A intencionalidade no Futebol

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Foto de leah hetteberg na Unsplash

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A intencionalidade no futebol é um termo muito utilizado por treinadores, analistas e todos que estão envolvidos também com a parte teórica do jogo. Mas, você já parou para pensar o que, de fato, quer dizer?

O que é a intencionalidade no futebol?

Bom, começamos com um trecho da Tese do Prof. Dr. Rodrigo Leitão, onde o mesmo cita que “a intencionalidade é a expressão do ser em ação; ação com sentido”. Isto é, a intencionalidade no futebol surge dos movimentos que têm algum propósito, seja ele um passe, um drible, uma condução simples, enfim, qualquer movimento, mas que esteja dentro e voltado para um objetivo maior. Em resumo, é a ação individual, com uma lógica dentro do comportamento coletivo.

Porque movimentos de intencionalidade no futebol são tão importantes?

A complexidade…

Antes de mais nada, é importante falar que o jogo de futebol decorre em um ambiente de alta complexidade, com várias interferências externas, confrontos e cooperações a torto e direito. Essa enorme e diversificada quantidade de interações simultâneas “eu-companheiros-adversários-ambiente-etc-etc-etc.”, torna o futebol extremamente complexo.

A imprevisibilidade…

Isto tudo que decorre em seu seio é, na mais profunda análise, imprevisível. Pois bem, reflita: o quanto o ambiente, com sua variação de temperatura, umidade e diferentes velocidades, direções e sentidos do vento, afeta o decorrer de um jogo? E o entoar da torcida, os gritos da comissão técnica, dos companheiros e dos adversários também não influenciam a dinâmica da partida? Enfim, poderíamos continuar até o mais ínfimo ponto, considerando até mesmo os fatores pré-jogo, e, mesmo assim, não abrangeríamos tudo que o torna tão imprevisível.

Dito isto, o que faz a intencionalidade ser tão importante? Vamos mencionar dois pontos que deixam isso evidente.

Menor esforço, maior harmonia…

  • Em primeiro lugar: se tratando de algo tão imprevisível e complexo, é fundamental que os jogadores da equipe tenham comportamentos coerentes com o modelo de jogo adotado.  Dessa forma, o primeiro ponto é baseado na “linguagem coletiva”, é esse modelo assimilado e executado por todos os jogadores simultaneamente que permite fluência e sintonia. Se as ações não têm nenhum propósito, se os movimentos não correspondem aos objetivos coletivos pré-determinados, como haverá uma lógica compreendida por toda a equipe? Se o idioma proposto é o X, como uma equipe composta por jogadores que a cada momento se utilizam de uma letra diferente do alfabeto pode alcançar seus objetivos?

A intencionalidade no futebol entra nesta perspectiva, sendo vital que os jogadores tenham ações com propósito, visando a harmonia e sintonia coletiva em busca dos objetivos pré-determinados para cada momento.

  • Em segundo lugar: em meio a complexidade do jogo e a alta velocidade com que as ações são executadas, a intencionalidade evita gastos desnecessários. Toda ação é proveniente de um esforço, gerando não apenas desgastes físicos, como também cognitivos e, por que não, táticos, o que implicaria em uma cadeia de ações coletivas desnecessárias por conta de um único comportamento sem propósito coletivo. Então, agir por agir, fazer por fazer, desgasta não apenas quem realiza, mas gera um desgaste em cadeia.

Em um jogo tão complexo e imprevisível, é fundamental estar em ótima condição para tomar as melhores decisões no menor tempo possível, o que nos leva a importância em evitar desgastes desnecessários.

Certamente você já entendeu que a intencionalidade no futebol está voltada para as ações que possuem alguma lógica maior, estando conectadas ao comportamento coletivo, ou seja, coerente ao modelo de jogo. Mas, será tão fácil assim verificar intencionalidades?

A intencionalidade de entendimento imediato

As intencionalidades de entendimento imediato são geralmente compostas por ações com a bola, tendo em vista que, na maioria das vezes, é lá que se encontra o foco do telespectador (graças também, é claro, às transmissões mais acessíveis), onde fica evidente a intenção do jogador em posse desta.

