Estudo aponta críticas e adaptações ao modelo “TGfU” no treinamento esportivo

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Um novo artigo científico publicado na prestigiada revista Physical Education and Sport Pedagogy desafia a aplicação tradicional do modelo “Teaching Games for Understanding” (TGfU) no treino desportivo competitivo. O estudo, intitulado “Aplicação Crítica do TGfU no Treino Desportivo”, foi conduzido por Jose Castro e Kevin Morgan, da School of Sport and Health Sciences da Cardiff Metropolitan University, no Reino Unido.
 

Qual era o objetivo do estudo?

O principal objetivo da pesquisa foi investigar a utilidade do TGfU como abordagem pedagógica dentro do exigente cenário do treino desportivo competitivo. Os pesquisadores buscavam compreender o impacto desta metodologia na aprendizagem tanto dos atletas quanto do treinador, analisando se o modelo, originalmente concebido para a educação física, se adapta efetivamente ao contexto do alto rendimento.
 

Como o estudo foi realizado?

Para realizar a investigação, os autores utilizaram a metodologia de Investigação-Ação (Action Research – AR). O estudo não fo realizado no futebol, mas a aplicação da pesquisa pode ser ampliado a esportes coletivos.
 
Durante uma temporada completa de voleibol, com duração de oito meses, o primeiro autor do estudo atuou como treinador de uma equipe enquanto coletava dados através de grupos focais com os atletas e anotações reflexivas em diários de campo. A análise dos dados combinou abordagens indutivas e dedutivas, permitindo identificar temas emergentes da prática ao mesmo tempo em que considerava o modelo TGfU como referencial teórico.
 

Quais foram as principais conclusões práticas?

O estudo revelou que a aplicação do TGfU no treino desportivo competitivo exige uma adaptação crítica e reflexiva, em vez de uma implementação “segura” e acrítica do modelo original. Os resultados apontam para as seguintes conclusões práticas:
  • Adaptação Crítica é Essencial: A rigidez do modelo TGfU de seis etapas mostrou-se um desafio no contexto dinâmico do treino. Os pesquisadores defendem que o modelo deve ser adaptado de forma flexível, considerando as necessidades específicas de cada contexto e momento da temporada.
  • Conhecimento e Reflexão do Treinador: A adaptação crítica do TGfU exige que o treinador possua um profundo conhecimento da modalidade desportiva e esteja constantemente envolvido em processos de reflexão sobre a sua prática.
  • TGfU como Abordagem Flexível: O estudo enfatiza a importância de interpretar o TGfU como uma abordagem pedagógica flexível, e não como um modelo rígido a ser seguido linearmente. A flexibilidade permite que o TGfU evolua e se adapte às necessidades do contexto do treino.
  • Interação Treinador-Atleta é Central: Contrariando a visão de que o TGfU é puramente centrado no atleta, a pesquisa destaca o papel crucial da interação entre treinador e atletas. A mediação do treinador, através de questionamentos e comunicação eficaz, é fundamental para o sucesso da abordagem.
  • Questionamento como Ferramenta Pedagógica: O uso de perguntas abertas e reflexivas pelo treinador emergiu como uma estratégia pedagógica chave para estimular a reflexão dos atletas, promover a compreensão tática do jogo e desenvolver a tomada de decisão.
  • Melhora da Reflexão e Performance ao Longo do Tempo: O estudo demonstrou que, com a exposição contínua ao TGfU, os atletas melhoraram a sua capacidade de reflexão sobre o próprio desempenho, sobre a equipa e sobre o adversário. A performance também apresentou uma evolução positiva ao longo da temporada, embora de forma gradual e não imediata.

Implicações para treinadores e para o futuro do TGfU

As conclusões deste estudo oferecem valiosos apontamentos para treinadores desportivos que desejam implementar o TGfU em contextos competitivos. A pesquisa ressalta que a chave para o sucesso não reside na aplicação mecânica de um modelo, mas sim na capacidade do treinador de adaptar criticamente o TGfU, utilizando-o como um guia flexível e focando na interação rica e reflexiva com os atletas.
 
O estudo também contribui para o desenvolvimento do próprio TGfU, reforçando a sua natureza evolutiva e a necessidade de considerar a complexidade do contexto do treino desportivo. Ao desafiar a aplicação linear do modelo original e destacar a centralidade da interação treinador-atleta, a pesquisa abre novas possibilidades para a investigação e para a prática do TGfU no treino desportivo de alto rendimento.
 
 
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Rodrigo Aquino

Rodrigo Aquino é professor na Universidade Federal do Espírito Santo, onde atua no Departamento de Desportos e como docente do Programa de Pós-Graduação em Educação Física (Mestrado e Doutorado).

É líder do Grupo de Estudos Pesquisa em Ciências no Futebol (GECIF/UFES) e coordenador do Programa Academia e Futebol (Núcleo UFES), financiado pelo Ministério do Esporte. Seu trabalho envolve a coordenação de projetos técnico-científicos em parceria com categorias de base e equipes profissionais de futebol no Brasil.

Rodrigo é graduado em Educação Física e Esporte pela USP, com especialização em Ciências do Desporto pela Universidade do Porto. Concluiu o mestrado e doutorado em Ciências também pela USP. Acumula experiência prática no futebol desde 2015 como fisiologista e preparador físico em clubes profissionais, além de atuar como treinador e coordenador técnico em categorias de base. Reconhecido academicamente, está entre os 10 cientistas do esporte mais produtivos da América Latina em publicações científicas relacionadas ao futebol.

Neto Pereira

Neto Pereira é um profissional de preparação física e performance esportiva com experiência em clubes do Brasil e do exterior. Atualmente é Preparador Físico no sub-20 do Vasco da Gama.

Trabalhou como Head Performance and Fitness Coach no FC Semey do Cazaquistão (2024). Foi Preparador Físico no Confiança (2023-2024) e Head of Performance and Health no Avaí (2022-2023). Também exerceu o cargo de Coordenador de Performance no Confiança (2022) e trabalhou como Fisiologista no CRB (2021-2022) e no próprio Confiança (2019-2021).

Possui Mestrado em Saúde e Educação Física pela Universidade Federal de Sergipe e Especialização em Desempenho Humano pela Universidade Tiradentes (Unit). Suas principais competências incluem preparação física, análise de desempenho, força, potência e velocidade no esporte.

Rafael Grazioli

Rafael Grazioli, natural de Canoas (RS), é formado em Educação Física pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), onde também concluiu mestrado e doutorado em Ciências do Movimento Humano.

Com nove anos de experiência atuando como coordenador científico e fisiologista no futebol profissional, ele passou as últimas três temporadas no Guarani de Campinas (SP) antes de ser anunciado pelo Criciúma em janeiro de 2025.