Afinal, o que é Jogo de Posição?

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Foto de Waldemar na Unsplash

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No futebol, a moda é ditada pelos treinadores vencedores, e atualmente, muito se fala em “Juego de Ubicación”, ou melhor, “Jogo de Posição”. São inúmeras lives, conversas, e até aulas abrangendo informações acerca do futebol das equipes de Guardiola. No entanto, o Jogo de Posição não é uma novidade, ele já existia em 1954, e desde então, vem sofrendo algumas mudanças.

Mas calma! Para você que nunca ouviu este termo, não se assuste. Deixe-me falar um pouco sobre esta cultura de jogo.

Por exemplo, Johan Cruyff, Louis Van Gaal e Pep Guardiola são apenas alguns dos técnicos que fizeram história com este conjunto de ideias. Porém, para compreendê-las é necessário estarmos atentos a alguns conceitos que serão explicados ao longo do texto.

O Jogo de Posição ressalta a relação entre os jogadores da mesma equipe (cooperação) e jogadores da equipe adversária (oposição). Sendo expressa por quem ocupa a largura (amplitude) e o comprimento (profundidade) do campo, a fim de criar diferentes superioridades no jogo.

Assim sendo, partindo dessa premissa, a todo momento deve ter um jogador que cubra cada posição, como Marti Perarnau colocou no livro Guardiola Confidencial. Mas lembre-se, os atletas não são estáticos, como uma mesa de pebolim. Eles podem se mover, desde que atuem com responsabilidade.

Espaços que os jogadores podem influenciar

Acima de tudo, sabemos que nos esportes coletivos, há interações de curto prazo o tempo todo, especialmente no futebol. Por isso, os jogadores são orientados a estarem entrosados durante a partida, sendo divididos em quatro espaços modificados conforme a localização da bola no campo, vejamos:

1 – Espaços de Fase: Onde o jogo pode acontecer;

Fonte: criado pelo autor

2- Espaço de Intervenção: Portador e Opositor;

Fonte: criado pelo autor

3 – Espaço de Ajuda Mútua: Jogadores próximos à intervenção

Fonte: criado pelo autor

4 – Espaço de Cooperação: Todo o espaço que resta do espaço efetivo de jogo.

Fonte: criado pelo autor

Na mesma linha, vamos entender agora sobre os princípios do jogo de posição.

Princípios do Jogo de Posição

  • Gestão de Espaço/Tempo: O jogador com a bola em um destes espaços, deve utilizar o tempo em benefício próprio ou do companheiro. Então pergunto-lhe, qual é o momento certo de agir? Com que velocidade a ação deve ser executada? As respostas destas questões devem favorecer você ou o seu colega.
  • Encontrar ou se reconhecer como Homem Livre: Neste, destaco as dinâmicas de atrair/fixar o oponente para libertar um de seus companheiros. Por exemplo, o jogo é onze contra onze. Portanto, se você consegue chamar a atenção de dois adversários, alguém ficará livre para receber a bola. Um dos caminhos para encontrar o homem livre é através do conceito de 3º homem.
Fonte: criado pelo autor
Fonte: criado pelo autor
  • Olhar para a profundidade: Com a bola, Cruyff pedia para Guardiola procurar Romário, por vezes do outro lado do campo, e frequentemente a frente dele. Quando os companheiros o encontravam, Romário levava vantagem no 1×1, o que proporcionava grandes chances ao time.
  • Criação de diferentes superioridades: Como você leu aqui no blog, durante o jogo pode-se gerar diversas vantagens, e são nessas ocasiões que o lance de perigo surge.
  • Viajar Juntos: Os titulares necessitam atuar como uma unidade para dificultar o contra-ataque adversário. Isto é, estarem compactados, pois quando perderem a bola, o intuito é recuperá-la rapidamente (Pressão Pós Perda). Ou seja, esteja ciente que, durante o processo de ataque, é preciso promover futuras condições defensivas e vice-versa.

O jogo de posição e a posse de bola

“Existe apenas uma bola, e você deve tê-la” – Johan Cruyff

A manutenção da posse de bola é muito importante no Jogo de Posição. Desse modo, trata-se de uma ferramenta para tentar alterar a estrutura da equipe adversária, e consequentemente, gerar espaços prestes a explorá-los.

