Impacto da dieta vegana na alimentação de atletas de futebol

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A nutrição tem um papel crucial no desempenho dos atletas no futebol de elite. No entanto, a dieta de cada atleta pode ser influenciada por uma variedade de restrições, que podem ser culturais, religiosas, sociais, baseadas em gostos, crenças pré-existentes ou contextos que não estão diretamente relacionadas ao esporte. Dentro deste âmbito, o veganismo surge como uma das formas de restrição alimentar, ganhando popularidade crescente, especialmente no Ocidente.

O que é uma dieta vegana?

Adotar uma dieta vegana envolve a eliminação de todos os produtos de origem animal, incluindo carnes, aves, laticínios, frutos do mar, ovos, mel, gelatina e etc. Esse tipo de alimentação, também conhecida como “baseada em vegetais”, é escolhida frequentemente por motivos de saúde, ética (bem-estar animal), preocupações ambientais, fatores sociais ou até mesmo repulsa sensorial a certos alimentos.

O veganismo no esporte

Embora a prevalência do veganismo no esporte ainda não tenha sido precisamente medida, acredita-se que esteja acompanhando a tendência de crescimento observada na população em geral.

No futebol, atletas como Marta, Sergio Agüero, Chris Smalling, Héctor Bellerín e Fabian Delph são exemplos de jogadores que adotaram uma dieta vegana, demonstrando que é possível manter um alto nível de desempenho sem o consumo de produtos de origem animal. Esse movimento transcende o âmbito individual e alcança o coletivo, como no caso do Clube Laguna, do Rio Grande do Norte que incorporou a alimentação vegana como parte de sua filosofia.

De acordo com o sócio e ex-jogador do clube Gustavo Nabinger: “Nosso foco é o futebol, mas o veganismo é um valor inegociável para a empresa”.

Benefícios da dieta vegana para atletas de Futebol

A dieta vegana oferece benefícios importantes, como a inclusão predominante de alimentos de baixa densidade energética, como frutas e verduras, que ajudam no controle de peso e na manutenção de um percentual de gordura saudável. Esses fatores são cruciais para atletas de futebol, que precisam manter uma composição corporal ideal para otimizar sua performance em campo.

Um dos principais pontos de atenção para atletas veganos é o risco de deficiências nutricionais. Nutrientes como proteínas de alta qualidade, ferro, cálcio, vitamina B12 e vitamina D são menos abundantes ou têm biodisponibilidade reduzida em uma dieta vegana e curiosamente, esse perfil alimentar pode oferecer alguns benefícios ergogênicos, como a maior ingestão de nitratos e polifenóis, compostos que podem melhorar o desempenho.

Desafios do veganismo em atletas de Futebol

Um dos desafios enfrentados pelos atletas veganos é a ingestão calórica. Como a dieta é rica em alimentos com baixa densidade energética, pode ser difícil atingir as necessidades calóricas exigidas pelo esporte de alto rendimento, como o futebol.

Isso é bastante relevante para atletas que precisam de uma alta ingestão calórica para manter sua massa muscular e níveis de energia ao longo de treinos e competições. Como exemplos, Hector Belerín, lateral direito espanhol, afirmou que: “Depois de um mês como vegano, me senti mais forte — e não lutei mais com lesões no tornozelo. Comecei a me sentir mais enérgico em campo — e comecei a notar uma diferença real”.

O que diz a Ciência?

Apesar desses desafios, a literatura científica sugere que a diferença na absorção de energia entre veganos e onívoros é pequena. Quando analisada a média dos estudos, a ingestão calórica dos veganos é apenas 5% inferior à de seus pares onívoros.

Essa diferença pode ser considerada insignificante, especialmente quando se considera que os indivíduos veganos tendem a ter uma massa corporal mais baixa. Essa massa corporal reduzida pode, na verdade, representar uma vantagem em termos de velocidade e agilidade, características fundamentais no futebol.

