Como é a tomada de decisão dos goleiros?

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Foto de Lars Bo Nielsen na Unsplash

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No futebol, o atacante sempre foi o protagonista das maiores jogadas, ou de grandes conquistas de clubes famosos. No entanto há uma posição específica dentro de campo ou quadra que enfrenta a missão de calar uma torcida ansiosa pelo gol, esta posição é o goleiro. O goleiro é um dos atores principais do espetáculo futebolístico, se não o principal. Mas como é a tomada de decisão dos goleiros?

A princípio, a função do goleiro é considerada de alta complexidade, pois além da importância defensiva, o goleiro auxilia com passes e lançamentos durante a fase ofensiva. Bem como, o atleta possui uma visão privilegiada do espaço do jogo, o que permite orientar seus colegas de equipe, assim como a sua importância da tomada de decisão.

Para entendermos melhor, muitos autores afirmam que a tomada de decisão é um fator essencial para qualquer atleta, desde a várzea até o alto rendimento. Assim sendo, este fator está associado diretamente aos processos que determinam a qualidade das ações individuais, coletivas e consequentemente o jogo. Portanto, a tomada de decisão, é um exercício cognitivo que seleciona uma única opção, dentre várias alternativas. Para melhor esclarecer, este processo de decidir uma ação é sintetizado em um ciclo permanente.

Mas como se dá este ciclo para o goleiro?

Em primeiro lugar, o goleiro receberá uma série de informações num rápido instante de jogo (aproximação de adversário, sistema defensivo da equipe, bola, posicionamento em frente a sua meta, entre outros). Seguidamente, ele precisará saber como reagir a estas informações captadas no ambiente de jogo. Este captar de informações depende da diversidade de estímulos e experiências que o goleiro possui, quanto maiores forem, ficará mais fácil classificar, julgar e interpretar a ação do jogo.  E por último, o atleta precisará de uma velocidade de processamento cognitivo, ou seja, decidir o que fazer rapidamente. Portanto o ciclo permanente se divide em: Observar, orientar, decidir e agir.

Observar

O observar, é uma fase da tomada de decisão específica de leitura do jogo. Momento em que o goleiro interpreta a movimentação do portador da bola, movimentações dos adversários e de seus colegas. O olhar, depende exclusivamente de altos índices de concentração e atenção, além de monitorar maior espaço em período de tempo mais curto. O objetivo nesta fase é recolher o maior número de informações possíveis, para ser processada de forma sustentada.

Orientar

A partir do autoconhecimento em utilizar as suas potencialidades, o goleiro precisará orientar sua equipe, partindo da situação de jogo resultante da dinâmica das diversas fases de construção, criação e finalização.

Decidir

Decidir, é escolher uma opção dentre várias no contexto de jogo. É a mais difícil e decisiva ação, e esta deverá ser eficaz, eficiente e oportuna. A oportunidade está relacionada com o tempo que o decisor leva para tomar.

Agir

Todas essas fases citadas são anteriormente realizadas de forma cognitiva, ou seja, invisível. Apenas a fase do agir é que todo o processo se dará em uma ação visível, posteriormente, é a prática da decisão. Em suma, a qualidade da ação dependerá da aplicação dos recursos cognitivos, físicos, técnicos, táticos e psicológicos.

O que pode interferir na tomada de decisão do goleiro?

São três fatores que podem prejudicar a tomada de decisão, reduzindo a geração de raciocínio e criatividade. São eles:

  • Déficit de conhecimento – que resulta do treinamento com poucos recursos de imprevisibilidade, na qual o goleiro durante a partida não sabe de que modo agir, pelas poucas informações armazenadas;
  • Déficit cognitivo – na qual o goleiro apresenta dificuldades para interpretar a realidade observada;
  • Déficit de memória – isto é, o goleiro apresenta dificuldades para armazenar informações.

Na mesma linha, o goleiro sente-se inseguro na transição entre os diversos momentos e fases do jogo, atua com a incerteza dentro do contexto da partida, e não concentra o suficiente na dinâmica rápida em curto espaço de tempo. Então, o que abordar para desenvolver uma capacidade eficiente de decisão do goleiro?

O treinamento da tomada de decisão do goleiro

Desse modo, a metodologia deve seguir as seguintes dimensões de treino: a parte cognitiva; a psicológica (automotivação, concentração, atenção); Técnica-tática e física. Essa metodologia deve ter como embasamento as necessidades da tomada de decisão, que são elas: Conhecimento; inteligência; automatização; autonomia e liberdade. Portanto os treinos devem ter ações contextualizadas com as situações do jogo, permitindo que o atleta experimente as diversas variáveis e imprevisibilidade de ações que venham ocorrer na partida.

O treino deve se aproximar o máximo das características do jogo propriamente dito, possibilitando uma reflexão crítica das ações coletivas, individuais e setoriais. Logo a repetição dos fundamentos da parte técnica, levará a uma automatização dos movimentos, complementando maiores referências de pensamentos no goleiro. Este domínio acarreta liberdade a autonomia, para que o goleiro tome suas decisões no tempo e no espaço certo, gerando confiança para o treinador e equipe.

Em conclusão, a tomada de decisão do goleiro corresponde às diversas exigências do contexto do jogo. E as possibilidades do agir, rementem-se as capacidades cognitivas, técnico-tático e psicológicas treinadas e desenvolvidas com eficiência.

Fontes e Referências:

Instagram da autora: @torettidefaveri

Confira abaixo um episódio do Podcast sobre o assunto:

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João Bonfatti

João Bonfatti atualmente trabalha como Coordenador do setor de Análise de Desempenho no América-MG. Antes disso, teve passagens pelo Vasco da Gama, onde atuou em diferentes categorias: foi auxiliar técnico do Sub-20, treinador interino do Sub-17 e auxiliar técnico do Sub-17.

