As demandas físicas e fisiológicas no jogador de futebol: como funcionam?

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Foto de Janosch Diggelmann na Unsplash

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O futebol é esporte que exige várias capacidades dos jogadores, nas quais se destacam: a técnica, boa compreensão tática, bom controle psicológico e, claro, uma excelente preparação física.

Ao falar de preparação física, devemos compreender que as demandas físicas e fisiológicas dos jogadores em uma partida possuem muitas variações, dessa forma, o jogo se configura por uma atividade física intermitente. Ou seja, a energia (ATP) para a realização das ações derivam de diferentes fontes energéticas durante o jogo. Portanto, a quantidade de atividades de cunho aeróbio e anaeróbio trazem um parâmetro importante para a caracterização da demanda fisiológica do jogo.

A relação entre as demandas físicas e fisiológicas no futebol

A demanda fisiológica representa uma medida de faixa de trabalho dos jogadores de futebol; conforme a relação volume x intensidade dos movimentos executados pelos atletas durante o jogo / treino.

Desse modo, o perfil da demanda física de cada atleta pode ser utilizado como indicativo do percentual de contribuição dos três sistemas energéticos durante a partida. Conforme alguns estudos, notou-se que um atleta percorre em média 10 km durante os 90 minutos de uma partida de futebol. Ou seja, estas informações apontam para uma predominância do sistema energético aeróbio sobre o desempenho físico.

Por outro lado, nos últimos anos houve um aumento significativo nas ações realizadas em alta intensidade pelos futebolistas durante os jogos, onde, os mesmos, chegam a alcançar uma velocidade de 32 km/h. Portanto, isto nos leva a pensar que o aumento das ações intensas vem se tornando um diferencial na preparação física e desempenho das equipes.  

Neste sentido, a relação entre atividades de alta e baixa intensidade é, cerca de, 1 para 7. Ou seja, a cada 4 segundos em alta intensidade (anaeróbio) é gasto 28 segundos em atividades aeróbias. Além disso, é importante ressaltar que além das características biológicas, fatores como posições diferentes (figura 1), nível competitivo (figura 2), modelo de jogo, fadiga e o estado nutricional, também exercem influência sobre a demanda física dos futebolistas.

Demanda física por posição (Artigo publicado em 2013).

Da teoria à prática. Como as demandas físicas e fisiológicas se manifestam durante a partida?

Primeiramente, sabemos que a demanda física de um atleta profissional de futebol é muito alta, atingindo um volume de até 14 km percorridos por jogo, tendo sua maior parte percorrida durante o primeiro tempo. Assim sendo, podemos fazer a relação volume x intensidade da seguinte forma:

  • 22% – 24% da distância total percorrida em velocidade >15 km/h;
  • 8% – 9% >20 km/h;
  • 2% – 3% >25 km/h.

Por outro lado, há estudos que trazem a relação entre volume x intensidade considerando o tempo, indicando que o atleta tem a seguinte demanda física durante os 90 minutos:

  • 17,1% do tempo parados;
  • 40,4% andando;
  • 35% correndo em baixa intensidade;
  • 8,1% do tempo correndo em alta intensidade e sprints.

Além disso, o atleta realiza cerca de 1.400 mudanças de atividades e 700 mudanças de direção por partida, uma média de 40 ações superiores a 21 km/h e 600 acelerações e desacelerações por jogo. 

Nesse sentido, ocorre a realização de diferentes movimentos nas mais variadas intensidades (figura 3), no qual a frequência cardíaca (FC) média é de 75% a 85% da máxima, algo em torno de 160 – 175 bpm. Assim, com um percentual de 75% do seu VO₂ máx., podem ser queimadas mais de 1.500 kcal no decorrer da partida. Deste modo, solicitando altas demandas fisiológicas e energéticas aos atletas para superar os desafios impostos a eles durante o jogo.

(Artigo publicado em 2007).