Bem como o falado no parágrafo acima, o primeiro exemplo exposto no vídeo abaixo é a partir de um escanteio, onde o ex-jogador Alex coloca a bola atrás da meia-lua da grande área. Você deve se perguntar ao ler esse trecho sem ver o vídeo: qual o sentido disto? De fato, é incomum escanteios cobrados para fora da grande área, porém ao assistir o lance fica nítida a intenção do jogador. Este lance terminou em gol na ação seguinte, sendo o mesmo vencedor do Prêmio Puskas, de gol mais bonito da temporada de 2012.

Quem nunca ouviu o termo “chutão”, geralmente associado a defensores?! Claro, é um termo cada vez menos usado, tendo em vista a intencionalidade mencionada e as, cada vez mais cobradas, qualidades dos defensores em jogar com os pés. Desse modo, o vídeo abaixo mostra mais um lance incomum, onde o goleiro Cássio, através de um lançamento, dá assistência para o gol de Malcom.

A intencionalidade de não-entendimento imediato

Estas normalmente são através de movimentos sem bola. Pois bem, o vídeo abaixo apresenta uma movimentação de atração que gerou espaço para um companheiro. Portanto, a movimentação não foi “em vão”.

Nesse sentido, temos um texto onde apresentamos outras formas intencionais de movimentação ou posicionamento para gerar espaço-tempo.

Para finalizar, o último vídeo apresenta uma movimentação do jogador Suárez, na época no Barcelona, para gerar vantagem para si próprio através de sua movimentação. Note que sua mudança de direção, seguida por uma aceleração abrupta, lhe deu tempo e espaço para finalizar e marcar o gol. Então, sua mudança de direção e aceleração repentina foram intencionais, visando a criação de maior espaço-tempo para facilitar a conclusão da jogada.

Há também outras formas de gerar superioridades descritas no texto sobre superioridades.

Portanto, a intencionalidade se expressa na resposta da seguinte pergunta: Por que fazer?

Contato do autor:
Instagram: @ralazzarottop

Confira abaixo um episódio do Podcast sobre o assunto:

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João Bonfatti

João Bonfatti atualmente trabalha como Coordenador do setor de Análise de Desempenho no América-MG. Antes disso, teve passagens pelo Vasco da Gama, onde atuou em diferentes categorias: foi auxiliar técnico do Sub-20, treinador interino do Sub-17 e auxiliar técnico do Sub-17.

Atuou também pelo Atlético-MG, onde desempenhou o papel de auxiliar técnico do Sub-15. No Corinthians, auxiliar técnico do Sub-14, além de exercer a função de supervisor metodológico.

Sua formação inclui o Bacharelado em Futebol pela Universidade Federal de Viçosa e a Licença B da CBF Academy, o que reforça sua base teórica e prática no desenvolvimento de atletas.

Felipe Bonholi

Felipe Bonholi integra a equipe do Palmeiras como Analista de Desempenho no Centro de Formação de Atletas (CFA), contribuindo para o desenvolvimento e acompanhamento de jovens talentos.

Antes disso, acumulou cinco anos de experiência na Ferroviária, onde atuou como Analista de Desempenho da equipe profissional, e no São Carlos Futebol Clube na mesma função.

Sua formação acadêmica inclui Bacharelado em Administração de Empresas pela UNIARA (2014–2017) e graduação em andamento em Educação Física pela mesma instituição, iniciada em 2019.

Com sólida base teórica e ampla experiência prática, Felipe Bonholi se destaca por sua capacidade de integrar análise técnica, gestão e visão estratégica no contexto esportivo, contribuindo para o desempenho e evolução de atletas e equipes.

Mylena Baransk

Mylena Baransk é doutora em Educação Física pela Universidade Federal do Paraná e mestre em Ciências da Saúde pela Universidade Estadual de Ponta Grossa, onde também concluiu sua graduação em Educação Física – Bacharelado. Especialista em futsal com foco em análise de desempenho, atuou como docente em cursos do ensino superior e analista de desempenho no futebol.

