As funções executivas nas modalidades coletivas

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Imagem por Dimitris Vetsikas por Pixabay

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As funções executivas são denominadas como controle cognitivo, definidas por um conjunto integrado de habilidades que possibilitam a organização eficiente da realização de tarefas diárias. Assim, essas habilidades são requisitadas quando nos deparamos com uma situação nova e que precisa de resolução momentânea.

Quais são estas habilidades?

Algumas habilidades que compõe as nossas funções executivas são: memória de trabalho, inibição e flexibilidade cognitiva.

A memória de trabalho é a manutenção da informação e a habilidade de processar a mesma mentalmente e tomar uma atitude. Neste processo, o indivíduo estará relacionando ideias armazenadas a longo prazo, integrando a ordem dos fatos passados para um comportamento futuro, ou seja, ele poderá antecipar a ação por meio das vivências internalizadas.  

Logo, a inibição permitirá que o sujeito controle os comportamentos inapropriados ou irrelevantes para tal estímulo, sem agir no impulso.

E, por fim, a flexibilidade cognitiva se caracteriza pelas múltiplas informações que nosso cérebro processa diariamente. Quando compreendidas e vivenciadas ricamente no ambiente, possibilita que o indivíduo se adapte ao meio em que está e aos problemas que surgirem. Sendo assim, o indivíduo identifica o problema e gera soluções para resolvê-lo de forma rápida, eficiente e criativa.

A partir da integração dessas três habilidades, são derivadas outras funções superiores, como raciocínio, planejamento e resolução de problemas.

Como o Futsal contribui no desenvolvimento das funções executivas?

Os esportes coletivos requerem uma rápida antecipação e organização no espaço de jogo, alternância entre defesa e ataque, sintonia entre colegas de equipe, etc. Isso caracteriza um ambiente rico de estímulos. Portanto, o futsal é uma modalidade vasta destes estímulos.

Em princípio, precisamos encontrar maneiras de favorecer a evolução dessas habilidades citadas acima. Uma dessas maneiras é a organização de aulas/treinos. Podemos utilizar jogos que facilitem o aprimoramento das funções executivas, desenvolvendo inteligência tática, autonomia, criatividade, poder de decisão, percepção e resolução de problemas dos atletas.

Posteriormente a isso, entende-se que desenvolvemos as funções executivas a todo momento.  A capacidade de percepção durante o jogo, por exemplo, consiste em selecionar as informações essenciais para poder orientar uma ação técnica e tática que a situação exige. O poder da tomada de decisão é constituído como uma das principais potencialidades do atleta. Nesse sentido, o futsal oferece inúmeras possibilidades de ações, sempre tendo uma nova decisão a ser tomada de forma rápida.

Dessa forma, compreendemos que tais estímulos devem estar presentes durante as sessões de treino em uma rotina organizada, contextualizada em uma sequência pedagógica desafiadora e com jogos situacionais. O que permitirá uma maior segurança dos atletas no momento do jogo propriamente dito.

Sobretudo é importante ressaltar o controle emocional. Indivíduos com pouco controle das emoções demoram para reorganizar informações quando algo está instável, o que pode prejudicar a equipe.

Importância das funções executivas

Em síntese, todas essas funções mencionadas são fundamentais à aprendizagem e ao funcionamento do comportamento do indivíduo em distintos contextos diários. Quando não abordadas e desenvolvidas podem acarretar dificuldade de elaborar ações mentais e práticas, dificuldades para terminar uma atividade proposta (desatenção), irritabilidade, descontrole de emoções e etc.

Assim, a flexibilidade cognitiva, caracterizada por uma das principais habilidades das funções executivas, permite a capacidade de mudar a linha de raciocínio ou executar outra ação contextual de jogo. Seja para antecipar uma linha de passe, identificar uma superioridade numérica durante as transições de ataque e defesa, compreender as movimentações para o espaço vazio, entre outras situações que o futsal requer.

Afinal, o desenvolvimento dessas funções e/ou habilidades segue um longo trajeto desde a infância até a fase adulta. Seguindo esta premissa, é importante enaltecer o olhar sensível e pedagógico crítico na infância quando se aborda as modalidades coletivas. Já que não se trata apenas de propiciar um ambiente rico de estímulos para as crianças, mas sim contextualizado, devendo vir ao encontro com a especificidade da modalidade, caso contrário será um jogar por jogar.

E toda a memória de trabalho internalizada (memória a longo prazo), a compreensão do que não fazer e do que fazer, somados a ação intencional durante o jogo, só serão eficientes se treinadas e estimuladas. O caminho é complexo e solicita a busca constante de conhecimento por parte do profissional, bem como o futsal é uma ótima ferramenta para o desenvolvimento dessas funções.

Fontes e Referências

Funções executivas: desenvolvimento e intervenção. Temas sobre Desenvolvimento 2013;

https://www.annualreviews.org/doi/10.1146/annurev-psych-113011-143750


Contato da autora:
Instagram: @Torettifaveri

Confira abaixo um episódio do Podcast sobre o assunto:

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Rodrigo Aquino

Rodrigo Aquino é professor na Universidade Federal do Espírito Santo, onde atua no Departamento de Desportos e como docente do Programa de Pós-Graduação em Educação Física (Mestrado e Doutorado).

É líder do Grupo de Estudos Pesquisa em Ciências no Futebol (GECIF/UFES) e coordenador do Programa Academia e Futebol (Núcleo UFES), financiado pelo Ministério do Esporte. Seu trabalho envolve a coordenação de projetos técnico-científicos em parceria com categorias de base e equipes profissionais de futebol no Brasil.

Rodrigo é graduado em Educação Física e Esporte pela USP, com especialização em Ciências do Desporto pela Universidade do Porto. Concluiu o mestrado e doutorado em Ciências também pela USP. Acumula experiência prática no futebol desde 2015 como fisiologista e preparador físico em clubes profissionais, além de atuar como treinador e coordenador técnico em categorias de base. Reconhecido academicamente, está entre os 10 cientistas do esporte mais produtivos da América Latina em publicações científicas relacionadas ao futebol.

Neto Pereira

Neto Pereira é um profissional de preparação física e performance esportiva com experiência em clubes do Brasil e do exterior. Atualmente é Preparador Físico no sub-20 do Vasco da Gama.

Trabalhou como Head Performance and Fitness Coach no FC Semey do Cazaquistão (2024). Foi Preparador Físico no Confiança (2023-2024) e Head of Performance and Health no Avaí (2022-2023). Também exerceu o cargo de Coordenador de Performance no Confiança (2022) e trabalhou como Fisiologista no CRB (2021-2022) e no próprio Confiança (2019-2021).

Possui Mestrado em Saúde e Educação Física pela Universidade Federal de Sergipe e Especialização em Desempenho Humano pela Universidade Tiradentes (Unit). Suas principais competências incluem preparação física, análise de desempenho, força, potência e velocidade no esporte.

Rafael Grazioli

Rafael Grazioli, natural de Canoas (RS), é formado em Educação Física pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), onde também concluiu mestrado e doutorado em Ciências do Movimento Humano.

Com nove anos de experiência atuando como coordenador científico e fisiologista no futebol profissional, ele passou as últimas três temporadas no Guarani de Campinas (SP) antes de ser anunciado pelo Criciúma em janeiro de 2025.