Estudo revela diferenças cerebrais entre atletas de ginástica, futebol e e-sports

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Um novo estudo realizado na Mahidol University, na Tailândia, liderado pela pesquisadora Papatsorn Ramyarangsi, investigou as diferenças na atividade cerebral de atletas femininas de ginástica, futebol e eSports.

A pesquisa foi publicada na revista Nature Scientific Reports, e utilizou eletroencefalografia (EEG) para analisar as ondas cerebrais dessas atletas em repouso, com os olhos fechados e abertos, buscando entender como a prática esportiva modela o cérebro.

A busca pelas diferenças neurais do esporte

O objetivo principal do estudo era descobrir se as diferentes demandas visuais e atencionais de cada esporte resultavam em padrões distintos de atividade cerebral.

Ginástica, como esporte individual, exige precisão visual e coordenação motora. Futebol, como esporte coletivo, demanda rápida tomada de decisão e interação visual com outros jogadores. Já os eSports, com seu ambiente virtual, exigem foco intenso na tela e rápida resposta a estímulos visuais.

A hipótese era que cada esporte teria uma assinatura neural única, revelada pela análise das ondas cerebrais delta, teta, alfa e beta. A onda alfa, em particular, foi foco de atenção, pois sua supressão ao abrir os olhos indica mudança da atenção interna para externa, e a diferença entre sua potência com os olhos fechados e abertos pode refletir a eficiência do processamento visual.

Como o estudo foi realizado

Foram recrutadas 42 atletas femininas (14 em cada modalidade), todas com mais de três anos de experiência em competições nacionais. Utilizando um sistema de EEG de 32 canais, a atividade cerebral foi monitorada por 5 minutos com os olhos fechados e 5 minutos com os olhos abertos, em ambiente controlado para minimizar interferências externas. A análise focou em seis pontos centrais do cérebro e nas quatro faixas de ondas cerebrais mencionadas.

Principais resultados

O estudo revelou diferenças significativas na atividade cerebral entre os grupos, particularmente na onda alfa.

As jogadoras de futebol apresentaram maior potência alfa com os olhos fechados, indicando maior atenção interna e controle cognitivo, e maior potência delta e teta com os olhos abertos, sugerindo maior processamento de informações visuais e controle cognitivo durante situações de jogo.

As atletas de eSports mostraram menor potência alfa com os olhos abertos, indicando maior nível de alerta e atenção, e maior variação na potência alfa entre olhos fechados e abertos.

Já as ginastas apresentaram a menor variação na potência alfa entre as condições, com maior potência alfa durante o repouso com os olhos abertos, o que sugere um maior controle da atenção interna e foco em processos internos como a visualização de movimentos.

Conclusões Práticas

Os resultados sugerem que cada esporte molda o cérebro de forma única, adaptando sua atividade neural às demandas específicas da modalidade.

A pesquisa abre caminho para o desenvolvimento de programas personalizados de neurofeedback e biofeedback, que poderiam ajudar os atletas a melhorar seu foco, tomada de decisão e performance geral, modulando as ondas cerebrais e respostas fisiológicas.

Programas de treinamento mental que incluam visualização e mentalização também podem ser adaptados para reforçar essas adaptações neurais e otimizar o desempenho.

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Rodrigo Aquino

Rodrigo Aquino é professor na Universidade Federal do Espírito Santo, onde atua no Departamento de Desportos e como docente do Programa de Pós-Graduação em Educação Física (Mestrado e Doutorado).

É líder do Grupo de Estudos Pesquisa em Ciências no Futebol (GECIF/UFES) e coordenador do Programa Academia e Futebol (Núcleo UFES), financiado pelo Ministério do Esporte. Seu trabalho envolve a coordenação de projetos técnico-científicos em parceria com categorias de base e equipes profissionais de futebol no Brasil.

Rodrigo é graduado em Educação Física e Esporte pela USP, com especialização em Ciências do Desporto pela Universidade do Porto. Concluiu o mestrado e doutorado em Ciências também pela USP. Acumula experiência prática no futebol desde 2015 como fisiologista e preparador físico em clubes profissionais, além de atuar como treinador e coordenador técnico em categorias de base. Reconhecido academicamente, está entre os 10 cientistas do esporte mais produtivos da América Latina em publicações científicas relacionadas ao futebol.

Neto Pereira

Neto Pereira é um profissional de preparação física e performance esportiva com experiência em clubes do Brasil e do exterior. Atualmente é Preparador Físico no sub-20 do Vasco da Gama.

Trabalhou como Head Performance and Fitness Coach no FC Semey do Cazaquistão (2024). Foi Preparador Físico no Confiança (2023-2024) e Head of Performance and Health no Avaí (2022-2023). Também exerceu o cargo de Coordenador de Performance no Confiança (2022) e trabalhou como Fisiologista no CRB (2021-2022) e no próprio Confiança (2019-2021).

Possui Mestrado em Saúde e Educação Física pela Universidade Federal de Sergipe e Especialização em Desempenho Humano pela Universidade Tiradentes (Unit). Suas principais competências incluem preparação física, análise de desempenho, força, potência e velocidade no esporte.

Rafael Grazioli

Rafael Grazioli, natural de Canoas (RS), é formado em Educação Física pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), onde também concluiu mestrado e doutorado em Ciências do Movimento Humano.

Com nove anos de experiência atuando como coordenador científico e fisiologista no futebol profissional, ele passou as últimas três temporadas no Guarani de Campinas (SP) antes de ser anunciado pelo Criciúma em janeiro de 2025.