Como ser um treinador de futebol

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Com o tempo gerou-se uma discussão entre treinadores ex-atletas e os treinadores graduados, sobre quais as melhores formações para um treinador de futebol. Ao mesmo tempo um é detentor da prática e o outro da teoria acadêmica e científica. Dessa forma, trago para vocês trajetórias diferentes de dois técnicos brasileiros de futebol: Tiago Nunes e Renato Portaluppi (guarde esses nomes).

Utilizando parte do seu conhecimento acadêmico, Tiago triunfou diversos títulos em sua carreira sob o comando do clube Athletico Paranaense. Assim como ele, Renato também obteve várias conquistas no Grêmio e Flamengo. Mas, por outro lado, não percorreu o mesmo caminho que o outro treinador. A princípio, ambos são colegas de profissão. Entretanto, apresentam inúmeras diferenças. Sendo assim, uma delas, em que destacarei, são as respectivas formações para adquirirem esse cargo.

Graduação em educação física

O primeiro passo é apresentar o registro no CREF (Conselho Regional de Educação Física). Dessa forma, bioquímica, anatomia e fisiologia são algumas das diversas matérias que você terá ao decorrer do curso de graduação. Em suma, é de extrema importância, no mínimo, saber as estruturas, os sistemas e a funcionalidade do corpo humano durante o treinamento.

Licenças da CBF

Caso você queira progredir nesse âmbito, é aconselhável (não obrigatório) obter as Licenças da Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Essa confederação disponibiliza cursos de capacitação, buscando qualificar o profissional que almeja atuar como treinador de futebol. Por isso, a CBF Academy oferece 4 cursos: Licença C, Licença B, Licença A e Licença PRO. Ao passo que uma depende da outra.

Detalhes sobre as licenças

A qualificação referente a Licença C possui uma grade curricular que abrange diversas matérias. Tais como: gestão de escolas de futebol; aspectos gerais do desenvolvimento do talento brasileiro; futebol, cultura, infância e juventude. Ao final da formação, você poderá atuar em escolas de futebol para crianças e adolescentes.

Contendo a Licença C, você poderá garantir a Licença B. Treinamento de campo nas categorias de base e características do jogo brasileiro, são algumas das matérias que compõem essa capacitação. Portanto, o profissional habilitado com a Licença B, terá permissão para lidar com as categorias de base.

Ter o certificado de conclusão da Licença B, permite aos treinadores ingressarem no curso da Licença A. Os conteúdos dessa licença visam equipes profissionais. Bem como: gestão de equipes profissionais; treinamento de campo no futebol profissional; treinamento de goleiros. Dessa maneira, com a Licença A em mãos, o técnico é autorizado a treinar clubes de alto rendimento.

Por último, há a Licença PRO, em que a qualificação é atribuída apenas para os convidados, além de apresentar conteúdos bem densos. Como por exemplo: gestão de crises e conflitos; planejamento técnico plurianual; legislação esportiva internacional, etc.

Isso posto, os cursos não são baratos. Nos dias de hoje, o investimento total se aproxima dos R$ 40 mil – aproximadamente R$ 5.600,00 pela Licença C, R$ 6.170,00 pela Licença B, R$ 8.840,00 pela Licença A e R$ 19.130,00 pela Licença PRO (informações obtidas no site da CBF Academy em 2020).

Outros caminhos para ser um treinador de futebol

Se você apresentar experiências como atleta profissional, não há necessidade de seguir as instruções citadas acima. Portanto, dependendo da duração da sua vivência como esportista, pode-se criar alguns atalhos. Afinal, essa situação é frequente com jogadores que se aposentam, e posteriormente desejam atuar como treinadores de futebol.

Além disso, é possível executar o cargo de técnico dessa modalidade em outros países. Contudo, “ainda” não é permitido trabalhar em equipes internacionais profissionais apenas com as Licenças da CBF. Isto significa que, é exigido realizar os cursos de outras confederações, pois não há equivalência das Licenças da CBF com as Licenças do exterior.

Treinador de futebol graduado ou ex-atleta?

Lembra-se daqueles nomes citados no início do texto? Perfeito!

Tiago Nunes, seguiu a trajetória acadêmica, sendo graduado em educação física e realizando várias especializações. Em contrapartida, Renato Portaluppi optou pelo caminho mais rápido, visto que já teve experiências como jogador de futebol profissional.  Para isso, o argumento utilizado foi que, os ex-atletas possuem vivências o suficiente dentro de campo para comandar uma equipe.

Portanto, apesar de apresentarem diferentes percursos de formação, não há um perfil totalmente certo ou errado. Já que, Paulo Freire, apontado na literatura como o mentor da educação, argumenta que, a teoria sem a prática vira “verbalismo”, bem como a prática sem teoria, vira ativismo. Logo, quando se une a prática com a teoria tem-se a práxis, a ação modificadora da realidade.

Veja abaixo um episódio em nosso Podcast sobre o assunto:

https://youtu.be/jwFmLkEl1-0

Fontes e Referenciais

Contato do Autor Instagram: g_tadashi

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Rodrigo Aquino

Rodrigo Aquino é professor na Universidade Federal do Espírito Santo, onde atua no Departamento de Desportos e como docente do Programa de Pós-Graduação em Educação Física (Mestrado e Doutorado).

É líder do Grupo de Estudos Pesquisa em Ciências no Futebol (GECIF/UFES) e coordenador do Programa Academia e Futebol (Núcleo UFES), financiado pelo Ministério do Esporte. Seu trabalho envolve a coordenação de projetos técnico-científicos em parceria com categorias de base e equipes profissionais de futebol no Brasil.

Rodrigo é graduado em Educação Física e Esporte pela USP, com especialização em Ciências do Desporto pela Universidade do Porto. Concluiu o mestrado e doutorado em Ciências também pela USP. Acumula experiência prática no futebol desde 2015 como fisiologista e preparador físico em clubes profissionais, além de atuar como treinador e coordenador técnico em categorias de base. Reconhecido academicamente, está entre os 10 cientistas do esporte mais produtivos da América Latina em publicações científicas relacionadas ao futebol.

Neto Pereira

Neto Pereira é um profissional de preparação física e performance esportiva com experiência em clubes do Brasil e do exterior. Atualmente é Preparador Físico no sub-20 do Vasco da Gama.

Trabalhou como Head Performance and Fitness Coach no FC Semey do Cazaquistão (2024). Foi Preparador Físico no Confiança (2023-2024) e Head of Performance and Health no Avaí (2022-2023). Também exerceu o cargo de Coordenador de Performance no Confiança (2022) e trabalhou como Fisiologista no CRB (2021-2022) e no próprio Confiança (2019-2021).

Possui Mestrado em Saúde e Educação Física pela Universidade Federal de Sergipe e Especialização em Desempenho Humano pela Universidade Tiradentes (Unit). Suas principais competências incluem preparação física, análise de desempenho, força, potência e velocidade no esporte.

Rafael Grazioli

Rafael Grazioli, natural de Canoas (RS), é formado em Educação Física pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), onde também concluiu mestrado e doutorado em Ciências do Movimento Humano.

Com nove anos de experiência atuando como coordenador científico e fisiologista no futebol profissional, ele passou as últimas três temporadas no Guarani de Campinas (SP) antes de ser anunciado pelo Criciúma em janeiro de 2025.