioterapeutas, no caso de lesionados, percebendo os impactos psicológicos da situação. Ações com nutricionistas, com fisiologistas, e demais funcionários do clube que possam trazer demandas.

O trabalho de preparação psicológica é, portanto, apenas um ramo dentro da atividade que pode ser desenvolvida pelo psicólogo em um clube de futebol. E esse trabalho é necessariamente interdisciplinar, visando as necessidades tanto dos clubes quanto dos atletas.

Veja abaixo um episódio em nosso Podcast sobre o assunto:

Fontes e Referências:

Sobre o treinamento mental específico do futebol, um excelente livro é “Entrenamiento mental en el fútbol moderno: Herramientas prácticas de Marcelo Roffé y Santiago Rivera.

Autor:
Instagram: @28padilha

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Rodrigo Aquino

Rodrigo Aquino é professor na Universidade Federal do Espírito Santo, onde atua no Departamento de Desportos e como docente do Programa de Pós-Graduação em Educação Física (Mestrado e Doutorado).

É líder do Grupo de Estudos Pesquisa em Ciências no Futebol (GECIF/UFES) e coordenador do Programa Academia e Futebol (Núcleo UFES), financiado pelo Ministério do Esporte. Seu trabalho envolve a coordenação de projetos técnico-científicos em parceria com categorias de base e equipes profissionais de futebol no Brasil.

Rodrigo é graduado em Educação Física e Esporte pela USP, com especialização em Ciências do Desporto pela Universidade do Porto. Concluiu o mestrado e doutorado em Ciências também pela USP. Acumula experiência prática no futebol desde 2015 como fisiologista e preparador físico em clubes profissionais, além de atuar como treinador e coordenador técnico em categorias de base. Reconhecido academicamente, está entre os 10 cientistas do esporte mais produtivos da América Latina em publicações científicas relacionadas ao futebol.

Neto Pereira

Neto Pereira é um profissional de preparação física e performance esportiva com experiência em clubes do Brasil e do exterior. Atualmente é Preparador Físico no sub-20 do Vasco da Gama.

Trabalhou como Head Performance and Fitness Coach no FC Semey do Cazaquistão (2024). Foi Preparador Físico no Confiança (2023-2024) e Head of Performance and Health no Avaí (2022-2023). Também exerceu o cargo de Coordenador de Performance no Confiança (2022) e trabalhou como Fisiologista no CRB (2021-2022) e no próprio Confiança (2019-2021).

Possui Mestrado em Saúde e Educação Física pela Universidade Federal de Sergipe e Especialização em Desempenho Humano pela Universidade Tiradentes (Unit). Suas principais competências incluem preparação física, análise de desempenho, força, potência e velocidade no esporte.

Rafael Grazioli

Rafael Grazioli, natural de Canoas (RS), é formado em Educação Física pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), onde também concluiu mestrado e doutorado em Ciências do Movimento Humano.

Com nove anos de experiência atuando como coordenador científico e fisiologista no futebol profissional, ele passou as últimas três temporadas no Guarani de Campinas (SP) antes de ser anunciado pelo Criciúma em janeiro de 2025.