Atualmente, exerce a função de analista de desempenho no Clube Atlético Mineiro, onde trabalha desde agosto de 2024. Antes disso, desempenhou a mesma função na Associação Ferroviária de Esportes entre março e agosto de 2024, atuando em Araraquara, São Paulo.

Além da atuação em clubes, possui experiência acadêmica como docente, tendo lecionado na UniCesumar entre julho e outubro de 2023, em Curitiba, Paraná. Também foi professora na UNIFATEB, onde atuou por quase três anos, de fevereiro de 2021 a outubro de 2023, em Telêmaco Borba, Paraná.

Com forte presença na área de análise de desempenho no futebol, também é CEO da Statisticsfut, onde se dedica ao desenvolvimento de conteúdos e estratégias voltadas à análise estatística e desempenho esportivo.

Nathália Arnosti

Nathália Arnosti é uma profissional de destaque na área de Fisiologia do Esporte e Preparação Física, com sólida formação acadêmica e ampla experiência no futebol brasileiro.

Bacharel e mestre em Educação Física pela Universidade Metodista de Piracicaba e doutora pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), ela construiu uma carreira marcada pela integração entre ciência e prática esportiva.

No cenário dos clubes, já contribuiu com equipes como Athletico Paranaense, Red Bull Bragantino, Palmeiras, Audax, Ferroviária e Ponte Preta. Em janeiro de 2024, assumiu o cargo de fisiologista do Cruzeiro, reforçando seu papel como referência no acompanhamento e otimização do desempenho esportivo.

Rodrigo Aquino

Rodrigo Aquino é professor na Universidade Federal do Espírito Santo, onde atua no Departamento de Desportos e como docente do Programa de Pós-Graduação em Educação Física (Mestrado e Doutorado).

É líder do Grupo de Estudos Pesquisa em Ciências no Futebol (GECIF/UFES) e coordenador do Programa Academia e Futebol (Núcleo UFES), financiado pelo Ministério do Esporte. Seu trabalho envolve a coordenação de projetos técnico-científicos em parceria com categorias de base e equipes profissionais de futebol no Brasil.

Rodrigo é graduado em Educação Física e Esporte pela USP, com especialização em Ciências do Desporto pela Universidade do Porto. Concluiu o mestrado e doutorado em Ciências também pela USP. Acumula experiência prática no futebol desde 2015 como fisiologista e preparador físico em clubes profissionais, além de atuar como treinador e coordenador técnico em categorias de base. Reconhecido academicamente, está entre os 10 cientistas do esporte mais produtivos da América Latina em publicações científicas relacionadas ao futebol.

Neto Pereira

Neto Pereira é um profissional de preparação física e performance esportiva com experiência em clubes do Brasil e do exterior. Atualmente é Preparador Físico no sub-20 do Vasco da Gama.

Trabalhou como Head Performance and Fitness Coach no FC Semey do Cazaquistão (2024). Foi Preparador Físico no Confiança (2023-2024) e Head of Performance and Health no Avaí (2022-2023). Também exerceu o cargo de Coordenador de Performance no Confiança (2022) e trabalhou como Fisiologista no CRB (2021-2022) e no próprio Confiança (2019-2021).

Possui Mestrado em Saúde e Educação Física pela Universidade Federal de Sergipe e Especialização em Desempenho Humano pela Universidade Tiradentes (Unit). Suas principais competências incluem preparação física, análise de desempenho, força, potência e velocidade no esporte.

Rafael Grazioli

Rafael Grazioli, natural de Canoas (RS), é formado em Educação Física pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), onde também concluiu mestrado e doutorado em Ciências do Movimento Humano.

Com nove anos de experiência atuando como coordenador científico e fisiologista no futebol profissional, ele passou as últimas três temporadas no Guarani de Campinas (SP) antes de ser anunciado pelo Criciúma em janeiro de 2025.