Neste sentido, uma pesquisa fez a análise do impacto da posse de bola com 70 campeões de 35 ligas em duas temporadas. O percentual médio de posse de bola dos vencedores foi de 57%. A Ligue 2 (francesa) foi o único torneio entre as 35 ligas em que os campeões tiveram em média um percentual de posse de bola inferior a 50%.

Para além disso, o clube de Pep Guardiola – Manchester City – se destaca entre os campeões com maior percentual de posse de bola. Coincidência?

Considerando esses aspectos, os dados fornecidos pela InStat oferecem diversas oportunidades para interpretações. Uma delas, mostra que as equipes ambiciosas devem conseguir manter a posse de bola. No entanto, muitas vezes os atletas aceitam o domínio adversário, sobretudo quando estão ganhando. Em contrapartida, os estudiosos concluem que essa não é a melhor estratégia a longo prazo. Mas saiba que o futebol é imprevisível, e, às vezes, a equipe que tem o menor percentual de posse de bola é aquela que sai vitoriosa.

Então quer dizer que o Jogo de Posição é só passar a bola?

NÃO! Deve haver intencionalidade! Guardiola esclarece que odeia o “tiki-taka” – termo associado ao Barcelona devido a sua eficiente troca de passes – pois não existe propósito. É preciso passar a bola com uma intenção clara. Não é passar a bola só por passar.

Não há fórmulas para o sucesso

Dados os fatos, muita gente se confunde com o Jogo de Posição. Consequentemente o argumento utilizado traz a limitação da criatividade e da mobilidade dos jogadores. Até porque, deve haver o preenchimento dos atletas em todas as posições, não é?

Sim, mas trata-se de ocupar a posição, não importa quem irá ocupá-la. Logo, a troca de posições é constante, sempre existindo dinâmicas entre os jogadores. Seja com ou sem a posse de bola.

Em suma, praticar o Jogo de Posição não é sinônimo de vitória, tampouco a maneira correta ou errada para se chegar ao sucesso. É apenas uma cultura, perante a qual determinará a sua forma de jogar. Afinal, quaisquer ideias bem executadas aumentam a probabilidade do treinador vencer. Seja ele adepto ao Jogo de Posição, ou não.

Confira um episódio do Podcast Ciência da Bola que fala sobre o assunto:

Fontes e Referências:

How importante is ball possession in football – Raffaelle Poli, Loic Ravenel, Roger Besso .

Periodização Tática: Explorando sua organização concepto-metodológica – Julian Bertasso Tobar.

Instagram: g_tadashi
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João Bonfatti

João Bonfatti atualmente trabalha como Coordenador do setor de Análise de Desempenho no América-MG. Antes disso, teve passagens pelo Vasco da Gama, onde atuou em diferentes categorias: foi auxiliar técnico do Sub-20, treinador interino do Sub-17 e auxiliar técnico do Sub-17.

Atuou também pelo Atlético-MG, onde desempenhou o papel de auxiliar técnico do Sub-15. No Corinthians, auxiliar técnico do Sub-14, além de exercer a função de supervisor metodológico.

Sua formação inclui o Bacharelado em Futebol pela Universidade Federal de Viçosa e a Licença B da CBF Academy, o que reforça sua base teórica e prática no desenvolvimento de atletas.

Felipe Bonholi

Felipe Bonholi integra a equipe do Palmeiras como Analista de Desempenho no Centro de Formação de Atletas (CFA), contribuindo para o desenvolvimento e acompanhamento de jovens talentos.

Antes disso, acumulou cinco anos de experiência na Ferroviária, onde atuou como Analista de Desempenho da equipe profissional, e no São Carlos Futebol Clube na mesma função.

Sua formação acadêmica inclui Bacharelado em Administração de Empresas pela UNIARA (2014–2017) e graduação em andamento em Educação Física pela mesma instituição, iniciada em 2019.

Com sólida base teórica e ampla experiência prática, Felipe Bonholi se destaca por sua capacidade de integrar análise técnica, gestão e visão estratégica no contexto esportivo, contribuindo para o desempenho e evolução de atletas e equipes.

