A importância do contexto no Futebol

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Foto por Maurício Mascaro/Pexels

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A importância do contexto no futebol para a não-generalização de metodologias e processos nesse esporte.

Nos últimos anos a palavra contexto vem sendo muito empregada no meio do Futebol, principalmente por aqueles interessados em compreender o jogo e as demais áreas inerentes. Aliás, se você acompanha nossos textos, certamente já deve ter se deparado inúmeras vezes com o termo contexto no futebol.

O que é contexto?

Pois bem, antes de começar, vamos nos atentar ao significado da palavra contexto segundo o dicionário michaelis:

Conjunto de circunstâncias que envolvem um fato e são imprescindíveis para o entendimento deste.

Então, contextualizar significa compreender o fato considerando o seu contexto, ou seja, todo o seu entorno, tudo aquilo que pode interferir neste.

Para compreendermos a importância do contexto, de uma forma bem simples e direta, exemplificaremos com o seguinte cenário:

  • Augusto, aluno do 7° ano, tirou 3,0 pontos na prova de Matemática.

E agora, será que somente com essa informação é possível sabermos se Augusto foi bem ou mal na prova em questão? Sem saber, por exemplo, o valor da prova, fica difícil afirmar o quão bom (ou ruim) foi o desempenho de Augusto. Captou a ideia? Entendeu o quão importante é compreender o contexto?

Visto isso, na sequência do texto apresentaremos alguns dos porquês dessa importância, usando como exemplo o treinamento, a análise do adversário e a captação de jogadores. Que fique claro: não vamos nos aprofundar muito em cada um dos tópicos, pois há vários textos já publicados aqui, os quais citaremos no discorrer, que os apresentam de forma mais profunda e completa.

O contexto do treinamento de futebol

Antes de começarmos este tópico, gostaríamos que você mesmo, após a introdução, buscasse entender o que seria essa contextualização dentro do treinamento, refletindo sobre o assunto. Será que é possível copiar um treinamento e aplicar no seu clube, sem qualquer adaptação?

Primeiramente, em qual clube você se encontra? Quais são os objetivos destes para a categoria no qual trabalha? A preocupação é, caso atue nas categorias de base, em formar jogadores para posterior venda ou para a utilização na equipe principal? Enfim, essas são apenas algumas das várias perguntas que se devem responder para melhor atender as exigências presentes.

Então, após reconhecer as exigências e necessidades do clube, adentramos nos contextos voltados para o treinamento em si. Neste cenário, várias publicações levantam a importância de se treinar, de fato, o jogo. Compreender o jogar desejado pelo treinador, a partir de seu modelo de jogo, e treiná-lo para conseguir executar durante as partidas, é uma das principais contextualizações necessárias. Aliás, falando em modelo de jogo, o mesmo requer adaptações ao contexto, mas, para isso, sugiro que você leia o nosso texto referente ao mesmo.

[…] o treino é que faz o jogo que justifica ou valida o treino

Prof. Dr. Júlio Garganta, citado no livro “Para um Futebol jogado com Idéias”.

Elenco / indivíduos

Outra contextualização é o olhar para o indivíduo. Isso requer um grande conhecimento acerca do elenco, para entendermos as facilidades e dificuldades apresentadas pelos jogadores. Além disso, caso o treino seja para uma categoria dos anos iniciais, cabe se atentar à fase do desenvolvimento cognitivo da faixa-etária, não tornando os treinamentos mais ou menos complexos do que seus jogadores necessitam. 

Para além do mencionado, existe a necessidade de avaliações constantes e de armazenamento destas informações, pois verificar o nível de evolução dos jogadores é fundamental para o ajuste dos treinamentos, buscando sempre potencializar o desenvolvimento destes. Em outras palavras, o contexto exige adequação ao desenvolvimento dos seus jogadores, e, para tanto, existe a necessidade destas avaliações e o armazenamento destas informações para o compreender.

Respondendo à pergunta inicial, cada contexto exige uma abordagem diferente, percebe? Exige inúmeras adaptações. Logo, não existe um treinamento replicável de forma eficiente em diferentes cenários e contextos no futebol, sem a necessidade de adaptações.

A contextualização da análise

“A necessidade de interpretar os dados recolhidos em função das características específicas das partidas, leva os analistas a focalizarem cada vez mais a sua atenção na relevância contextual dos comportamentos dos jogadores, o que conduz ao estudo da organização do jogo de ambas as equipas em confronto”.

Citado na Tese do Prof. Dr. Júlio Garganta.

