Avaliações Físicas no Futebol

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Foto de Nigel Msipa na Unsplash

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Sempre que iniciamos uma temporada em uma equipe de futebol (seja ela de base ou profissional), um dos primeiros passos a serem planejados pelos preparadores físicos, e que pautará o restante do trabalho dos mesmos, são as Avalições Físicas no Futebol. Mas, quando pensamos em Avaliações Físicas, é necessário que se entenda algumas questões como: Por que avaliar? Quando avaliar? O que avaliar? Como avaliar?

Assim, neste texto, tentaremos elucidar essas e outras questões para que você leitor, ao iniciar uma pré-temporada em um clube de futebol, saiba como desenhar um programa de Avalições Físicas para a sua equipe. Então vamos ao texto!

Por que realizar Avaliações Físicas no Futebol?

As Avaliações Físicas no Futebol são importantes para identificar o padrão físico onde a equipe se encontra. Além disso, nos permitem perceber as características individuais dos jogadores (quem é mais rápido, mais forte, mais resistente, etc.) e verificar possíveis indicadores físicos de lesão, como, por exemplo, assimetrias musculares.

Com os dados encontrados, poderemos prescrever treinamentos em busca de uma melhora do padrão físico geral da equipe, mas também será possível (e talvez o mais importante) segmentar os treinamentos de acordo com a necessidade de cada posição e de acordo com a necessidade individual dos atletas.

Nesse contexto, os preparadores físicos poderão ser mais assertivos no planejamento e aplicação dos treinamentos, a fim de que se alcance um estado de forma “ótimo”, seja coletivo ou individual, além de permitir potencializar as principais características físicas dos seus atletas.

Quando devem ser realizadas as Avaliações Físicas no Futebol?

Como citamos no texto, o início da pré-temporada é, tradicionalmente, marcado pela realização das Avaliações Físicas no Futebol. Onde os dados obtidos mostrarão o estado de forma da equipe, norteando assim o caminho a seguir do ponto de vista físico. Mas, uma vez que os dados sejam interpretados e a pré-temporada seja desenhada, quando devemos voltar a aplicar as Avaliações Físicas para continuar norteando o trabalho físico?

Para responder a essa questão, é necessário que cada preparador físico entenda o contexto em que se encontra. Isso porque quando falamos de categorias de base, a resposta provavelmente será uma e quando falamos de futebol profissional a resposta, provavelmente, será outra.

Nas categorias de base, onde o calendário de jogos é menos denso, talvez seja possível estabelecer datas para a realização de novas Avaliações Físicas, a fim de ter um acompanhamento da evolução física coletiva e individual da equipe. Por outro lado, no futebol profissional, esses períodos para reavaliação do grupo de atletas são mais difíceis de serem cumpridos. Além do calendário de jogos muito denso (pensando em um clube de Série A), existem outros fatores que pautam a realização ou não desses períodos de reavaliação física, que são, por exemplo, os resultados de campo.

Assim, não existe um período exato para a reavaliação física dos atletas, porém os períodos geralmente oscilam entre 8 e 12 semanas para testes físicos de campo e 30 dias para avaliações antropométricas.

O que se avalia no futebol?

Essa talvez seja a pergunta mais importante que deverá ser respondida antes de realizar as Avaliações Físicas no Futebol. Pois se criarmos um programa de avaliações sem entender o que iremos avaliar, apenas com o intuito de coletar dados, não fará o menor sentido realizá-las, porque simplesmente estaremos perdendo um precioso tempo de treinamento.

Cada teste selecionado para as avaliações físicas, deverá ter um porquê e um para quê. O dado obtido deverá ter um significado para o preparador físico e ser interpretado com o propósito de estabelecer um critério de referência na hora de prescrever os treinamentos.

Outro ponto muito importante na hora de decidir o que será avaliado, é que o preparador físico entenda o contexto onde o seu clube está inserido e as condições estruturais e humanas disponíveis nesse contexto. Ou seja, não deveremos aplicar testes para os quais não dispomos do material necessário para realizá-los, pois ferramentas improvisadas irão gerar dados de pouca fiabilidade. E, se não haver profissionais qualificados para interpretar os dados obtidos, esses resultados terão pouca ou nenhuma relevância dentro desse contexto.

Assim, antes de iniciar a aplicação de um programa de Avaliações Físicas no Futebol é necessário responder algumas questões como: quais as ferramentas que o clube oferece? Qual a formação e capacitação dos profissionais para interpretarem os dados obtidos? E o que farei com os resultados? Se conseguirmos esquematizar um programa respondendo a essas três perguntas, com certeza a possibilidade de estabelecer critérios para desenhar sessões de treinamentos mais ajustadas às necessidades da equipe e de cada atleta, será muito maior.

