Transferência de Aprendizagem do Futebol para a Escola

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É sabido que o futebol escolar, além de proporcionar atividade física e diversão, pode ser um aliado valioso na educação formal. Este mês, um estudo publicado na revista científica Physical Education and Sport Pedagogy, destacou quatro áreas principais de transferência de aprendizagem entre o futebol escolar e e o ensino formal na escola, em crianças ainda na iniciação esportiva.

O estudo foi conduzido por Abel Merino Orozco, do Departamento de Ciência da Educação da Universidade de Burgos na Espanha, juntamente com seus colaboradores; com o título Exploring socio-educational learning transfer between school and non-formal school football in six- and seven-year-old children, em tradução livre: “Explorando a transferência de aprendizagem socioeducativa entre o futebol escolar e o futebol escolar não formal em crianças de seis e sete anos de idade

Os pesquisadores buscaram compreender as principais implicações educativas na transferência de aprendizagens entre o ambiente não formal do futebol escolar e a escola, de forma a procurar a otimização das estratégias de apoio. Os autores acompanharam 57 escolares de seis anos e 44 escolares de sete anos, durante o primeiro e segundo ano de participação no futebol, por meio de observação além de entrevistas com professores, monitores e familiares.

E como resultado, o estudo destacou quatro áreas principais de transferência de aprendizagem entre o futebol e a escola:

1. Quase-escola

O futebol funciona como uma “quase-escola”, onde os conteúdos aprendidos em sala se conectam com a prática esportiva. Valores como disciplina, trabalho em equipe e fair play ganham vida no gramado, reforçando o que é ensinado em sala de aula.

2. Socialização

O esporte é um terreno fértil para o desenvolvimento de habilidades sociais. O futebol escolar cria um complexo network de relações, onde as crianças aprendem a colaborar, respeitar diferenças e lidar com hierarquias baseadas em habilidades.

3. Construção de identidade competitiva

O futebol contribui para a formação da identidade da criança, moldando sua autoestima e capacidade de adaptação a diferentes papéis dentro da equipe. A gestão das emoções, o entendimento de moralidade competitiva e a autoavaliação são aspectos trabalhados durante os jogos e treinos.

4. Autoavaliação

A avaliação no futebol costuma ser focada em resultados e desempenho individual. As crianças internalizam essa perspectiva, criando seus próprios padrões de autoavaliação baseados em conquistas quantificáveis e contribuição para o time.

O futebol escolar tem o potencial de ser muito mais do que apenas um passatempo. Ao utilizá-lo como ferramenta complementar à educação formal, podemos contribuir para o desenvolvimento integral das crianças, formando cidadãos conscientes, responsáveis e socialmente engajados.

Para otimizar esse processo de aprendizagem, o estudo ressalta a importância da comunicação entre escola, família e monitores esportivos. O trabalho conjunto desses agentes educacionais é fundamental para potencializar o impacto positivo do futebol na formação das crianças.

Conclusões e Recomendações

Além dos resultados do estudo, outras recomendações são importantes para treinadores e professores dos anos iniciais.

Por exemplo, o Futebol pode gerar discussões e desentendimentos. É importante que pais, professores e monitores estejam preparados para mediar esses conflitos, transformando-os em oportunidades de aprendizado sobre resolução de problemas e empatia.

Outro destaque é que se deve desenvolver habilidades sociais, uma vez que o esporte pode ser um catalisador para o desenvolvimento de habilidades essenciais, como comunicação, liderança e cooperação. É importante criar um ambiente inclusivo e respeitoso, onde todas as crianças se sintam acolhidas e valorizadas.

A competição saudável é também destacado. Nessas idades, deve-se utlizar a competição como uma ferramenta e não um fim. A vitória é importante, mas não é tudo. É fundamental ensinar às crianças a valorizar o esforço, o respeito ao adversário e o espírito de equipe, construindo uma visão equilibrada da competição.

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Rodrigo Aquino

Rodrigo Aquino é professor na Universidade Federal do Espírito Santo, onde atua no Departamento de Desportos e como docente do Programa de Pós-Graduação em Educação Física (Mestrado e Doutorado).

É líder do Grupo de Estudos Pesquisa em Ciências no Futebol (GECIF/UFES) e coordenador do Programa Academia e Futebol (Núcleo UFES), financiado pelo Ministério do Esporte. Seu trabalho envolve a coordenação de projetos técnico-científicos em parceria com categorias de base e equipes profissionais de futebol no Brasil.

Rodrigo é graduado em Educação Física e Esporte pela USP, com especialização em Ciências do Desporto pela Universidade do Porto. Concluiu o mestrado e doutorado em Ciências também pela USP. Acumula experiência prática no futebol desde 2015 como fisiologista e preparador físico em clubes profissionais, além de atuar como treinador e coordenador técnico em categorias de base. Reconhecido academicamente, está entre os 10 cientistas do esporte mais produtivos da América Latina em publicações científicas relacionadas ao futebol.

Neto Pereira

Neto Pereira é um profissional de preparação física e performance esportiva com experiência em clubes do Brasil e do exterior. Atualmente é Preparador Físico no sub-20 do Vasco da Gama.

Trabalhou como Head Performance and Fitness Coach no FC Semey do Cazaquistão (2024). Foi Preparador Físico no Confiança (2023-2024) e Head of Performance and Health no Avaí (2022-2023). Também exerceu o cargo de Coordenador de Performance no Confiança (2022) e trabalhou como Fisiologista no CRB (2021-2022) e no próprio Confiança (2019-2021).

Possui Mestrado em Saúde e Educação Física pela Universidade Federal de Sergipe e Especialização em Desempenho Humano pela Universidade Tiradentes (Unit). Suas principais competências incluem preparação física, análise de desempenho, força, potência e velocidade no esporte.

Rafael Grazioli

Rafael Grazioli, natural de Canoas (RS), é formado em Educação Física pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), onde também concluiu mestrado e doutorado em Ciências do Movimento Humano.

Com nove anos de experiência atuando como coordenador científico e fisiologista no futebol profissional, ele passou as últimas três temporadas no Guarani de Campinas (SP) antes de ser anunciado pelo Criciúma em janeiro de 2025.