Dicas para o ensino em escolinhas de Futsal

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Imagem de apnew0 por Pixabay

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O Futsal é uma das modalidades que mais vem se difundindo no mundo e em nosso país, tanto no âmbito escolar, quanto fora dele. E consequentemente a procura por escolinhas de futsal também aumenta. Dessa maneira, acredita-se que este aumento pode ter como uma das suas origens, a aceleração do crescimento urbano nas grandes cidades.

Há tempos atrás era comum observar as crianças brincando livremente pelas ruas, jogando bola em terrenos vazios de seus bairros, havia espaço livre. No entanto, surgiram as fábricas, os prédios, as casas foram tomando conta dos campos de várzea. Depois disso foram desaparecendo os bobinhos, as peladas, as rebatidas.

Posteriormente, a alternativa foi se readaptar e buscar essa alegria em jogar bola, nas escolinhas, associações, projetos esportivos, entre outros que contam com o auxílio de profissionais capacitados para ensinar.

O futsal e a iniciação esportiva

A busca pelo treinamento se inicia principalmente na infância como descrito acima. Mas qual o caminho pedagógico a seguir na iniciação que possa englobar uma proposta específica da modalidade e uma proposta educativa em escolinhas de futsal?

Em primeiro lugar essa resposta é construída a partir do planejamento do professor, da metodologia e dos conteúdos aplicados no treinamento. Em suma estes princípios pedagógicos utilizados pelo profissional é que resultarão em determinados comportamentos dos alunos.

Além disso, é importante esclarecer que as modalidades coletivas são caracterizadas por uma estrutura lógica interna composta por seis elementos:

  • A bola,
  • o espaço,
  • as metas (gols),
  • as regras,
  • os colegas,
  • e os adversários.

Essa relação entre os elementos ocorre a partir do desenvolvimento da partida, chamada de lógica funcional, ou seja, o que vai acontecer no jogo durante as relações entre as duas equipes.

Assim, a estrutura da lógica funcional tem como base os princípios operacionais, que sustentam a dinâmica do ataque e defesa. Da mesma forma, estes princípios norteiam todo o processo de jogo e a realização das ações coletivas e individuais dos atletas.

Consequentemente estes princípios ficam muito próximos daquilo que quero ensinar no treino. Pois são estruturas do jogo de futsal e o professor tem uma base para definir a sua metodologia, o que ensinar e quais os conteúdos terão mais ênfase dentro do planejamento.

A importância da ludicidade nas escolinhas de futsal

A princípio devemos entender que na primeira infância, aos 06, 07 anos, o ambiente deve ser favorável à brincadeiras, com um repertório rico de gesto motor e possibilidades de conhecer vários materiais. Inclusive com uso de raquetes, diferentes tipos de bola, sem uma sistematização rígida.

Mas qual a importância das brincadeiras e do ambiente lúdico na iniciação?

Em síntese, a criança aprende quando está interessada na atividade, e logo ela precisa de situações desafiadoras. A aprendizagem é ativa, se dá pela assimilação e acomodação, momento em que a criança começa a criar novos recursos para determinadas situações problemas. As atividades lúdicas devem despertar o interesse da criança, pois a estimula a se adaptar a novos ajustes dentro da brincadeira, que resulta em conhecimento.

Em contrapartida, a atividade lúdica deve ser contextualizada e deve abranger os elementos da estrutura lógica da modalidade. Assim, o rondo ou o bobinho em movimento com poucos alunos, possibilita o desenvolvimento de fundamentos do Futsal dentro de situações próximas ao jogo. É uma atividade que exige mais do aluno, há uma relação constante entre adversário, colega, espaço e bola. Torna-se diferente de colocar dois alunos, um de frente para o outro, para treinar passe. Isso é monótono na maioria das vezes, criança gosta de brincar e isso a motiva.