Mylena Baransk

Mylena Baransk é doutora em Educação Física pela Universidade Federal do Paraná e mestre em Ciências da Saúde pela Universidade Estadual de Ponta Grossa, onde também concluiu sua graduação em Educação Física – Bacharelado. Especialista em futsal com foco em análise de desempenho, atuou como docente em cursos do ensino superior e analista de desempenho no futebol.

Atualmente, exerce a função de analista de desempenho no Clube Atlético Mineiro, onde trabalha desde agosto de 2024. Antes disso, desempenhou a mesma função na Associação Ferroviária de Esportes entre março e agosto de 2024, atuando em Araraquara, São Paulo.

Além da atuação em clubes, possui experiência acadêmica como docente, tendo lecionado na UniCesumar entre julho e outubro de 2023, em Curitiba, Paraná. Também foi professora na UNIFATEB, onde atuou por quase três anos, de fevereiro de 2021 a outubro de 2023, em Telêmaco Borba, Paraná.

Com forte presença na área de análise de desempenho no futebol, também é CEO da Statisticsfut, onde se dedica ao desenvolvimento de conteúdos e estratégias voltadas à análise estatística e desempenho esportivo.

Nathália Arnosti

Nathália Arnosti é uma profissional de destaque na área de Fisiologia do Esporte e Preparação Física, com sólida formação acadêmica e ampla experiência no futebol brasileiro.

Bacharel e mestre em Educação Física pela Universidade Metodista de Piracicaba e doutora pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), ela construiu uma carreira marcada pela integração entre ciência e prática esportiva.

No cenário dos clubes, já contribuiu com equipes como Athletico Paranaense, Red Bull Bragantino, Palmeiras, Audax, Ferroviária e Ponte Preta. Em janeiro de 2024, assumiu o cargo de fisiologista do Cruzeiro, reforçando seu papel como referência no acompanhamento e otimização do desempenho esportivo.

Rodrigo Aquino

Rodrigo Aquino é professor na Universidade Federal do Espírito Santo, onde atua no Departamento de Desportos e como docente do Programa de Pós-Graduação em Educação Física (Mestrado e Doutorado).

É líder do Grupo de Estudos Pesquisa em Ciências no Futebol (GECIF/UFES) e coordenador do Programa Academia e Futebol (Núcleo UFES), financiado pelo Ministério do Esporte. Seu trabalho envolve a coordenação de projetos técnico-científicos em parceria com categorias de base e equipes profissionais de futebol no Brasil.

Rodrigo é graduado em Educação Física e Esporte pela USP, com especialização em Ciências do Desporto pela Universidade do Porto. Concluiu o mestrado e doutorado em Ciências também pela USP. Acumula experiência prática no futebol desde 2015 como fisiologista e preparador físico em clubes profissionais, além de atuar como treinador e coordenador técnico em categorias de base. Reconhecido academicamente, está entre os 10 cientistas do esporte mais produtivos da América Latina em publicações científicas relacionadas ao futebol.

Neto Pereira

Neto Pereira é um profissional de preparação física e performance esportiva com experiência em clubes do Brasil e do exterior. Atualmente é Preparador Físico no sub-20 do Vasco da Gama.

Trabalhou como Head Performance and Fitness Coach no FC Semey do Cazaquistão (2024). Foi Preparador Físico no Confiança (2023-2024) e Head of Performance and Health no Avaí (2022-2023). Também exerceu o cargo de Coordenador de Performance no Confiança (2022) e trabalhou como Fisiologista no CRB (2021-2022) e no próprio Confiança (2019-2021).

Possui Mestrado em Saúde e Educação Física pela Universidade Federal de Sergipe e Especialização em Desempenho Humano pela Universidade Tiradentes (Unit). Suas principais competências incluem preparação física, análise de desempenho, força, potência e velocidade no esporte.

Rafael Grazioli

Rafael Grazioli, natural de Canoas (RS), é formado em Educação Física pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), onde também concluiu mestrado e doutorado em Ciências do Movimento Humano.

Com nove anos de experiência atuando como coordenador científico e fisiologista no futebol profissional, ele passou as últimas três temporadas no Guarani de Campinas (SP) antes de ser anunciado pelo Criciúma em janeiro de 2025.