Planejamento para uma dieta vegana no Futebol

Embora existam desafios, como a necessidade de planejamento cuidadoso para garantir a ingestão calórica e de nutrientes adequados, os benefícios potenciais, incluindo o controle de peso e a promoção de uma composição corporal saudável, são evidentes. Com um planejamento dietético adequado e orientação nutricional profissional, é possível que jogadores de futebol veganos não apenas mantenham, mas melhorem seu desempenho em campo.

Assim, o veganismo, longe de ser uma barreira, pode se tornar uma ferramenta poderosa na busca pelo desempenho esportivo de elite, oferecendo uma abordagem nutricional que alia saúde, ética e preocupação com o meio ambiente.

Autor: Geraildo Júnior – Nutricionista esportivo

Contato do Autor: https://www.instagram.com/gera.onutri/

Mais referências:

P. Clarys, T. Deliens, I. Huybrechts, P. Deriemaeker, B. Vanaelst, W. De Keyzer, et al. (2014). Comparison of nutritional quality of the vegan, vegetarian, semi-vegetarian, pesco-vegetarian and omnivorous diet. Nutrients. 6(3), 1318–1332.

V. Melina, W. Craig, S. Levin. (2016). Position of the academy of nutrition and dietetics: vegetarian diets. Journal of the Academy of Nutrition and Dietetics. 116(12), 1970–1980.

West, S., Monteyne, A. J., van der Heijden, I., Stephens, F. B., Wall, B. T. (2023). Nutritional Considerations for the Vegan Athlete. Advances in Nutrition. 14(4), 774-795.

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Rodrigo Aquino

Rodrigo Aquino é professor na Universidade Federal do Espírito Santo, onde atua no Departamento de Desportos e como docente do Programa de Pós-Graduação em Educação Física (Mestrado e Doutorado).

É líder do Grupo de Estudos Pesquisa em Ciências no Futebol (GECIF/UFES) e coordenador do Programa Academia e Futebol (Núcleo UFES), financiado pelo Ministério do Esporte. Seu trabalho envolve a coordenação de projetos técnico-científicos em parceria com categorias de base e equipes profissionais de futebol no Brasil.

Rodrigo é graduado em Educação Física e Esporte pela USP, com especialização em Ciências do Desporto pela Universidade do Porto. Concluiu o mestrado e doutorado em Ciências também pela USP. Acumula experiência prática no futebol desde 2015 como fisiologista e preparador físico em clubes profissionais, além de atuar como treinador e coordenador técnico em categorias de base. Reconhecido academicamente, está entre os 10 cientistas do esporte mais produtivos da América Latina em publicações científicas relacionadas ao futebol.

Neto Pereira

Neto Pereira é um profissional de preparação física e performance esportiva com experiência em clubes do Brasil e do exterior. Atualmente é Preparador Físico no sub-20 do Vasco da Gama.

Trabalhou como Head Performance and Fitness Coach no FC Semey do Cazaquistão (2024). Foi Preparador Físico no Confiança (2023-2024) e Head of Performance and Health no Avaí (2022-2023). Também exerceu o cargo de Coordenador de Performance no Confiança (2022) e trabalhou como Fisiologista no CRB (2021-2022) e no próprio Confiança (2019-2021).

Possui Mestrado em Saúde e Educação Física pela Universidade Federal de Sergipe e Especialização em Desempenho Humano pela Universidade Tiradentes (Unit). Suas principais competências incluem preparação física, análise de desempenho, força, potência e velocidade no esporte.

Rafael Grazioli

Rafael Grazioli, natural de Canoas (RS), é formado em Educação Física pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), onde também concluiu mestrado e doutorado em Ciências do Movimento Humano.

Com nove anos de experiência atuando como coordenador científico e fisiologista no futebol profissional, ele passou as últimas três temporadas no Guarani de Campinas (SP) antes de ser anunciado pelo Criciúma em janeiro de 2025.