Abordagem dos treinadores na especialização esportiva precoce

Data:

Foto de Jeffrey F Lin na Unsplash

Compartilhe:

A especialização esportiva precoce é um tema bastante discutido na área de Educação Física. A especialização precoce é o processo pelo qual crianças tornam-se especializadas em um desporto em idade não apropriada.

Os megaeventos esportivos influenciam os jovens brasileiros a iniciarem no esporte cada vez mais cedo. Ou seja, a identificação com ídolos e a esperança de obter sucesso, resulta na quantidade crescente de “crianças-atletas”. Portanto, cabe ao treinador de futebol auxiliar esses jovens, através da iniciação esportiva.

Iniciação esportiva

A pressão dos pais e a ansiedade do treinador em encontrar um talento são fatores que devem ser controlados.

Desse modo, sem dúvidas, a iniciação esportiva traz diversos benefícios, e uma série de valores que podem agregar no desenvolvimento da criança. Por exemplo, desempenho motor, trabalho em equipe e disciplina. Porém, quando o treinador utiliza uma metodologia “resultadista”, dificilmente haverá uma iniciação adequada.

Então, é preciso respeitar as etapas de iniciação esportiva e suas fases de desenvolvimento na iniciação esportiva, veja abaixo as Fases:

  • I: 1º e 2º Infância (7-10 anos);
  • II: Primeira idade puberal (11-12 anos);
  • III: Pubescência (13-14 anos).

Portanto, este método busca o aprimoramento dos padrões motores por meio da ludicidade. Nessas fases, o desenvolvimento das capacidades biomotoras tornam-se favoráveis por conta da plasticidade do Sistema Nervoso Central. Logo, a criança constrói o seu próprio repertório motor sem a utilização de sobrecargas.

Conforme o indivíduo cresce, as atividades focam no refinamento da aprendizagem anterior. Lembrando que os exercícios não são especializados em nenhum esporte. Afinal, a prática intensa e competitiva ocasiona riscos ao organismo da criança.

Especialização Esportiva Precoce no Futebol

Atualmente, a Pedagogia Esportiva vem sendo assunto em muitas lives, palestras e webinars. No entanto, mesmo com inúmeros estudos, ainda há professores que não respeitam a saúde dos jovens.

Os adeptos da precocidade da especialização esportiva argumentam que é eficaz para descobrir novos talentos, principalmente em clubes e escolas. Diante disso, técnicos, pais e torcidas criticam os menores por erros cometidos, prejudicando-os em diversas dimensões.

Mas você sabe quais são os danos que resultarão na vida dos menores?

Em primeiro lugar, há prejuízos no âmbito psicológico durante a formação escolar, devido à exigência no êxito esportivo. Isto significa que os jovens se sentem mais pressionados, inseguros e desmotivados. Em outras palavras, originam-se níveis de ansiedade e estresse se o desempenho não for atingida.

Para mais, a saturação esportiva também pode ser ocasionada, ao passo que a criança apresentará desinteresse no desporto.

Além disso, o pior é que elas podem carregar lesões pelo resto da vida. Frequentemente, existem casos onde médicos pedem para alguns pararem de jogar, por conta da imaturidade óssea.

Sob a perspectiva motriz, a especialização precoce negligencia outros esportes. Pois, como já visto, a prática dos demais desportos oferece enriquecimento motor, auxiliando, portanto, o futuro jogador de futebol.

Respeitar o momento

Na iniciação/especialização esportiva, os treinadores devem proporcionar às crianças a abrangência de atividades recreativas e diversificadas. A frequência em escolinhas de futebol é válida, desde que haja algumas condições.

É importante promover exercícios com caráter lúdico, de modo a desenvolver as capacidades propícias à idade em que se encontram. Assim, o aprimoramento do desempenho é ordenado e sequencial. Portanto, após os 7 anos, cerca de, o desenvolvimento motor da criança corresponde a combinação de habilidades básicas.

