A motivação no futebol

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Imagem por Dimitris Vetsikas por Pixabay

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A motivação no futebol é um termo muito presente no citado esporte. Porém, o que é motivação ou estar motivado? É possível motivar um jogador? Ou como disse Muricy Ramalho certa vez: A maior motivação é o salário depositado na conta no fim do mês” !?

Antes de tudo, é preciso entender do que estamos falando. O conceito de motivação, didaticamente explicando, é simples. A motivação pode ser definida como a direção e a intensidade dos nossos esforços. Em primeiro lugar, a direção do esforço refere-se ao fato de um indivíduo buscar, aproximar-se ou ser atraído por certas situações. Em segundo lugar, a intensidade do esforço refere-se a quanto esforço uma pessoa coloca em determinada situação para conseguir aquele objetivo.

As três abordagens principais da motivação

Em conformidade com essa definição, pode-se compreender as três abordagens principais sobre a motivação:

A visão centrada no traço:

A visão centrada no traço (também chamada de visão centrada no participante) afirma que o comportamento motivado se dá, principalmente, em função de características individuais. Ou seja, a personalidade, as necessidades e os objetivos de um atleta são os determinantes principais do comportamento motivado. Em suma, a motivação está no atleta.

A visão centrada na situação:

Em contraste direto com a visão centrada no traço, a visão centrada na situação afirma que o nível de motivação é determinado principalmente pela situação.

A visão interacionista:

A visão de motivação mais aceita hoje em dia por psicólogos do esporte e do exercício é a visão interacional entre indivíduo–situação. Para resumir, é uma abordagem que leva em considerações fatores da personalidade e do ambiente.

Diretrizes para desenvolver a motivação

De maneira resumida, a motivação possui componentes relacionados ao atleta e outros relacionados à tarefa. Entretanto, existem várias maneiras de desenvolver a motivação visando ambos domínios. Alguns exemplos estão dispostos a seguir.

Enquanto treinador/membro da comissão:

Levar em consideração que tanto as situações como os traços motivam as pessoas. Isto é, existem jogadores mais ou menos motivados intrinsecamente do que outros, bem como existem jogos ou competições mais motivadoras do que outras.

Entender que as pessoas têm vários motivos para fazer algo. Isso significa que cada atleta tem seus motivos para ser jogador profissional, tem seus objetivos de carreira, suas metas. Nesse sentido, cabe aos membros da comissão compreenderem e usarem isso a favor na questão motivacional.

Alterar o ambiente para aumentar a motivação. Existem várias formas de criar competitividade ou união dentro de um grupo de jogadores. Portanto, é necessário ajustar o ambiente para aumentar a motivação de maneira geral.

Dar incentivo à motivação. Em outras palavras, é servir de exemplo e manter-se motivado. Isso porque é comum que grupos de pessoas que convivem percebam alterações no estado emocional de algum dos integrantes. Caso a própria comissão não esteja motivada, isso pode acabar reverberando no grupo de atletas.

Enquanto atleta:

Buscar compreender os aspectos que o motivam à tarefa. Em alguns casos é fundamental acompanhamento com profissional da Psicologia através do treinamento de habilidades psicológicas (THP). Porém, alguns atletas já possuem um bom autoconhecimento, conseguindo se motivar com mais facilidade.

Buscar uma orientação à tarefa e não ao resultado. A orientação à tarefa mais frequentemente do que a orientação ao resultado, pode levar a uma forte ética de trabalho, à persistência em face de fracasso e à excelência no desempenho. Essa orientação pode proteger o atleta contra decepções, frustrações e falta de motivação quando os outros superarem seu desempenho. Explicando: uma orientação ao resultado é quando o atleta tem como foco a comparação do seu desempenho com o dos outros. Em contrapartida, uma orientação à tarefa tem como foco a comparação do desempenho com padrões e aperfeiçoamento pessoais.

A fim de aumentar a motivação no futebol, é necessário observar e responder não somente à personalidade do jogador, mas também à interação entre características pessoais e a situação. Visto que as motivações podem mudar com o tempo, devemos continuar acompanhando a motivação dos atletas constantemente.

A complexidade da motivação no futebol

A motivação no futebol, portanto, tem uma maior complexidade do que apenas “receber em dia”. Ao passo que lembramos que os atletas e outros atuantes do futebol são seres humanos, conseguimos perceber que nada é tão simples. A manutenção da motivação cria condições para um melhor desempenho e saúde mental no esporte. Como resultado, ela ajuda a manter os níveis de concentração, a reduzir o estresse da rotina de jogos, diminuir a ansiedade, dentre outros aspectos positivos.

Em conclusão, a motivação no futebol não se resume a vídeos ou bilhetes enviados aos jogadores na véspera dos jogos, nem às lições de vida bradadas por atletas nas preleções. Ela vai muito além disso. E, caso seja bem trabalhada, pode mudar o “patamar” de uma equipe.

Contato do Autor:
Matheus Padilha Abrantes Reis
@28padilha
matheuspadilhaar@gmail.com

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Confira abaixo um episódio do Podcast sobre o assunto:

Fontes e Referências:

Fundamentos da Psicologia do Esporte e do Exercício.

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João Bonfatti

João Bonfatti atualmente trabalha como Coordenador do setor de Análise de Desempenho no América-MG. Antes disso, teve passagens pelo Vasco da Gama, onde atuou em diferentes categorias: foi auxiliar técnico do Sub-20, treinador interino do Sub-17 e auxiliar técnico do Sub-17.

