O efeito da idade relativa no futebol

Data:

Foto de Alliance Football Club na Unsplash

Compartilhe:

Muitos pontos interferem para um jovem conseguir ou não ser jogador de futebol. Questões técnicas, táticas, mentalidade, valências físicas, parte cognitiva, entre outros, são atributos que vão influenciar na carreira do jogador. E um aspecto que está muito interligado com tudo isso é a idade relativa no futebol. Mas, afinal, o que é idade relativa no futebol?

O que é a idade relativa?

Existem muitos fatores que contribuem para que o jogador possa chegar ao topo e viver como profissional de futebol. Um desses fatores é a idade relativa. A idade relativa no futebol aponta que, os jogadores nascidos no primeiro semestre do ano, têm mais condições e perspectivas de ter sucesso em comparação aos nascidos no segundo semestre. Em outras palavras, dois jogadores podem ter nascido no mesmo ano, mas são separados por 11 meses, por exemplo. Isto é, o jogador que nasceu primeiro pode desenvolver competências físicas, motoras e psicológicas antes do jogador que nasceu depois.

Como os times de base do futebol estão organizados por ano de nascimento, esses mesmos jogadores são colocados na mesma equipe, competindo diretamente entre si. Isso prejudica os nascidos no segundo semestre — que ainda não desenvolveram algumas capacidades, mas podem ter tanto ou mais talento do que os outros. Isso é a idade relativa no futebol.

Segundo o estudo do Portugal Football Observatory,  “o desenvolvimento desportivo dos jovens é complexo e altamente individual, afetado por fatores em constante mudança, tais como o crescimento físico, a maturação biológica e o desenvolvimento comportamental. Consequentemente, a idade desempenha um papel fundamental neste processo. Isso porque, os jovens atletas são agrupados em times onde os nascidos mais cedo podem apresentar vantagens na participação e no desempenho desportivo, em comparação aos jovens nascidos mais tarde. Esta vantagem, quando existente, é denominada efeito da idade relativa”.

A idade relativa pode ser dividida em:

Trimestres:

  • 1º Trimestre – Janeiro a Março;
  • 2º Trimestre – Abril a Junho;
  • 3º Trimestre – Julho a Setembro;
  • 4º Trimestre – Outubro a Dezembro

Ou semestres:

  • 1º Semestre – Janeiro a Junho;
  • 2º Semestre – Julho a Dezembro.

Luís Castro, ex treinador do FC Porto e Shakhtar Donetsk, também tem opinião sobre o assunto:

“Tem de haver muita atenção da parte de todos para percebermos exatamente o que cada jogador precisa quando está aquém dos outros nessa dimensão física. Muitas vezes isso não acontece na dimensão psicológica, técnica ou tática, mas esses 11 meses de diferença entre um jogador e outro podem ser decisivos para a opção do seu treinador e para opções futuras de continuidade no clube”.

A influência da idade relativa no recrutamento de jogadores

Também, no recrutamento de jogadores, a idade relativa apresenta uma significativa importância, sobretudo no que se trata dos escalões mais jovens. Isto porque os jogadores que nasceram nos primeiros 6 meses (1º semestre do ano), podem apresentar uma maior maturação não só em termos físicos, mas, também, a níveis psicológicos. Isso permite que estes se destaquem dos colegas de equipe e chamem a atenção dos scouts.

No entanto, não é regra que um jogador nascido no 1º semestre atinja a maturação primeiro do que aqueles nascidos no final do ano. Temos o exemplo do Antoine Griezmann, nascido em março e, apesar de mostrar qualidades técnicas desde cedo, a sua maturação física tardou. Isso fez com que muitos clubes franceses, onde ele foi realizar testes, recusassem-no. Mas, um scout da Real Sociedad, vendo que o jogador tinha essas qualidades e que podia se maturar fisicamente mais tarde, acabou por acreditar no potencial do francês.

