A educação física escolar e o futsal

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Foto por Kampus Production/Pexels

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A educação física escolar é pautada na construção do conhecimento científico, visando promover um estilo de vida saudável com reflexões acerca da cultura corporal (lutas, ginástica, esporte, dança, jogos, etc). Desse modo, dentre os conteúdos abordados, o futsal é um dos que mais sobressai, pela facilidade ao acesso de sua prática na escola.

Se tratando de futsal, sabemos que há diferenças das suas abordagens nas escolas para o ensino em clubes e/ou escolinhas. No esporte de rendimento, o que prevalece são os resultados e o melhor desempenho, caracterizando um treinamento tático, técnico, físico e psicológico. Já o esporte educacional visa a formação do indivíduo em sua totalidade cognitiva, sócio-afetivo e motor, promovendo criticidade e autonomia sobre os valores de cooperação e união, por exemplo.

Entretanto, há uma visão errônea de que, nas aulas de educação física, o futsal se caracteriza por: meninos “correndo atrás da bola”, enquanto as meninas permanecem no voleibol.

Como o professor (a) pode planejar o conteúdo de futsal?

De antemão, o professor precisa ter claro os objetivos de ensino sobre a modalidade. Diagnosticar a realidade das turmas, planejar, avaliar e construir as características da prática do futsal na escola. Para isso é necessário respondermos algumas perguntas:

  • Quais seriam estas características?
  • Como os alunos aprendem as modalidades?
  • Quais temas podem ser introduzidos nas discussões em aula?

Todas essas respostas dependem da metodologia de ensino proposta pelo professor(a).

Os jogos recreativos, cooperativos, adaptados conforme a faixa etária e a realidade dos alunos favorecem a compreensão da modalidade específica, permitindo a apropriação do conhecimento sobre os nomes das posições e funções de cada uma. Vivenciar e saber a função do goleiro, alas direito e esquerdo, fixos e pivôs, permite compreender as múltiplas funções fundamentais para o desempenho do jogo.

Do mesmo modo, é necessária uma abordagem pedagógica em que os alunos(as) identifiquem no futsal, atitudes de integração, respeito, saber ganhar e saber perder. Bem como, possibilitar uma modalidade para todos praticarem, inclusive meninas, que muitas vezes são excluídas desta modalidade.

Dessa forma, é possível criar um ambiente de socialização e reflexões sobre esta exclusão citada acima, a qual se torna recorrente nas modalidades coletivas. Alguns questionamentos podem ser levantados, como: todos jogam futsal? Meninos e meninas podem jogar juntos? Pequenos jogos mistos, leituras sobre o tema e modificações de regras adaptadas para a turma podem auxiliar na construção de um novo pensamento sobre a prática.

E qual o objetivo da Educação Física escolar?

A educação física escolar deve formar atletas ou cidadãos críticos que apreciem a modalidade e tenham uma prática regular?

O processo escolar deve prevalecer a conscientização do valor educativo do esporte, refletindo suas ações de exclusão, por exemplo, na qual somente quem tem talento o pratica, ou que o futsal não é para meninas. No entanto, também cabe ao profissional incentivar os talentos e encaminhá-los para clubes e/ou escolinhas. Em outras palavras, a escola e o professor(a) são mediadores na descoberta de talentos neste espaço.  

Contudo, nas aulas práticas é importante ressaltarmos a coragem e a confiança do aluno que está jogando, visto que isso reforçá a segurança do mesmo ao executar a atividade. Além disso, o planejamento deve ter uma interação entre os comportamentos: cognitivo, afetivo e psicomotor. Isso porque, durante a prática o aluno utiliza os movimentos específicos e a técnica da modalidade (psicomotor), além de que o jogo necessita de resolução de problemas (cognitivo) e interação com os colegas, arbitragem, adversários, sobressaindo o respeito (sócio afetivo).  

Em suma, o professor deve ter definido os objetivos e qual a metodologia mais adequada para apropriação do conhecimento que irá utilizar. Portanto, as aulas devem ser organizadas conforme a realidade social, faixa etária e desenvolvimento cognitivo da turma. Vivências práticas contextualizadas e reflexões sobre gênero são importantes no processo ensino-aprendizagem.

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Fontes e Referências

Coletivo de autores

Futsal & Futebol: bases metodológicas

Contato da autora:
Instagram: @Torettifaveri

Confira abaixo um episódio do Podcast sobre o assunto:

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Rodrigo Aquino

Rodrigo Aquino é professor na Universidade Federal do Espírito Santo, onde atua no Departamento de Desportos e como docente do Programa de Pós-Graduação em Educação Física (Mestrado e Doutorado).

É líder do Grupo de Estudos Pesquisa em Ciências no Futebol (GECIF/UFES) e coordenador do Programa Academia e Futebol (Núcleo UFES), financiado pelo Ministério do Esporte. Seu trabalho envolve a coordenação de projetos técnico-científicos em parceria com categorias de base e equipes profissionais de futebol no Brasil.

Rodrigo é graduado em Educação Física e Esporte pela USP, com especialização em Ciências do Desporto pela Universidade do Porto. Concluiu o mestrado e doutorado em Ciências também pela USP. Acumula experiência prática no futebol desde 2015 como fisiologista e preparador físico em clubes profissionais, além de atuar como treinador e coordenador técnico em categorias de base. Reconhecido academicamente, está entre os 10 cientistas do esporte mais produtivos da América Latina em publicações científicas relacionadas ao futebol.

Neto Pereira

Neto Pereira é um profissional de preparação física e performance esportiva com experiência em clubes do Brasil e do exterior. Atualmente é Preparador Físico no sub-20 do Vasco da Gama.

Trabalhou como Head Performance and Fitness Coach no FC Semey do Cazaquistão (2024). Foi Preparador Físico no Confiança (2023-2024) e Head of Performance and Health no Avaí (2022-2023). Também exerceu o cargo de Coordenador de Performance no Confiança (2022) e trabalhou como Fisiologista no CRB (2021-2022) e no próprio Confiança (2019-2021).

Possui Mestrado em Saúde e Educação Física pela Universidade Federal de Sergipe e Especialização em Desempenho Humano pela Universidade Tiradentes (Unit). Suas principais competências incluem preparação física, análise de desempenho, força, potência e velocidade no esporte.

Rafael Grazioli

Rafael Grazioli, natural de Canoas (RS), é formado em Educação Física pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), onde também concluiu mestrado e doutorado em Ciências do Movimento Humano.

Com nove anos de experiência atuando como coordenador científico e fisiologista no futebol profissional, ele passou as últimas três temporadas no Guarani de Campinas (SP) antes de ser anunciado pelo Criciúma em janeiro de 2025.