Os dados de GPS devem ser normalizados para monitoramento de desempenho e fadiga no futebol?

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Um novo estudo publicado na revista German Journal of Exercise and Sport Research em junho de 2025 questiona a eficácia dos métodos atuais de monitoramento de corrida de alta velocidade (HSR) no futebol, propondo uma abordagem mais individualizada.

O artigo foi desenvolvido por Ricardo Pimenta, Hugo Antunes, João Ribeiro e Fábio Yuzo Nakamura; especialistas de instituições de renome no cenário esportivo, incluindo o Research Center in Sports Sciences, Health Sciences and Human Development (CIDESD) da Universidade da Maia, em Portugal, e o Football Science Institute (FSI Lab), na Espanha.

Quais foram os objetivos do artigo?

O principal objetivo dos autores foi questionar a eficácia dos métodos atuais de monitoramento da corrida de alta velocidade (HSR) no futebol, propondo uma abordagem mais individualizada.

Eles apontam que os limiares fixos de HSR que usamos hoje – como 14,4 km/h a 21,1 km/h para homens e 12,2 km/h a 15,6 km/h para mulheres – não fazem sentido, já que ignoram as capacidades únicas de cada jogador. Essa padronização pode levar a treinos inadequados, prejudicando o desempenho e aumentando o risco de lesões.

Como o estudo foi realizado?

Este artigo foi uma discussão teórico-prática que se baseia em uma análise profunda da literatura sobre o uso de dados de GPS no futebol. Os autores defendem que usar limiares de velocidade fixos pode distorcer a verdadeira intensidade do esforço dos atletas.

Para ilustrar isso, eles citam um exemplo: ao usar o segundo limiar ventilatório (VT2) como referência para HSR, a distância percorrida foi 167% maior em comparação com o limiar absoluto de 19,8 km/h.

Desse modo, a proposta central do estudo foi dividir a corrida de alta intensidade em duas categorias:

  • Corrida de alta intensidade-1: Com um limiar de entrada baseado em uma velocidade crítica normalizada.
  • Corrida de alta intensidade-2: Definida por um limiar de entrada que equivale a 75% da velocidade máxima do atleta.

Essa divisão visa refletir de forma mais precisa os aspectos fisiológicos, mecânicos e neuromusculares, além do perfil intermitente das partidas de futebol.

Principais conclusões práticas

Os autores ressaltam a importância de adotar uma abordagem normalizada para a corrida de alta velocidade, abandonando os limiares absolutos. Usar limiares arbitrários pode levar a interpretações erradas da carga externa imposta aos atletas, resultando em treinamentos inadequados e aumentando o risco de lesões.

Com essa abordagem normalizada, treinadores e cientistas do esporte teriam uma compreensão mais precisa das consequências da corrida de alta velocidade no desenvolvimento da fadiga. Isso permitiria minimizar a fadiga, otimizar o desempenho e impactar positivamente a prevenção de lesões.

Além disso, a individualização dos limiares de velocidade é vista como um passo crucial para aplicar estímulos de treinamento que estejam alinhados às capacidades máximas de cada atleta, respeitando os princípios da individualização e sobrecarga progressiva.

No entanto, o estudo também pondera que, apesar das vantagens da normalização para treinos individualizados, a comparação entre atletas ainda exigiria o uso de limiares absolutos. Isso seria útil para referenciar o desempenho em jogos ou treinos, fornecendo uma medida coletiva para a equipe ou posições específicas.

O artigo completo está disponível clicando aqui

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João Bonfatti

João Bonfatti é um profissional com trajetória no futebol de base e no alto rendimento, tendo atuado em algumas das principais instituições do país.

Atualmente, trabalha como Coordenador do setor de Análise de Desempenho no América Futebol Clube, em Belo Horizonte. Antes disso, teve passagem marcante pelo Vasco da Gama, onde atuou em diferentes categorias: foi auxiliar técnico do Sub-20, treinador interino do Sub-17 e auxiliar técnico do Sub-17.

No Atlético Mineiro, João desempenhou o papel de auxiliar técnico do Sub-15. No Corinthians, atuou como auxiliar técnico do Sub-14, além de exercer a função de supervisor metodológico, com foco na estruturação dos processos de treinamento.

Sua formação inclui o Bacharelado em Futebol pela Universidade Federal de Viçosa e a Licença B da CBF Academy, o que reforça sua base teórica e prática no desenvolvimento de atletas.

Felipe Bonholi

Felipe Bonholi integra a equipe do Palmeiras como Analista de Desempenho no Centro de Formação de Atletas (CFA), contribuindo para o desenvolvimento e acompanhamento de jovens talentos.

Antes disso, acumulou cinco anos de experiência na Ferroviária, onde atuou como Analista de Desempenho da equipe profissional. Ante disso, trabalhou no São Carlos Futebol Clube na mesma função.