Ainda, o jovem não pode ser visto como um “adulto em miniatura”. Logo, diminuir os feedbacks negativos nos treinos já é um começo. Faça-o pensar o porquê da ação realizada, visto que a reflexão ajudará em seu desempenho cognitivo. A glória e o fracasso precisam ser balizados, tendo como referência a evolução do indivíduo em relação ao seu processo.

Dados os fatos, primeiro o jovem deve desenvolver suas habilidades motoras básicas através de outras modalidades. Para que posteriormente, ela possa se especializar em apenas um esporte. Dessa forma, o esporte infantil é um fenômeno complexo, que não se reduz a metodologias simplistas, nem a procura e tentativa do modelo de atleta ideal.

Fontes e Referências:

Transformação didático-pedagógica do esporte.

Da alienação à estupidez: Especialização precoce e os danos causados à criança.

A iniciação esportiva e a especialização precoce à luz da teoria da complexidade – notas introdutórias.

Contato do autor – Instagram: g_tadashi

Confira um episódio do Podcast Ciência da Bola que fala sobre o assunto:

Para receber conteúdos como esse em seu e-mail, participe da nossa Newsletter.

spot_img
spot_img

Posts Relacionados

Quais os critérios utilizados por treinadores da base no processo de seleção de jovens no Futebol?

Uma pesquisa recente investigou os fatores que influenciam a seleção de jovens jogadores de futebol. O estudo foi...

Os dados de GPS devem ser normalizados para monitoramento de desempenho e fadiga no futebol?

Um novo estudo publicado na revista German Journal of Exercise and Sport Research em junho de 2025 questiona a...

O que influencia a velocidade máxima nas partidas ao longo de uma temporada no Futebol?

Um estudo recente analisou a velocidade máxima atingida por jogadores de futebol durante as partidas, levando em consideração...

Tratamentos para dor crônica em jogadores de Futebol

Um estudo em formato de revisão integrativa analisou a eficácia de tratamentos farmacológicos e não farmacológicos na gestão...

João Bonfatti

João Bonfatti atualmente trabalha como Coordenador do setor de Análise de Desempenho no América-MG. Antes disso, teve passagens pelo Vasco da Gama, onde atuou em diferentes categorias: foi auxiliar técnico do Sub-20, treinador interino do Sub-17 e auxiliar técnico do Sub-17.

Atuou também pelo Atlético-MG, onde desempenhou o papel de auxiliar técnico do Sub-15. No Corinthians, auxiliar técnico do Sub-14, além de exercer a função de supervisor metodológico.

Sua formação inclui o Bacharelado em Futebol pela Universidade Federal de Viçosa e a Licença B da CBF Academy, o que reforça sua base teórica e prática no desenvolvimento de atletas.

Felipe Bonholi

Felipe Bonholi integra a equipe do Palmeiras como Analista de Desempenho no Centro de Formação de Atletas (CFA), contribuindo para o desenvolvimento e acompanhamento de jovens talentos.

Antes disso, acumulou cinco anos de experiência na Ferroviária, onde atuou como Analista de Desempenho da equipe profissional, e no São Carlos Futebol Clube na mesma função.

Sua formação acadêmica inclui Bacharelado em Administração de Empresas pela UNIARA (2014–2017) e graduação em andamento em Educação Física pela mesma instituição, iniciada em 2019.

Com sólida base teórica e ampla experiência prática, Felipe Bonholi se destaca por sua capacidade de integrar análise técnica, gestão e visão estratégica no contexto esportivo, contribuindo para o desempenho e evolução de atletas e equipes.

Mylena Baransk

Mylena Baransk é doutora em Educação Física pela Universidade Federal do Paraná e mestre em Ciências da Saúde pela Universidade Estadual de Ponta Grossa, onde também concluiu sua graduação em Educação Física – Bacharelado. Especialista em futsal com foco em análise de desempenho, atuou como docente em cursos do ensino superior e analista de desempenho no futebol.