Contribuição aeróbia, anaeróbia e a relação com o jogo.

A função de todos os sistemas são formar ATP’s para a contração muscular e, como pode ser notado pelos dados apresentados acima, as demandas físicas e fisiológicas no futebol consistem em um nível submáximo e máximo, no qual há um forte recrutamento do sistema aeróbio durante a partida. Dessa forma, cerca de 88% do tempo é utilizado o sistema aeróbico como a principal fonte de fornecimento energético, com os outros 12% ficando por conta do sistema anaeróbio.

Em contrapartida, sabemos que os lances decisivos são derivados de ações intensas, conexos as capacidades físicas de força, potência e velocidade. Nesse sentido, estudos mostraram que jogadores de elite se exercitam em uma intensidade maior do que jogadores de divisões inferiores. Contudo, isso nos leva a fazer uma relação direta entre a intensidade e qualidade do jogo (figura 4).

Concentração Lactato em jogadores de diferentes divisões (Artigo publicado em 1994).

Notamos então que, apesar de haver uma demanda energética aeróbia maior, não se pode indicar qual via é mais importante. Ou seja, é necessário o atleta estar apto a realizar as demandas físicas solicitadas durante a partida.

Sendo assim, cabe as comissões técnicas traçarem estratégias para, durante os treinamentos, potencializarem o desempenho global dos seus atletas, considerando todas as suas dimensões e fatores que possam influenciar neste processo (figura 5).

(Artigo publicado em 2009).

Fontes e Referências:

https://www.scielo.br/j/rbce/a/DLcfSG5TBqCswV6LBr8DRsF/?lang=pt

https://europepmc.org/article/med/8059610

https://www.researchgate.net/publication/6769686_Performance_Characteristics_According_to_Playing_Position_in_Elite_Soccer

Contato do autor:

Instagram: endrigo_f
Email: endrigof1@gmail.com

Confira abaixo um episódio do Podcast sobre o assunto:

 

https://youtu.be/RHykDxYa0ho
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João Bonfatti

João Bonfatti atualmente trabalha como Coordenador do setor de Análise de Desempenho no América-MG. Antes disso, teve passagens pelo Vasco da Gama, onde atuou em diferentes categorias: foi auxiliar técnico do Sub-20, treinador interino do Sub-17 e auxiliar técnico do Sub-17.

Atuou também pelo Atlético-MG, onde desempenhou o papel de auxiliar técnico do Sub-15. No Corinthians, auxiliar técnico do Sub-14, além de exercer a função de supervisor metodológico.

Sua formação inclui o Bacharelado em Futebol pela Universidade Federal de Viçosa e a Licença B da CBF Academy, o que reforça sua base teórica e prática no desenvolvimento de atletas.

Felipe Bonholi

Felipe Bonholi integra a equipe do Palmeiras como Analista de Desempenho no Centro de Formação de Atletas (CFA), contribuindo para o desenvolvimento e acompanhamento de jovens talentos.

Antes disso, acumulou cinco anos de experiência na Ferroviária, onde atuou como Analista de Desempenho da equipe profissional, e no São Carlos Futebol Clube na mesma função.

Sua formação acadêmica inclui Bacharelado em Administração de Empresas pela UNIARA (2014–2017) e graduação em andamento em Educação Física pela mesma instituição, iniciada em 2019.

Com sólida base teórica e ampla experiência prática, Felipe Bonholi se destaca por sua capacidade de integrar análise técnica, gestão e visão estratégica no contexto esportivo, contribuindo para o desempenho e evolução de atletas e equipes.

Mylena Baransk

Mylena Baransk é doutora em Educação Física pela Universidade Federal do Paraná e mestre em Ciências da Saúde pela Universidade Estadual de Ponta Grossa, onde também concluiu sua graduação em Educação Física – Bacharelado. Especialista em futsal com foco em análise de desempenho, atuou como docente em cursos do ensino superior e analista de desempenho no futebol.