Sua formação acadêmica inclui Bacharelado em Administração de Empresas pela UNIARA (2014–2017) e graduação em andamento em Educação Física pela mesma instituição, iniciada em 2019.

Com sólida base teórica e ampla experiência prática, Felipe Bonholi se destaca por sua capacidade de integrar análise técnica, gestão e visão estratégica no contexto esportivo, contribuindo para o desempenho e evolução de atletas e equipes.

Mylena Baransk

Mylena Baransk é doutora em Educação Física pela Universidade Federal do Paraná e mestre em Ciências da Saúde pela Universidade Estadual de Ponta Grossa, onde também concluiu sua graduação em Educação Física – Bacharelado. Especialista em futsal com foco em análise de desempenho, atuou como docente em cursos do ensino superior e analista de desempenho no futebol.

Atualmente, exerce a função de analista de desempenho no Clube Atlético Mineiro, onde trabalha desde agosto de 2024. Antes disso, desempenhou a mesma função na Associação Ferroviária de Esportes entre março e agosto de 2024, atuando em Araraquara, São Paulo.

Além da atuação em clubes, possui experiência acadêmica como docente, tendo lecionado na UniCesumar entre julho e outubro de 2023, em Curitiba, Paraná. Também foi professora na UNIFATEB, onde atuou por quase três anos, de fevereiro de 2021 a outubro de 2023, em Telêmaco Borba, Paraná.

Com forte presença na área de análise de desempenho no futebol, também é CEO da Statisticsfut, onde se dedica ao desenvolvimento de conteúdos e estratégias voltadas à análise estatística e desempenho esportivo.

Nathália Arnosti

Nathália Arnosti é uma profissional de destaque na área de Fisiologia do Esporte e Preparação Física, com sólida formação acadêmica e ampla experiência no futebol brasileiro.

Bacharel e mestre em Educação Física pela Universidade Metodista de Piracicaba e doutora pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), ela construiu uma carreira marcada pela integração entre ciência e prática esportiva.

No cenário dos clubes, já contribuiu com equipes como Athletico Paranaense, Red Bull Bragantino, Palmeiras, Audax, Ferroviária e Ponte Preta. Em janeiro de 2024, assumiu o cargo de fisiologista do Cruzeiro, reforçando seu papel como referência no acompanhamento e otimização do desempenho esportivo.

Rodrigo Aquino

Rodrigo Aquino é professor na Universidade Federal do Espírito Santo, onde atua no Departamento de Desportos e como docente do Programa de Pós-Graduação em Educação Física (Mestrado e Doutorado).

É líder do Grupo de Estudos Pesquisa em Ciências no Futebol (GECIF/UFES) e coordenador do Programa Academia e Futebol (Núcleo UFES), financiado pelo Ministério do Esporte. Seu trabalho envolve a coordenação de projetos técnico-científicos em parceria com categorias de base e equipes profissionais de futebol no Brasil.

Rodrigo é graduado em Educação Física e Esporte pela USP, com especialização em Ciências do Desporto pela Universidade do Porto. Concluiu o mestrado e doutorado em Ciências também pela USP. Acumula experiência prática no futebol desde 2015 como fisiologista e preparador físico em clubes profissionais, além de atuar como treinador e coordenador técnico em categorias de base. Reconhecido academicamente, está entre os 10 cientistas do esporte mais produtivos da América Latina em publicações científicas relacionadas ao futebol.

Neto Pereira

Neto Pereira é um profissional de preparação física e performance esportiva com experiência em clubes do Brasil e do exterior. Atualmente é Preparador Físico no sub-20 do Vasco da Gama.

Trabalhou como Head Performance and Fitness Coach no FC Semey do Cazaquistão (2024). Foi Preparador Físico no Confiança (2023-2024) e Head of Performance and Health no Avaí (2022-2023). Também exerceu o cargo de Coordenador de Performance no Confiança (2022) e trabalhou como Fisiologista no CRB (2021-2022) e no próprio Confiança (2019-2021).

Possui Mestrado em Saúde e Educação Física pela Universidade Federal de Sergipe e Especialização em Desempenho Humano pela Universidade Tiradentes (Unit). Suas principais competências incluem preparação física, análise de desempenho, força, potência e velocidade no esporte.

Rafael Grazioli

Rafael Grazioli, natural de Canoas (RS), é formado em Educação Física pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), onde também concluiu mestrado e doutorado em Ciências do Movimento Humano.

Com nove anos de experiência atuando como coordenador científico e fisiologista no futebol profissional, ele passou as últimas três temporadas no Guarani de Campinas (SP) antes de ser anunciado pelo Criciúma em janeiro de 2025.