Atualmente, exerce a função de analista de desempenho no Clube Atlético Mineiro, onde trabalha desde agosto de 2024. Antes disso, desempenhou a mesma função na Associação Ferroviária de Esportes entre março e agosto de 2024, atuando em Araraquara, São Paulo.

Além da atuação em clubes, possui experiência acadêmica como docente, tendo lecionado na UniCesumar entre julho e outubro de 2023, em Curitiba, Paraná. Também foi professora na UNIFATEB, onde atuou por quase três anos, de fevereiro de 2021 a outubro de 2023, em Telêmaco Borba, Paraná.

Com forte presença na área de análise de desempenho no futebol, também é CEO da Statisticsfut, onde se dedica ao desenvolvimento de conteúdos e estratégias voltadas à análise estatística e desempenho esportivo.

Nathália Arnosti

Nathália Arnosti é uma profissional de destaque na área de Fisiologia do Esporte e Preparação Física, com sólida formação acadêmica e ampla experiência no futebol brasileiro.

Bacharel e mestre em Educação Física pela Universidade Metodista de Piracicaba e doutora pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), ela construiu uma carreira marcada pela integração entre ciência e prática esportiva.

No cenário dos clubes, já contribuiu com equipes como Athletico Paranaense, Red Bull Bragantino, Palmeiras, Audax, Ferroviária e Ponte Preta. Em janeiro de 2024, assumiu o cargo de fisiologista do Cruzeiro, reforçando seu papel como referência no acompanhamento e otimização do desempenho esportivo.

Rodrigo Aquino

Rodrigo Aquino é professor na Universidade Federal do Espírito Santo, onde atua no Departamento de Desportos e como docente do Programa de Pós-Graduação em Educação Física (Mestrado e Doutorado).

É líder do Grupo de Estudos Pesquisa em Ciências no Futebol (GECIF/UFES) e coordenador do Programa Academia e Futebol (Núcleo UFES), financiado pelo Ministério do Esporte. Seu trabalho envolve a coordenação de projetos técnico-científicos em parceria com categorias de base e equipes profissionais de futebol no Brasil.

Rodrigo é graduado em Educação Física e Esporte pela USP, com especialização em Ciências do Desporto pela Universidade do Porto. Concluiu o mestrado e doutorado em Ciências também pela USP. Acumula experiência prática no futebol desde 2015 como fisiologista e preparador físico em clubes profissionais, além de atuar como treinador e coordenador técnico em categorias de base. Reconhecido academicamente, está entre os 10 cientistas do esporte mais produtivos da América Latina em publicações científicas relacionadas ao futebol.

Neto Pereira

Neto Pereira é um profissional de preparação física e performance esportiva com experiência em clubes do Brasil e do exterior. Atualmente é Preparador Físico no sub-20 do Vasco da Gama.

Trabalhou como Head Performance and Fitness Coach no FC Semey do Cazaquistão (2024). Foi Preparador Físico no Confiança (2023-2024) e Head of Performance and Health no Avaí (2022-2023). Também exerceu o cargo de Coordenador de Performance no Confiança (2022) e trabalhou como Fisiologista no CRB (2021-2022) e no próprio Confiança (2019-2021).

Possui Mestrado em Saúde e Educação Física pela Universidade Federal de Sergipe e Especialização em Desempenho Humano pela Universidade Tiradentes (Unit). Suas principais competências incluem preparação física, análise de desempenho, força, potência e velocidade no esporte.

Rafael Grazioli

Rafael Grazioli, natural de Canoas (RS), é formado em Educação Física pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), onde também concluiu mestrado e doutorado em Ciências do Movimento Humano.

Com nove anos de experiência atuando como coordenador científico e fisiologista no futebol profissional, ele passou as últimas três temporadas no Guarani de Campinas (SP) antes de ser anunciado pelo Criciúma em janeiro de 2025.