Fisiologia no futebol: quais metabolismos energéticos estão envolvidos?

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Foto de mahan turga na Unsplash

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Nesse texto iremos discutir, primeiramente, os aspectos da fisiologia no futebol. Entenderemos quais são as formas de obter energia durante o exercício e o quanto é exigente para o atleta participar de um jogo de futebol. Além disso, quais são os mecanismos responsáveis por causar o estado de fadiga no jogador de futebol.

O que é a fisiologia do exercício e sua ligação com o futebol?

A princípio, para compreendermos os aspectos fisiológicos no futebol, é necessário possuirmos conhecimento acerca dos conceitos fisiológicos atrelados a qualquer categoria de exercício. Sendo assim, o corpo humano possui duas grandes vias de obtenção de energia para se movimentar: anaeróbica e aeróbica. A utilização dessas duas vias é definida através da característica do próprio exercício. No entanto, é importante entender que essas vias são usadas simultaneamente e, a categoria do trabalho físico, definirá a predominância entre uma via e outra.

Sistema Anaeróbico

A via energética anaeróbica pode ser dividida em alática e lática. Ou seja, a via energética anaeróbica alática possui, predominantemente, característica de fornecer energia de forma rápida através da creatina fosfato sem a presença de oxigênio. Por exemplo, em exercícios de curta duração, como uma corrida em velocidade máxima em 10 segundos.

Já a via energética anaeróbica lática, está atrelada a exercícios um pouco mais longos, por exemplo, em corridas 400m. Haverá a presença de ácido lático e não utilizará oxigênio. 

Sistema Aeróbico

Já o sistema aeróbico é característico de exercícios de longa duração. Neste sistema, o corpo transforma substratos em energia com a utilização de oxigênio. Podemos citar aqui as corridas de maior duração, exemplo, 3000m, 5000m, 10000m.

  • Sprint de 100 m – 80% do ATP produzido vem da degradação da creatina fosfato, 15% da glicólise (anaeróbico) e 5% da oxidação (aeróbico);
  • Corrida de 800 m – cerca de 50% pela glicólise (anaeróbico) e 50% pela oxidação (aeróbico);
  • Corrida de 1.500 m – cerca de 70% da oxidação (aeróbico) e 30% pela glicólise (anaeróbico).

Mas no futebol é assim? Em princípio, esses conceitos descritos acima foram introduzidos para exercícios de caráter contínuo e cíclico, como as corridas e provas de natação. Desse modo, entende-se que em situações como essas que determinam o resultado de uma partida, a predominância é o metabolismo energético anaeróbico.

A fisiologia no Futebol

Antes de tudo, é necessário entendermos o que acontece durante uma partida de futebol. O jogo possui duração de, no mínimo 90 minutos. Dessa forma, pode-se afirmar que o metabolismo energético predominante é o aeróbico, pois é considerado um exercício de longa duração. No entanto, durante a partida existem momentos em que os jogadores necessitam realizar ações em altas intensidades, como: correr em velocidade máxima para fazer o gol; realizar uma transição defensiva; e, até mesmo, acelerar para fazer a marcação em um oponente mais próximo. Desse modo, entende-se que em situações como essa a predominância é o metabolismo energético anaeróbico.

Logo, o futebol é considerado um esporte misto do ponto de vista energético. Além disso, as ações físicas ocorrem de forma aleatória, por isso se torna importante observar quais são os tipos e a quantidade de movimento realizados pelos jogadores.

Intensidade e alterações fisiológicas no jogador

Uma das formas de identificar os padrões de movimentação dos jogadores é pelo rastreamento durante jogos. Um jogador de futebol percorre em média 8 km a 12 km por jogo. Durante as partidas, grande parte das ações são realizadas em baixa intensidade. Porém, há momentos de maior intensidade em que os jogadores realizam corridas em altas velocidades de forma intermitente. Desse modo, em média, a relação entre trabalho (contração) e repouso de um jogador durante um jogo é 1:12, mas há instantes que a solicitação física aumenta e essa taxa diminui para 1:2. Portanto, nesses momentos de maior intensidade ocorre por consequência:

  • Elevação da frequência cardíaca;
  • Acréscimo no consumo de oxigênio;
  • Aumento da concentração de lactato sanguíneo

Devido a essa alta intensidade das ações e os intervalos incompletos de recuperação ao longo da partida, a capacidade de realizar as ações sofre um decréscimo e isso acontece pela presença do processo de fadiga que ocorre nos jogadores de futebol.

Por fim, é notório que a fisiologia atrelada ao futebol possui suas particularidades. No entanto, o entendimento de conceitos gerais ajudam a interpretar as exigências do jogo e auxiliam na preparação dos atletas, visando otimizar o desempenho e diminuir as chances de sofrer alguma lesão que os afaste das atividades.

Fontes e Referências

https://baes.ua.pt/handle/10849/302

https://www.revistas.usp.br/revusp/article/view/76228

https://link.springer.com/article/10.2165%2F00007256-200535060-00004

Contato do Autor:

E-mail: diegoaugustoufs@gmail.com
Instagram: @augustsdiego

Confira abaixo um episódio do Podcast sobre o assunto:

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Rodrigo Aquino

Rodrigo Aquino é professor na Universidade Federal do Espírito Santo, onde atua no Departamento de Desportos e como docente do Programa de Pós-Graduação em Educação Física (Mestrado e Doutorado).

É líder do Grupo de Estudos Pesquisa em Ciências no Futebol (GECIF/UFES) e coordenador do Programa Academia e Futebol (Núcleo UFES), financiado pelo Ministério do Esporte. Seu trabalho envolve a coordenação de projetos técnico-científicos em parceria com categorias de base e equipes profissionais de futebol no Brasil.

Rodrigo é graduado em Educação Física e Esporte pela USP, com especialização em Ciências do Desporto pela Universidade do Porto. Concluiu o mestrado e doutorado em Ciências também pela USP. Acumula experiência prática no futebol desde 2015 como fisiologista e preparador físico em clubes profissionais, além de atuar como treinador e coordenador técnico em categorias de base. Reconhecido academicamente, está entre os 10 cientistas do esporte mais produtivos da América Latina em publicações científicas relacionadas ao futebol.

Neto Pereira

Neto Pereira é um profissional de preparação física e performance esportiva com experiência em clubes do Brasil e do exterior. Atualmente é Preparador Físico no sub-20 do Vasco da Gama.

Trabalhou como Head Performance and Fitness Coach no FC Semey do Cazaquistão (2024). Foi Preparador Físico no Confiança (2023-2024) e Head of Performance and Health no Avaí (2022-2023). Também exerceu o cargo de Coordenador de Performance no Confiança (2022) e trabalhou como Fisiologista no CRB (2021-2022) e no próprio Confiança (2019-2021).

Possui Mestrado em Saúde e Educação Física pela Universidade Federal de Sergipe e Especialização em Desempenho Humano pela Universidade Tiradentes (Unit). Suas principais competências incluem preparação física, análise de desempenho, força, potência e velocidade no esporte.

Rafael Grazioli

Rafael Grazioli, natural de Canoas (RS), é formado em Educação Física pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), onde também concluiu mestrado e doutorado em Ciências do Movimento Humano.

Com nove anos de experiência atuando como coordenador científico e fisiologista no futebol profissional, ele passou as últimas três temporadas no Guarani de Campinas (SP) antes de ser anunciado pelo Criciúma em janeiro de 2025.