Atuou também pelo Atlético-MG, onde desempenhou o papel de auxiliar técnico do Sub-15. No Corinthians, auxiliar técnico do Sub-14, além de exercer a função de supervisor metodológico.

Sua formação inclui o Bacharelado em Futebol pela Universidade Federal de Viçosa e a Licença B da CBF Academy, o que reforça sua base teórica e prática no desenvolvimento de atletas.

Felipe Bonholi

Felipe Bonholi integra a equipe do Palmeiras como Analista de Desempenho no Centro de Formação de Atletas (CFA), contribuindo para o desenvolvimento e acompanhamento de jovens talentos.

Antes disso, acumulou cinco anos de experiência na Ferroviária, onde atuou como Analista de Desempenho da equipe profissional, e no São Carlos Futebol Clube na mesma função.

Sua formação acadêmica inclui Bacharelado em Administração de Empresas pela UNIARA (2014–2017) e graduação em andamento em Educação Física pela mesma instituição, iniciada em 2019.

Com sólida base teórica e ampla experiência prática, Felipe Bonholi se destaca por sua capacidade de integrar análise técnica, gestão e visão estratégica no contexto esportivo, contribuindo para o desempenho e evolução de atletas e equipes.

Mylena Baransk

Mylena Baransk é doutora em Educação Física pela Universidade Federal do Paraná e mestre em Ciências da Saúde pela Universidade Estadual de Ponta Grossa, onde também concluiu sua graduação em Educação Física – Bacharelado. Especialista em futsal com foco em análise de desempenho, atuou como docente em cursos do ensino superior e analista de desempenho no futebol.

Atualmente, exerce a função de analista de desempenho no Clube Atlético Mineiro, onde trabalha desde agosto de 2024. Antes disso, desempenhou a mesma função na Associação Ferroviária de Esportes entre março e agosto de 2024, atuando em Araraquara, São Paulo.

Além da atuação em clubes, possui experiência acadêmica como docente, tendo lecionado na UniCesumar entre julho e outubro de 2023, em Curitiba, Paraná. Também foi professora na UNIFATEB, onde atuou por quase três anos, de fevereiro de 2021 a outubro de 2023, em Telêmaco Borba, Paraná.

Com forte presença na área de análise de desempenho no futebol, também é CEO da Statisticsfut, onde se dedica ao desenvolvimento de conteúdos e estratégias voltadas à análise estatística e desempenho esportivo.

Nathália Arnosti

Nathália Arnosti é uma profissional de destaque na área de Fisiologia do Esporte e Preparação Física, com sólida formação acadêmica e ampla experiência no futebol brasileiro.

Bacharel e mestre em Educação Física pela Universidade Metodista de Piracicaba e doutora pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), ela construiu uma carreira marcada pela integração entre ciência e prática esportiva.

No cenário dos clubes, já contribuiu com equipes como Athletico Paranaense, Red Bull Bragantino, Palmeiras, Audax, Ferroviária e Ponte Preta. Em janeiro de 2024, assumiu o cargo de fisiologista do Cruzeiro, reforçando seu papel como referência no acompanhamento e otimização do desempenho esportivo.

Rodrigo Aquino

Rodrigo Aquino é professor na Universidade Federal do Espírito Santo, onde atua no Departamento de Desportos e como docente do Programa de Pós-Graduação em Educação Física (Mestrado e Doutorado).

É líder do Grupo de Estudos Pesquisa em Ciências no Futebol (GECIF/UFES) e coordenador do Programa Academia e Futebol (Núcleo UFES), financiado pelo Ministério do Esporte. Seu trabalho envolve a coordenação de projetos técnico-científicos em parceria com categorias de base e equipes profissionais de futebol no Brasil.

Rodrigo é graduado em Educação Física e Esporte pela USP, com especialização em Ciências do Desporto pela Universidade do Porto. Concluiu o mestrado e doutorado em Ciências também pela USP. Acumula experiência prática no futebol desde 2015 como fisiologista e preparador físico em clubes profissionais, além de atuar como treinador e coordenador técnico em categorias de base. Reconhecido academicamente, está entre os 10 cientistas do esporte mais produtivos da América Latina em publicações científicas relacionadas ao futebol.

Neto Pereira

Neto Pereira é um profissional de preparação física e performance esportiva com experiência em clubes do Brasil e do exterior. Atualmente é Preparador Físico no sub-20 do Vasco da Gama.

Trabalhou como Head Performance and Fitness Coach no FC Semey do Cazaquistão (2024). Foi Preparador Físico no Confiança (2023-2024) e Head of Performance and Health no Avaí (2022-2023). Também exerceu o cargo de Coordenador de Performance no Confiança (2022) e trabalhou como Fisiologista no CRB (2021-2022) e no próprio Confiança (2019-2021).

Possui Mestrado em Saúde e Educação Física pela Universidade Federal de Sergipe e Especialização em Desempenho Humano pela Universidade Tiradentes (Unit). Suas principais competências incluem preparação física, análise de desempenho, força, potência e velocidade no esporte.

Rafael Grazioli

Rafael Grazioli, natural de Canoas (RS), é formado em Educação Física pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), onde também concluiu mestrado e doutorado em Ciências do Movimento Humano.

Com nove anos de experiência atuando como coordenador científico e fisiologista no futebol profissional, ele passou as últimas três temporadas no Guarani de Campinas (SP) antes de ser anunciado pelo Criciúma em janeiro de 2025.