Quais testes físicos selecionar nas avaliações?

Conforme dito anteriormente, a seleção dos testes dependerá de alguns fatores. Com isso, a seguir destacaremos os principais testes utilizados em programas de Avaliações Físicas no Futebol, sem entrar no mérito se são úteis ou não, pois isso será estabelecido por cada preparador físico de acordo com as suas necessidades e a realidade do seu clube.

Testes Físicos no Futebol

1) Yo-Yo Test – Consiste em correr 40 metros (20 metros ida e 20 metros volta) em velocidades crescentes intercalando com pequenas pausas. Teste para avaliar a potência aeróbica.

2) Tapete de contato – chamado de ergo-jump, está constituído por um tapete com sensores de pressão conectados a um processador, que possui um programa informático que permite calcular a altura do salto, sendo que os saltos mais comumente avaliados são o Squat Jump e o Counter Movement Jump. Testes para avaliar a força explosiva e/ou potência.

3) Teste de velocidade 10, 20, 30 e 40 metros – Pode ser realizada com ou sem mudança de direção, sendo comumente utilizada em linha reta. Marca o tempo que o jogador leva para completar a prova e, assim, determinar quem é o mais veloz.

4) Teste de Agilidade – Existem vários testes, onde um dos mais comuns é o teste de Illinois, usado para determinar a capacidade de acelerar, desacelerar e mudar de direção em diferentes ângulos.

5) Rast test – Consiste em realizar 6 corridas máximas de 35 metros separados por intervalos de 10 segundos, sendo uma boa ferramenta para avaliar a potência anaeróbica.

6) Avaliação Antropométrica – Medição simples, barata e não invasiva que auxilia na avaliação do estado nutricional do jogador, sendo a técnica mais utilizada a de dobras cutâneas que serve para medir a gordura subcutânea.

7) Teste Isocinético – Máquina onde o indivíduo realiza um esforço muscular máximo ou submáximo que se acomoda à resistência do aparelho. A principal característica é a de possuir velocidade angular constante, permitindo realizar movimento na sua amplitude articular, servindo para identificar desequilíbrios musculares, mas devido ao seu alto custo, para muitos clubes, não é viável.

8) Teste FMS – Bateria de testes baseada na competência durante o movimento ativo, fornecendo uma medida clinicamente interpretável da “qualidade do movimento”. Serve para encontrar limitações e/ou assimetrias musculares, sendo uma opção mais em conta para clubes com recursos limitados.

9) 30-15 IFT – É um teste intermitente, onde os atletas correm 30 segundos e recuperam durante 15 segundos. Projetado para obter frequência cardíaca e VO2 máximos, mas também fornece medidas de reserva de velocidade anaeróbica, capacidade de recuperação entre esforços, aceleração, desaceleração e habilidades de mudança de direção.

Link de testes na seleção brasileira.

O que aprendemos sobre as Avaliações Físicas?

Em resumo, o que podemos perceber sobre as Avaliações Físicas no Futebol é que não existe certo ou errado em relação aos testes físicos que deverão ser escolhidos. É necessário ter clareza sobre o que se quer avaliar, quais os testes que se adaptam ao contexto estrutural e humano onde estou inserido, e como serão interpretados e aplicados os dados coletados.

Por fim, vale destacar que todos os testes escolhidos deverão ser aplicados, de preferência, sempre no mesmo local e sob as mesmas condições, ou seja, obedecendo sempre a um mesmo padrão. Isso fará com que os resultados sejam mais fidedignos e com maior fiabilidade, para que assim possam ser realizadas comparações entre os diferentes períodos das avaliações físicas.

Ouça um episódio de nosso podcast sobre o assunto:

Contato do autor:
Instagram @pf_ricardosa
E-mail: ricardosa2506@gmail.com

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João Bonfatti

João Bonfatti atualmente trabalha como Coordenador do setor de Análise de Desempenho no América-MG. Antes disso, teve passagens pelo Vasco da Gama, onde atuou em diferentes categorias: foi auxiliar técnico do Sub-20, treinador interino do Sub-17 e auxiliar técnico do Sub-17.

Atuou também pelo Atlético-MG, onde desempenhou o papel de auxiliar técnico do Sub-15. No Corinthians, auxiliar técnico do Sub-14, além de exercer a função de supervisor metodológico.

Sua formação inclui o Bacharelado em Futebol pela Universidade Federal de Viçosa e a Licença B da CBF Academy, o que reforça sua base teórica e prática no desenvolvimento de atletas.

Felipe Bonholi

Felipe Bonholi integra a equipe do Palmeiras como Analista de Desempenho no Centro de Formação de Atletas (CFA), contribuindo para o desenvolvimento e acompanhamento de jovens talentos.