Análise do adversário

Para não deixarmos o texto muito extenso, apenas considerarei alguns pontos voltados para análise do adversário. Mas fica claro, como já mencionado acima e o que será dito na sequência, que o mesmo se aplica para as outras diferentes vertentes da análise. Dessa forma, a primeira grande contextualização é a respeito da própria análise, onde a busca por entender de fato as ações devem ir além do superficial.

O que isso quer dizer?

Quer dizer que as ações analisadas devem ser compreendidas no contexto ao qual ocorreram, ou seja, é fundamental buscar os porquês que os levaram a elas. Aliás, caso queira compreender um pouco mais este assunto, sugiro os inúmeros textos publicados por aqui, por exemplo: a respeito do relatório de análise e sobre a necessidade de reconhecer a complexidade do jogo.

Pré-análise do adversário: quais jogos analisar?

Seguindo o texto, outra importante contextualização é acerca da pré-análise. Refletimos: será que é apenas pegar N jogos do adversário para analisar, não importando mais nada? As equipes se comportam sempre iguais, independentemente do adversário, da competição, de fatores climáticos, do mando de campo e de possíveis desfalques, por exemplo? Claramente que não. Então, antes de analisar o jogo, você deve buscar fatores coerentes e aproximados ao que se observará no jogo que sua equipe realizará diante deste adversário. Aliás, cabe incutir na análise fatores inerentes ao jogo, como as mudanças comportamentais induzidas por vantagens ou desvantagens no placar, por conta das possíveis substituições e também possíveis superioridades ou inferioridades numéricas provocadas por expulsões ou lesões após a última possível substituição.

Para encerrar, destaque o possível cenário encontrado no dia da partida. Por exemplo: onde ocorrerá o jogo e como estará o clima neste dia? A equipe mudou de comando ou está pressionada por algum motivo? Enfim, torne sua análise cada vez mais robusta, com informações relevantes que possam agregar informação de qualidade em sua análise.

O contexto no futebol: captação de jogadores

É bem provável que você já tenha participado de uma “peneira”, aquelas avaliações realizadas pelos clubes contendo centenas de crianças, adolescentes ou jovens, todos na expectativa de adentrar as categorias de base do clube. Além disso, caso já tenha participado, também já deve ter refletido acerca da metodologia de avaliação empregada nesta peneira que participou. Não é?

É sobre isso que se trataremos neste tópico. No entanto, não falaremos somente acerca das peneiras, mas sim, considerando todos os processos de captação de jovens jogadores. Neste cenário a contextualização se daria, de maneira inicial e já mencionada acima, em quais são os objetivos da equipe e as necessidades da categoria. Em contrapartida, além dessas questões, algo que se faz necessário quando tratamos de jogadores que nem sempre atingiram sua maturação plena: precisamos considerar o seu potencial de desenvolvimento, o próprio nível de maturação e as diferenças existentes devido à idade relativa. Logo, cada faixa-etária exige uma diferente metodologia de observação, conforme o seu desenvolvimento físico, cognitivo e potencial para desenvolvimento técnico-tático.

Ainda, para concluir, se tratando de jovens jogadores, os fatores referentes à adaptação no local, a influência do possível distanciamento dos familiares e as de cunho escolar, são fundamentais e devem ser incluídas nesse processo.

Concluindo, a generalização é possível?

Então, seria possível seguir a risca, sem a necessidade de adaptações, modelos de sucesso em outros clubes? Existe um molde genérico que vale para qualquer contexto e cenário? Essas questões ficam para a sua reflexão.

Confira abaixo um episódio do Podcast sobre o assunto:

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João Bonfatti

João Bonfatti atualmente trabalha como Coordenador do setor de Análise de Desempenho no América-MG. Antes disso, teve passagens pelo Vasco da Gama, onde atuou em diferentes categorias: foi auxiliar técnico do Sub-20, treinador interino do Sub-17 e auxiliar técnico do Sub-17.

Atuou também pelo Atlético-MG, onde desempenhou o papel de auxiliar técnico do Sub-15. No Corinthians, auxiliar técnico do Sub-14, além de exercer a função de supervisor metodológico.

Sua formação inclui o Bacharelado em Futebol pela Universidade Federal de Viçosa e a Licença B da CBF Academy, o que reforça sua base teórica e prática no desenvolvimento de atletas.

Felipe Bonholi

Felipe Bonholi integra a equipe do Palmeiras como Analista de Desempenho no Centro de Formação de Atletas (CFA), contribuindo para o desenvolvimento e acompanhamento de jovens talentos.

Antes disso, acumulou cinco anos de experiência na Ferroviária, onde atuou como Analista de Desempenho da equipe profissional, e no São Carlos Futebol Clube na mesma função.