Possibilidades de ensino na iniciação ao futsal

Contudo, o mais importante ao planejar a aula em uma escolinha de futsal, é que o ambiente de treino seja rico de possibilidades motoras, de experiências e vivências positivas para o aluno. Da mesma forma, o professor deve possibilitar esta diversidade sem descartar a importância da especificidade. Dentro do contexto tático é importante que as crianças vivenciem diversas situações dentro das fases de jogo e nas distintas posições na quadra: jogar próximo de quem tem bola; ocupar espaço para atacar e defender o seu gol, entre outros.

Os Jogos de 1×1, 2×1, 3×2 com objetivo de marcar gols, possibilitam desenvolver além dos fundamentos do futsal, situações reais do jogo, tais como: passar a bola para o colega, sair da marcação do oponente, proteger a sua trave, compreender o que são linhas de passes, entender a dinâmica de estar com e sem bola (ataque e defesa),  e demais situações.

É possível aplicar o 5×5 na iniciação? É possível, por outro lado deve ser adaptado dentro do nível de jogo da criança. Ao selecionar os conteúdos, os mesmos devem estar de acordo com a realidade social, a faixa etária e as possibilidades sócio cognitivas dos alunos. Ou seja, se faz necessário ajustar o treino dentro das possibilidades da criança, para que não se perca a lógica tática do futsal descrita anteriormente.  

Por fim, a prática do futsal em escolinhas de futsal deve ser abordada num ambiente em que os valores de cooperação, emoção positiva, respeito, encorajamento das crianças estejam presentes. Sobretudo, que o treino que se encaixe na “bagagem” de experiências dos alunos, pautando-se numa diversidade pedagógica e educativa.

Links de referência

Instagram da autora: @torettidefaveri

Confira um episódio do Podcast Ciência da Bola que fala sobre o assunto:

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Rodrigo Aquino

Rodrigo Aquino é professor na Universidade Federal do Espírito Santo, onde atua no Departamento de Desportos e como docente do Programa de Pós-Graduação em Educação Física (Mestrado e Doutorado).

É líder do Grupo de Estudos Pesquisa em Ciências no Futebol (GECIF/UFES) e coordenador do Programa Academia e Futebol (Núcleo UFES), financiado pelo Ministério do Esporte. Seu trabalho envolve a coordenação de projetos técnico-científicos em parceria com categorias de base e equipes profissionais de futebol no Brasil.

Rodrigo é graduado em Educação Física e Esporte pela USP, com especialização em Ciências do Desporto pela Universidade do Porto. Concluiu o mestrado e doutorado em Ciências também pela USP. Acumula experiência prática no futebol desde 2015 como fisiologista e preparador físico em clubes profissionais, além de atuar como treinador e coordenador técnico em categorias de base. Reconhecido academicamente, está entre os 10 cientistas do esporte mais produtivos da América Latina em publicações científicas relacionadas ao futebol.

Neto Pereira

Neto Pereira é um profissional de preparação física e performance esportiva com experiência em clubes do Brasil e do exterior. Atualmente é Preparador Físico no sub-20 do Vasco da Gama.

Trabalhou como Head Performance and Fitness Coach no FC Semey do Cazaquistão (2024). Foi Preparador Físico no Confiança (2023-2024) e Head of Performance and Health no Avaí (2022-2023). Também exerceu o cargo de Coordenador de Performance no Confiança (2022) e trabalhou como Fisiologista no CRB (2021-2022) e no próprio Confiança (2019-2021).

Possui Mestrado em Saúde e Educação Física pela Universidade Federal de Sergipe e Especialização em Desempenho Humano pela Universidade Tiradentes (Unit). Suas principais competências incluem preparação física, análise de desempenho, força, potência e velocidade no esporte.

Rafael Grazioli

Rafael Grazioli, natural de Canoas (RS), é formado em Educação Física pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), onde também concluiu mestrado e doutorado em Ciências do Movimento Humano.

Com nove anos de experiência atuando como coordenador científico e fisiologista no futebol profissional, ele passou as últimas três temporadas no Guarani de Campinas (SP) antes de ser anunciado pelo Criciúma em janeiro de 2025.