Atualmente, exerce a função de analista de desempenho no Clube Atlético Mineiro, onde trabalha desde agosto de 2024. Antes disso, desempenhou a mesma função na Associação Ferroviária de Esportes entre março e agosto de 2024, atuando em Araraquara, São Paulo.

Além da atuação em clubes, possui experiência acadêmica como docente, tendo lecionado na UniCesumar entre julho e outubro de 2023, em Curitiba, Paraná. Também foi professora na UNIFATEB, onde atuou por quase três anos, de fevereiro de 2021 a outubro de 2023, em Telêmaco Borba, Paraná.

Com forte presença na área de análise de desempenho no futebol, também é CEO da Statisticsfut, onde se dedica ao desenvolvimento de conteúdos e estratégias voltadas à análise estatística e desempenho esportivo.

Nathália Arnosti

Nathália Arnosti é uma profissional de destaque na área de Fisiologia do Esporte e Preparação Física, com sólida formação acadêmica e ampla experiência no futebol brasileiro.

Bacharel e mestre em Educação Física pela Universidade Metodista de Piracicaba e doutora pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), ela construiu uma carreira marcada pela integração entre ciência e prática esportiva.

No cenário dos clubes, já contribuiu com equipes como Athletico Paranaense, Red Bull Bragantino, Palmeiras, Audax, Ferroviária e Ponte Preta. Em janeiro de 2024, assumiu o cargo de fisiologista do Cruzeiro, reforçando seu papel como referência no acompanhamento e otimização do desempenho esportivo.

Rodrigo Aquino

Rodrigo Aquino é professor na Universidade Federal do Espírito Santo, onde atua no Departamento de Desportos e como docente do Programa de Pós-Graduação em Educação Física (Mestrado e Doutorado).

É líder do Grupo de Estudos Pesquisa em Ciências no Futebol (GECIF/UFES) e coordenador do Programa Academia e Futebol (Núcleo UFES), financiado pelo Ministério do Esporte. Seu trabalho envolve a coordenação de projetos técnico-científicos em parceria com categorias de base e equipes profissionais de futebol no Brasil.

Rodrigo é graduado em Educação Física e Esporte pela USP, com especialização em Ciências do Desporto pela Universidade do Porto. Concluiu o mestrado e doutorado em Ciências também pela USP. Acumula experiência prática no futebol desde 2015 como fisiologista e preparador físico em clubes profissionais, além de atuar como treinador e coordenador técnico em categorias de base. Reconhecido academicamente, está entre os 10 cientistas do esporte mais produtivos da América Latina em publicações científicas relacionadas ao futebol.

Neto Pereira

Neto Pereira é um profissional de preparação física e performance esportiva com experiência em clubes do Brasil e do exterior. Atualmente é Preparador Físico no sub-20 do Vasco da Gama.

Trabalhou como Head Performance and Fitness Coach no FC Semey do Cazaquistão (2024). Foi Preparador Físico no Confiança (2023-2024) e Head of Performance and Health no Avaí (2022-2023). Também exerceu o cargo de Coordenador de Performance no Confiança (2022) e trabalhou como Fisiologista no CRB (2021-2022) e no próprio Confiança (2019-2021).

Possui Mestrado em Saúde e Educação Física pela Universidade Federal de Sergipe e Especialização em Desempenho Humano pela Universidade Tiradentes (Unit). Suas principais competências incluem preparação física, análise de desempenho, força, potência e velocidade no esporte.

Rafael Grazioli

Rafael Grazioli, natural de Canoas (RS), é formado em Educação Física pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), onde também concluiu mestrado e doutorado em Ciências do Movimento Humano.

Com nove anos de experiência atuando como coordenador científico e fisiologista no futebol profissional, ele passou as últimas três temporadas no Guarani de Campinas (SP) antes de ser anunciado pelo Criciúma em janeiro de 2025.