Antes disso, acumulou cinco anos de experiência na Ferroviária, onde atuou como Analista de Desempenho da equipe profissional, e no São Carlos Futebol Clube na mesma função.

Sua formação acadêmica inclui Bacharelado em Administração de Empresas pela UNIARA (2014–2017) e graduação em andamento em Educação Física pela mesma instituição, iniciada em 2019.

Com sólida base teórica e ampla experiência prática, Felipe Bonholi se destaca por sua capacidade de integrar análise técnica, gestão e visão estratégica no contexto esportivo, contribuindo para o desempenho e evolução de atletas e equipes.

Mylena Baransk

Mylena Baransk é doutora em Educação Física pela Universidade Federal do Paraná e mestre em Ciências da Saúde pela Universidade Estadual de Ponta Grossa, onde também concluiu sua graduação em Educação Física – Bacharelado. Especialista em futsal com foco em análise de desempenho, atuou como docente em cursos do ensino superior e analista de desempenho no futebol.

Atualmente, exerce a função de analista de desempenho no Clube Atlético Mineiro, onde trabalha desde agosto de 2024. Antes disso, desempenhou a mesma função na Associação Ferroviária de Esportes entre março e agosto de 2024, atuando em Araraquara, São Paulo.

Além da atuação em clubes, possui experiência acadêmica como docente, tendo lecionado na UniCesumar entre julho e outubro de 2023, em Curitiba, Paraná. Também foi professora na UNIFATEB, onde atuou por quase três anos, de fevereiro de 2021 a outubro de 2023, em Telêmaco Borba, Paraná.

Com forte presença na área de análise de desempenho no futebol, também é CEO da Statisticsfut, onde se dedica ao desenvolvimento de conteúdos e estratégias voltadas à análise estatística e desempenho esportivo.

Nathália Arnosti

Nathália Arnosti é uma profissional de destaque na área de Fisiologia do Esporte e Preparação Física, com sólida formação acadêmica e ampla experiência no futebol brasileiro.

Bacharel e mestre em Educação Física pela Universidade Metodista de Piracicaba e doutora pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), ela construiu uma carreira marcada pela integração entre ciência e prática esportiva.

No cenário dos clubes, já contribuiu com equipes como Athletico Paranaense, Red Bull Bragantino, Palmeiras, Audax, Ferroviária e Ponte Preta. Em janeiro de 2024, assumiu o cargo de fisiologista do Cruzeiro, reforçando seu papel como referência no acompanhamento e otimização do desempenho esportivo.

Rodrigo Aquino

Rodrigo Aquino é professor na Universidade Federal do Espírito Santo, onde atua no Departamento de Desportos e como docente do Programa de Pós-Graduação em Educação Física (Mestrado e Doutorado).

É líder do Grupo de Estudos Pesquisa em Ciências no Futebol (GECIF/UFES) e coordenador do Programa Academia e Futebol (Núcleo UFES), financiado pelo Ministério do Esporte. Seu trabalho envolve a coordenação de projetos técnico-científicos em parceria com categorias de base e equipes profissionais de futebol no Brasil.

Rodrigo é graduado em Educação Física e Esporte pela USP, com especialização em Ciências do Desporto pela Universidade do Porto. Concluiu o mestrado e doutorado em Ciências também pela USP. Acumula experiência prática no futebol desde 2015 como fisiologista e preparador físico em clubes profissionais, além de atuar como treinador e coordenador técnico em categorias de base. Reconhecido academicamente, está entre os 10 cientistas do esporte mais produtivos da América Latina em publicações científicas relacionadas ao futebol.

Neto Pereira

Neto Pereira é um profissional de preparação física e performance esportiva com experiência em clubes do Brasil e do exterior. Atualmente é Preparador Físico no sub-20 do Vasco da Gama.

Trabalhou como Head Performance and Fitness Coach no FC Semey do Cazaquistão (2024). Foi Preparador Físico no Confiança (2023-2024) e Head of Performance and Health no Avaí (2022-2023). Também exerceu o cargo de Coordenador de Performance no Confiança (2022) e trabalhou como Fisiologista no CRB (2021-2022) e no próprio Confiança (2019-2021).

Possui Mestrado em Saúde e Educação Física pela Universidade Federal de Sergipe e Especialização em Desempenho Humano pela Universidade Tiradentes (Unit). Suas principais competências incluem preparação física, análise de desempenho, força, potência e velocidade no esporte.

Rafael Grazioli

Rafael Grazioli, natural de Canoas (RS), é formado em Educação Física pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), onde também concluiu mestrado e doutorado em Ciências do Movimento Humano.

Com nove anos de experiência atuando como coordenador científico e fisiologista no futebol profissional, ele passou as últimas três temporadas no Guarani de Campinas (SP) antes de ser anunciado pelo Criciúma em janeiro de 2025.