Sua formação acadêmica inclui Bacharelado em Administração de Empresas pela UNIARA (2014–2017) e graduação em andamento em Educação Física pela mesma instituição, iniciada em 2019.

Com sólida base teórica e ampla experiência prática, Felipe Bonholi se destaca por sua capacidade de integrar análise técnica, gestão e visão estratégica no contexto esportivo, contribuindo para o desempenho e evolução de atletas e equipes.

Mylena Baransk

Mylena Baransk é doutora em Educação Física pela Universidade Federal do Paraná e mestre em Ciências da Saúde pela Universidade Estadual de Ponta Grossa, onde também concluiu sua graduação em Educação Física – Bacharelado. Especialista em futsal com foco em análise de desempenho, atuou como docente em cursos do ensino superior e analista de desempenho no futebol.

Atualmente, exerce a função de analista de desempenho no Clube Atlético Mineiro, onde trabalha desde agosto de 2024. Antes disso, desempenhou a mesma função na Associação Ferroviária de Esportes entre março e agosto de 2024, atuando em Araraquara, São Paulo.

Além da atuação em clubes, possui experiência acadêmica como docente, tendo lecionado na UniCesumar entre julho e outubro de 2023, em Curitiba, Paraná. Também foi professora na UNIFATEB, onde atuou por quase três anos, de fevereiro de 2021 a outubro de 2023, em Telêmaco Borba, Paraná.

Com forte presença na área de análise de desempenho no futebol, também é CEO da Statisticsfut, onde se dedica ao desenvolvimento de conteúdos e estratégias voltadas à análise estatística e desempenho esportivo.

Nathália Arnosti

Nathália Arnosti é uma profissional de destaque na área de Fisiologia do Esporte e Preparação Física, com sólida formação acadêmica e ampla experiência no futebol brasileiro.

Bacharel e mestre em Educação Física pela Universidade Metodista de Piracicaba e doutora pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), ela construiu uma carreira marcada pela integração entre ciência e prática esportiva.

No cenário dos clubes, já contribuiu com equipes como Athletico Paranaense, Red Bull Bragantino, Palmeiras, Audax, Ferroviária e Ponte Preta. Em janeiro de 2024, assumiu o cargo de fisiologista do Cruzeiro, reforçando seu papel como referência no acompanhamento e otimização do desempenho esportivo.

Rodrigo Aquino

Rodrigo Aquino é professor na Universidade Federal do Espírito Santo, onde atua no Departamento de Desportos e como docente do Programa de Pós-Graduação em Educação Física (Mestrado e Doutorado).

É líder do Grupo de Estudos Pesquisa em Ciências no Futebol (GECIF/UFES) e coordenador do Programa Academia e Futebol (Núcleo UFES), financiado pelo Ministério do Esporte. Seu trabalho envolve a coordenação de projetos técnico-científicos em parceria com categorias de base e equipes profissionais de futebol no Brasil.

Rodrigo é graduado em Educação Física e Esporte pela USP, com especialização em Ciências do Desporto pela Universidade do Porto. Concluiu o mestrado e doutorado em Ciências também pela USP. Acumula experiência prática no futebol desde 2015 como fisiologista e preparador físico em clubes profissionais, além de atuar como treinador e coordenador técnico em categorias de base. Reconhecido academicamente, está entre os 10 cientistas do esporte mais produtivos da América Latina em publicações científicas relacionadas ao futebol.

Neto Pereira

Neto Pereira é um profissional de preparação física e performance esportiva com experiência em clubes do Brasil e do exterior. Atualmente é Preparador Físico no sub-20 do Vasco da Gama.

Trabalhou como Head Performance and Fitness Coach no FC Semey do Cazaquistão (2024). Foi Preparador Físico no Confiança (2023-2024) e Head of Performance and Health no Avaí (2022-2023). Também exerceu o cargo de Coordenador de Performance no Confiança (2022) e trabalhou como Fisiologista no CRB (2021-2022) e no próprio Confiança (2019-2021).

Possui Mestrado em Saúde e Educação Física pela Universidade Federal de Sergipe e Especialização em Desempenho Humano pela Universidade Tiradentes (Unit). Suas principais competências incluem preparação física, análise de desempenho, força, potência e velocidade no esporte.

Rafael Grazioli

Rafael Grazioli, natural de Canoas (RS), é formado em Educação Física pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), onde também concluiu mestrado e doutorado em Ciências do Movimento Humano.

Com nove anos de experiência atuando como coordenador científico e fisiologista no futebol profissional, ele passou as últimas três temporadas no Guarani de Campinas (SP) antes de ser anunciado pelo Criciúma em janeiro de 2025.