Análise de redes: nova forma de identificar padrões em um jogo de futebol

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Foto de Markus Spiske na Unsplash

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A complexidade do Futebol faz com que o analisemos através da identificação de padrões. Desta forma apresentaremos a análise de redes, ou análise de redes sociais, que é uma das maneiras mais recentes aplicadas no Futebol para identificar padrões.

O que é a análise de redes sociais?

Em um breve resumo, a análise de redes sociais se utiliza da teoria dos grafos para analisar as relações presentes em estruturas sociais. Dito isto, temos que através desta, é possível com auxílio de grafos, observar as relações dentro de um grupo de amigos, clubes, etc.

Assim, de forma mais clara, há um exemplo conhecido dessas relações e da utilização de grafos para apresentá-las: uma imagem da antiga página do facebook. Esta imagem tem o intuito de mostrar que, através do site, é possível manter relações e interagir com conhecidos, independente da distância que está deles.

Entendeu agora o termo “redes sociais”? Sim, literalmente uma rede, onde cada indivíduo representa um vértice (ou nó) e se conecta com os outros através de arestas (ou linhas).

Por onde começar a análise de redes no futebol?

Para começar é necessário conhecer matriz de adjacência e softwares que, a partir dela, construam um grafo.

Matriz de adjacência

Primeiramente, a matriz de adjacência é a maneira mais utilizada para representar um grafo, mas não é a única. Assim sendo, também é possível através de uma lista de adjacência ou matriz de incidência.

Bom, mas afinal, o que seria uma matriz de adjacência?

A matriz de adjacência nada mais é que uma matriz que apresenta as conexões (ou frequência destas) entre os vértices (ou nós).

Ok, mas como a usaríamos no Futebol?

Então, com ela podemos apresentar as conexões entre os jogadores, sendo por meio do passe a mais empregada. Para contextualizar isso usaremos a imagem abaixo, onde a diagonal principal é composta por 0, pois nenhum jogador troca passes com ele mesmo, e as demais, apenas como exemplo, por 1, sinalizando 1 passe trocado entre os atletas.

Cabe ressaltar que para obter esta matriz será necessário desembolsar dinheiro em alguma plataforma (por exemplo o instat ou wyscout) ou registrar os passes manualmente.

A construção do grafo: os softwares

Após ter em mãos está matriz de adjacência, com auxílio de alguns softwares será possível obter os grafos que apresentem a relação entre os jogadores. Abaixo alguns dos softwares que tornam isso possível:

Caso tenha conhecimento de linguagens de programação, também conseguirá criar grafos com bibliotecas do python, por exemplo.

Partindo para a aplicação da análise de redes no futebol

Antes de começar, é necessário entender o grafo gerado

Então, com a matriz de adjacência em mãos e o auxílio do software escolhido, você conseguirá criar um grafo similar ao da imagem abaixo. Desta forma, será possível encontrar alguns padrões, mas citaremos isso mais adiante, primeiro é fundamental saber que:

  • Os vértices são os jogadores e as arestas a conexão através do passe;
  • Quanto mais grossa a aresta, maior a interação entre os vértices;
  • Quanto maior o diâmetro do círculo verde (que representa o vértice), mais conexões este estabelece com os demais.

Mas e agora, quais padrões podemos identificar?

Analisaremos um jogo!

Vamos usar a imagem acima como exemplo e, com base nela, identificar alguns padrões. Assim sendo, os padrões que, à primeira vista, saltam aos olhos são:

  • Jogador camisa 4 o mais acionado (maior diâmetro);
  • Jogador camisa 5 é quem mais estabelece fortes conexões com os demais;
  • Muita troca de passe entre defensores;
  • Goleiro com forte conexão com os zagueiros, o que pode sugerir uma saída de jogo apoiada com maior frequência;
  • Corredor esquerdo com maior conexão lateral-extremo/ponta, o que pode sugerir a prioridade do lateral direito em se conectar por dentro (mais construtor);
  • Laterais com boas conexões, o que pode sugerir grande auxílio deles na construção;

Beleza, esses são alguns dos vários pontos que conseguimos extrair da imagem, mas nunca se esqueça: a análise de apenas um jogo pode fornecer ideias erradas, pois vários dos padrões podem sofrer influências estratégicas. Ou seja, por exemplo, um jogador mais acionado, como aconteceu com o camisa 4, pode ter sido estratégia do adversário ou do próprio time. Então, não conclua nada após analisar apenas um jogo.

Além dos já citados, haveria outra enormidade de padrões identificáveis. Desta forma, citando apenas um, através da distância mais frequente dos passes seria possível identificar a preferência por um jogo mais apoiado ou direto.

Contato do autor – Instagram: @ralazzarottop


Confira um episódio do Podcast Ciência da Bola que fala sobre o assunto:

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Rodrigo Aquino

Rodrigo Aquino é professor na Universidade Federal do Espírito Santo, onde atua no Departamento de Desportos e como docente do Programa de Pós-Graduação em Educação Física (Mestrado e Doutorado).

É líder do Grupo de Estudos Pesquisa em Ciências no Futebol (GECIF/UFES) e coordenador do Programa Academia e Futebol (Núcleo UFES), financiado pelo Ministério do Esporte. Seu trabalho envolve a coordenação de projetos técnico-científicos em parceria com categorias de base e equipes profissionais de futebol no Brasil.

Rodrigo é graduado em Educação Física e Esporte pela USP, com especialização em Ciências do Desporto pela Universidade do Porto. Concluiu o mestrado e doutorado em Ciências também pela USP. Acumula experiência prática no futebol desde 2015 como fisiologista e preparador físico em clubes profissionais, além de atuar como treinador e coordenador técnico em categorias de base. Reconhecido academicamente, está entre os 10 cientistas do esporte mais produtivos da América Latina em publicações científicas relacionadas ao futebol.

Neto Pereira

Neto Pereira é um profissional de preparação física e performance esportiva com experiência em clubes do Brasil e do exterior. Atualmente é Preparador Físico no sub-20 do Vasco da Gama.

Trabalhou como Head Performance and Fitness Coach no FC Semey do Cazaquistão (2024). Foi Preparador Físico no Confiança (2023-2024) e Head of Performance and Health no Avaí (2022-2023). Também exerceu o cargo de Coordenador de Performance no Confiança (2022) e trabalhou como Fisiologista no CRB (2021-2022) e no próprio Confiança (2019-2021).

Possui Mestrado em Saúde e Educação Física pela Universidade Federal de Sergipe e Especialização em Desempenho Humano pela Universidade Tiradentes (Unit). Suas principais competências incluem preparação física, análise de desempenho, força, potência e velocidade no esporte.

Rafael Grazioli

Rafael Grazioli, natural de Canoas (RS), é formado em Educação Física pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), onde também concluiu mestrado e doutorado em Ciências do Movimento Humano.

Com nove anos de experiência atuando como coordenador científico e fisiologista no futebol profissional, ele passou as últimas três temporadas no Guarani de Campinas (SP) antes de ser anunciado pelo Criciúma em janeiro de 2025.