Atuou também pelo Atlético-MG, onde desempenhou o papel de auxiliar técnico do Sub-15. No Corinthians, auxiliar técnico do Sub-14, além de exercer a função de supervisor metodológico.

Sua formação inclui o Bacharelado em Futebol pela Universidade Federal de Viçosa e a Licença B da CBF Academy, o que reforça sua base teórica e prática no desenvolvimento de atletas.

Felipe Bonholi

Felipe Bonholi integra a equipe do Palmeiras como Analista de Desempenho no Centro de Formação de Atletas (CFA), contribuindo para o desenvolvimento e acompanhamento de jovens talentos.

Antes disso, acumulou cinco anos de experiência na Ferroviária, onde atuou como Analista de Desempenho da equipe profissional, e no São Carlos Futebol Clube na mesma função.

Sua formação acadêmica inclui Bacharelado em Administração de Empresas pela UNIARA (2014–2017) e graduação em andamento em Educação Física pela mesma instituição, iniciada em 2019.

Com sólida base teórica e ampla experiência prática, Felipe Bonholi se destaca por sua capacidade de integrar análise técnica, gestão e visão estratégica no contexto esportivo, contribuindo para o desempenho e evolução de atletas e equipes.

Mylena Baransk

Mylena Baransk é doutora em Educação Física pela Universidade Federal do Paraná e mestre em Ciências da Saúde pela Universidade Estadual de Ponta Grossa, onde também concluiu sua graduação em Educação Física – Bacharelado. Especialista em futsal com foco em análise de desempenho, atuou como docente em cursos do ensino superior e analista de desempenho no futebol.

Atualmente, exerce a função de analista de desempenho no Clube Atlético Mineiro, onde trabalha desde agosto de 2024. Antes disso, desempenhou a mesma função na Associação Ferroviária de Esportes entre março e agosto de 2024, atuando em Araraquara, São Paulo.

Além da atuação em clubes, possui experiência acadêmica como docente, tendo lecionado na UniCesumar entre julho e outubro de 2023, em Curitiba, Paraná. Também foi professora na UNIFATEB, onde atuou por quase três anos, de fevereiro de 2021 a outubro de 2023, em Telêmaco Borba, Paraná.

Com forte presença na área de análise de desempenho no futebol, também é CEO da Statisticsfut, onde se dedica ao desenvolvimento de conteúdos e estratégias voltadas à análise estatística e desempenho esportivo.

Nathália Arnosti

Nathália Arnosti é uma profissional de destaque na área de Fisiologia do Esporte e Preparação Física, com sólida formação acadêmica e ampla experiência no futebol brasileiro.

Bacharel e mestre em Educação Física pela Universidade Metodista de Piracicaba e doutora pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), ela construiu uma carreira marcada pela integração entre ciência e prática esportiva.

No cenário dos clubes, já contribuiu com equipes como Athletico Paranaense, Red Bull Bragantino, Palmeiras, Audax, Ferroviária e Ponte Preta. Em janeiro de 2024, assumiu o cargo de fisiologista do Cruzeiro, reforçando seu papel como referência no acompanhamento e otimização do desempenho esportivo.

Rodrigo Aquino

Rodrigo Aquino é professor na Universidade Federal do Espírito Santo, onde atua no Departamento de Desportos e como docente do Programa de Pós-Graduação em Educação Física (Mestrado e Doutorado).

É líder do Grupo de Estudos Pesquisa em Ciências no Futebol (GECIF/UFES) e coordenador do Programa Academia e Futebol (Núcleo UFES), financiado pelo Ministério do Esporte. Seu trabalho envolve a coordenação de projetos técnico-científicos em parceria com categorias de base e equipes profissionais de futebol no Brasil.

Rodrigo é graduado em Educação Física e Esporte pela USP, com especialização em Ciências do Desporto pela Universidade do Porto. Concluiu o mestrado e doutorado em Ciências também pela USP. Acumula experiência prática no futebol desde 2015 como fisiologista e preparador físico em clubes profissionais, além de atuar como treinador e coordenador técnico em categorias de base. Reconhecido academicamente, está entre os 10 cientistas do esporte mais produtivos da América Latina em publicações científicas relacionadas ao futebol.

Neto Pereira

Neto Pereira é um profissional de preparação física e performance esportiva com experiência em clubes do Brasil e do exterior. Atualmente é Preparador Físico no sub-20 do Vasco da Gama.

Trabalhou como Head Performance and Fitness Coach no FC Semey do Cazaquistão (2024). Foi Preparador Físico no Confiança (2023-2024) e Head of Performance and Health no Avaí (2022-2023). Também exerceu o cargo de Coordenador de Performance no Confiança (2022) e trabalhou como Fisiologista no CRB (2021-2022) e no próprio Confiança (2019-2021).

Possui Mestrado em Saúde e Educação Física pela Universidade Federal de Sergipe e Especialização em Desempenho Humano pela Universidade Tiradentes (Unit). Suas principais competências incluem preparação física, análise de desempenho, força, potência e velocidade no esporte.

Rafael Grazioli

Rafael Grazioli, natural de Canoas (RS), é formado em Educação Física pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), onde também concluiu mestrado e doutorado em Ciências do Movimento Humano.

Com nove anos de experiência atuando como coordenador científico e fisiologista no futebol profissional, ele passou as últimas três temporadas no Guarani de Campinas (SP) antes de ser anunciado pelo Criciúma em janeiro de 2025.