Consequências da idade relativa no futebol

A idade relativa no futebol tem algumas consequências negativas sob os jovens jogadores nascidos no segundo semestre do ano. Isso pode criar neles uma percepção negativa sobre si próprios, em comparação aos que nasceram até junho. Ou seja, poderão ter em mente que estão um passo atrás dos jovens nascidos antes, o que as vezes acarreta numa desmotivação. Assim, esta falta de confiança e descrença nas capacidades pode levar ao abandono do esporte, visto que existe uma maior taxa de desistências em jogadores que nasceram após junho, devido ao efeito da idade relativa nos times sub-9, sub-11, sub-13 e sub-15.

Portanto, os jogadores nascidos no 1º semestre do ano poderão ter mais vantagens na prática desportiva, ao invés dos nascidos nos dois últimos trimestres do ano. Estas vantagens se revelam, sobretudo, no que diz respeito ao desenvolvimento das capacidades físicas e motoras, permitindo aos atletas nascidos até junho evidenciarem um desenvolvimento mais acentuado, em comparação aos atletas do mesmo ano de nascimento.

Confira abaixo um episódio do Podcast sobre o assunto:

Contato do Autor
E-mail: diogorunafutebol@gmail.com
WhatsApp: +351 961082732

Para receber conteúdos como esse em seu e-mail, participe da nossa Newsletter.

spot_img
spot_img

Posts Relacionados

Quais os critérios utilizados por treinadores da base no processo de seleção de jovens no Futebol?

Uma pesquisa recente investigou os fatores que influenciam a seleção de jovens jogadores de futebol. O estudo foi...

Os dados de GPS devem ser normalizados para monitoramento de desempenho e fadiga no futebol?

Um novo estudo publicado na revista German Journal of Exercise and Sport Research em junho de 2025 questiona a...

O que influencia a velocidade máxima nas partidas ao longo de uma temporada no Futebol?

Um estudo recente analisou a velocidade máxima atingida por jogadores de futebol durante as partidas, levando em consideração...

Tratamentos para dor crônica em jogadores de Futebol

Um estudo em formato de revisão integrativa analisou a eficácia de tratamentos farmacológicos e não farmacológicos na gestão...

João Bonfatti

João Bonfatti atualmente trabalha como Coordenador do setor de Análise de Desempenho no América-MG. Antes disso, teve passagens pelo Vasco da Gama, onde atuou em diferentes categorias: foi auxiliar técnico do Sub-20, treinador interino do Sub-17 e auxiliar técnico do Sub-17.

Atuou também pelo Atlético-MG, onde desempenhou o papel de auxiliar técnico do Sub-15. No Corinthians, auxiliar técnico do Sub-14, além de exercer a função de supervisor metodológico.

Sua formação inclui o Bacharelado em Futebol pela Universidade Federal de Viçosa e a Licença B da CBF Academy, o que reforça sua base teórica e prática no desenvolvimento de atletas.

Felipe Bonholi

Felipe Bonholi integra a equipe do Palmeiras como Analista de Desempenho no Centro de Formação de Atletas (CFA), contribuindo para o desenvolvimento e acompanhamento de jovens talentos.

Antes disso, acumulou cinco anos de experiência na Ferroviária, onde atuou como Analista de Desempenho da equipe profissional, e no São Carlos Futebol Clube na mesma função.

Sua formação acadêmica inclui Bacharelado em Administração de Empresas pela UNIARA (2014–2017) e graduação em andamento em Educação Física pela mesma instituição, iniciada em 2019.

Com sólida base teórica e ampla experiência prática, Felipe Bonholi se destaca por sua capacidade de integrar análise técnica, gestão e visão estratégica no contexto esportivo, contribuindo para o desempenho e evolução de atletas e equipes.

Mylena Baransk

Mylena Baransk é doutora em Educação Física pela Universidade Federal do Paraná e mestre em Ciências da Saúde pela Universidade Estadual de Ponta Grossa, onde também concluiu sua graduação em Educação Física – Bacharelado. Especialista em futsal com foco em análise de desempenho, atuou como docente em cursos do ensino superior e analista de desempenho no futebol.

Atualmente, exerce a função de analista de desempenho no Clube Atlético Mineiro, onde trabalha desde agosto de 2024. Antes disso, desempenhou a mesma função na Associação Ferroviária de Esportes entre março e agosto de 2024, atuando em Araraquara, São Paulo.

Além da atuação em clubes, possui experiência acadêmica como docente, tendo lecionado na UniCesumar entre julho e outubro de 2023, em Curitiba, Paraná. Também foi professora na UNIFATEB, onde atuou por quase três anos, de fevereiro de 2021 a outubro de 2023, em Telêmaco Borba, Paraná.

Com forte presença na área de análise de desempenho no futebol, também é CEO da Statisticsfut, onde se dedica ao desenvolvimento de conteúdos e estratégias voltadas à análise estatística e desempenho esportivo.

Nathália Arnosti

Nathália Arnosti é uma profissional de destaque na área de Fisiologia do Esporte e Preparação Física, com sólida formação acadêmica e ampla experiência no futebol brasileiro.

Bacharel e mestre em Educação Física pela Universidade Metodista de Piracicaba e doutora pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), ela construiu uma carreira marcada pela integração entre ciência e prática esportiva.

No cenário dos clubes, já contribuiu com equipes como Athletico Paranaense, Red Bull Bragantino, Palmeiras, Audax, Ferroviária e Ponte Preta. Em janeiro de 2024, assumiu o cargo de fisiologista do Cruzeiro, reforçando seu papel como referência no acompanhamento e otimização do desempenho esportivo.

Rodrigo Aquino

Rodrigo Aquino é professor na Universidade Federal do Espírito Santo, onde atua no Departamento de Desportos e como docente do Programa de Pós-Graduação em Educação Física (Mestrado e Doutorado).

É líder do Grupo de Estudos Pesquisa em Ciências no Futebol (GECIF/UFES) e coordenador do Programa Academia e Futebol (Núcleo UFES), financiado pelo Ministério do Esporte. Seu trabalho envolve a coordenação de projetos técnico-científicos em parceria com categorias de base e equipes profissionais de futebol no Brasil.

Rodrigo é graduado em Educação Física e Esporte pela USP, com especialização em Ciências do Desporto pela Universidade do Porto. Concluiu o mestrado e doutorado em Ciências também pela USP. Acumula experiência prática no futebol desde 2015 como fisiologista e preparador físico em clubes profissionais, além de atuar como treinador e coordenador técnico em categorias de base. Reconhecido academicamente, está entre os 10 cientistas do esporte mais produtivos da América Latina em publicações científicas relacionadas ao futebol.

Neto Pereira

Neto Pereira é um profissional de preparação física e performance esportiva com experiência em clubes do Brasil e do exterior. Atualmente é Preparador Físico no sub-20 do Vasco da Gama.

Trabalhou como Head Performance and Fitness Coach no FC Semey do Cazaquistão (2024). Foi Preparador Físico no Confiança (2023-2024) e Head of Performance and Health no Avaí (2022-2023). Também exerceu o cargo de Coordenador de Performance no Confiança (2022) e trabalhou como Fisiologista no CRB (2021-2022) e no próprio Confiança (2019-2021).

Possui Mestrado em Saúde e Educação Física pela Universidade Federal de Sergipe e Especialização em Desempenho Humano pela Universidade Tiradentes (Unit). Suas principais competências incluem preparação física, análise de desempenho, força, potência e velocidade no esporte.

Rafael Grazioli

Rafael Grazioli, natural de Canoas (RS), é formado em Educação Física pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), onde também concluiu mestrado e doutorado em Ciências do Movimento Humano.

Com nove anos de experiência atuando como coordenador científico e fisiologista no futebol profissional, ele passou as últimas três temporadas no Guarani de Campinas (SP) antes de ser anunciado pelo Criciúma em janeiro de 2025.