Transição do Futsal para o Futebol

Data:

Foto por Donnycocacola na Unsplash

Compartilhe:

Há algumas semanas constatamos que sim, é possível transferir habilidades motoras de um esporte coletivo para outro – em nosso caso, será a transição do Futsal para o Futebol –, desde que o professor responsável tenha um programa de treinamento bem-planejado e centrado, intencionalmente, no objetivo da transferência.

Vimos também que, além das habilidades motoras específicas do Futsal, é importante que o futuro atleta vivencie sessões de treinamento que englobe experiências com outros esportes coletivos.

Faixas etárias para a transição do futsal para o futebol

Nesse sentido, para melhor sistematizar o anteposto, apresentaremos quatro fases fundamentais nesse texto para a formação do atleta e, além disso, evidenciaremos um processo de progressão quanto à transição do atleta de Futsal para o Futebol.

Fase Universal (6 – 12 anos)

  • Periodicidade: no máximo três vezes por semana, com duração de 60 minutos por aula.

É a fase mais ampla e rica do processo de formação esportiva. Aqui a criança se encontra com as habilidades básicas de locomoção, manipulação e estabilização em refinamento progressivo. Como resultado, pode participar de um número maior e mais complexo de atividades motoras.

Nesta fase, o jogo é um elemento didático-pedagógico que deverá acompanhar as características evolutivas da criança, especialmente no que refere à sua maturidade, evolução psicológica e cognitivo-social. Além disso, as crianças devem começar a identificar os objetivos gerais dos esportes coletivos, nos momentos de defesa e ataque.

Assim, dos 6 aos 12 anos, é necessário desenvolver o máximo capacidades motoras e coordenativas de uma forma geral. Dessa forma, a criança terá uma base ampla e variada de movimentos.

Ainda assim, ocorre um desenvolvimento acentuado nos aspectos cognitivos e físicos que, somados aos fatores culturais, favorecerão a criança a utilizar suas habilidades dentro de estruturas esportivas mais definidas. É nessa fase que devemos inserir o atleta no ambiente competitivo, com adaptações estruturais e funcionais para o melhor desempenho das crianças de acordo com suas necessidades.

Podemos dividir esta fase em dois períodos: período geral (6 – 9 anos); e período das habilidades específicas (10 – 12 anos). Portanto, se tratando do nosso objetivo de haver transição de habilidades do Futsal para o Futebol, tanto no período geral quanto no período das habilidades específicas, os treinos devem ocorrer dentro do ambiente competitivo do Futsal.

Fase de Orientação (11 – 14 anos)

  • Periodicidade: três encontros semanais, com duração entre 60 e 90 minutos por treino.

Esta fase tem início por volta dos 11-12 anos e abrange até os 13-14 anos. É nesse momento que começa a ocorrer a automatização de grande parte dos movimentos, liberando a atenção do praticante para a percepção de outros estímulos que ocorram simultaneamente à ação realizada.

Nessa mesma linha, nas regras de determinada modalidade, o professor deverá buscar junto aos alunos o aperfeiçoamento do movimento, a fim de melhor as respostas motoras. Ainda através do jogo, precisamos incentivar a criança a desenvolver, aprender e aplicar técnicas de movimento específicas do esporte.

Vale ressaltar que o jogo, seja qual for sua forma de organização (jogos de iniciação, pré-desportivos, grandes jogos, jogos recreativos, entre outros), apesar de serem recreativo, devem possuir um alto valor educativo, pois, dessa forma, serão estabelecidas as bases para ações inteligentes.

Por fim, nesta fase, os treinos de Futsal devem ocorrer duas vezes por semana e no Futebol, uma vez por semana.

Fase de Direção (13 – 16 anos)

  • Periodicidade: três encontros semanais, com duração, no máximo, de 90 minutos por treino.

Nesta fase o objetivo principal é a transmissão e aplicação de regras gerais das ações táticas específicas do esporte. Desse modo, as técnicas são trabalhadas em situações representadas em forma de exercícios, onde a requisição da técnica seja variada, nos seus parâmetros de execução e aplicação.

Da mesma forma, os alunos deverão aprender a realizar, com muita velocidade, a transição entre os momentos o jogo de Futebol e Futsal, ou seja, uma vez perdida a bola no ataque, a equipe deve se reorganizar na defesa imediatamente. Ao contrário, uma vez que se recupere uma bola na defesa, ela deve chegar ao campo ofensivo com muita velocidade.

Ainda sobre isso, as aulas devem prever um aumento do conhecimento declarativo (verbalizado, teórico) dos alunos, tanto do Futebol como Futsal.

Ao final desta fase, o atleta conseguirá optar pelo Futsal ou Futebol. Então, na próxima fase, o jogador deverá se especializar no esporte que escolher.

Em conclusão, nesta fase, os treinos de Futsal devem ocorrer uma vez por semana e, no Futebol, duas vezes por semana.

Fase de Especialização (15 – 18 anos)

  • Periodicidade: cerca de três vezes na semana, com 90 a 120 minutos de duração cada treino.

Esta fase abrange dos 15-16 anos até os 17-18 anos de idade. É o momento do atleta concretizar a especialização na transição do Futsal para o Futebol.

A base motora multilateral, o desenvolvimento ósseo e a estatura são consolidados; é quando o atleta suporta maiores cargas de treino e competições, com a definição das habilidades para o Futebol. Nesse sentido, as sessões de treino devem objetivar o aperfeiçoamento e otimização do potencial tático.

Porém, ressaltamos que o potencial tático nada tem a ver padrões rígidos de movimentações, visto que a previsibilidade se opõe à natureza do jogo de Futebol.

Todos os treinos da semana devem ser de Futebol.

O que aprendemos sobre a transição do futsal para o futebol?

Do ponto de vista da transição de habilidades motoras do Futsal para o Futebol, acreditamos ser de fundamental importância os professores considerarem as fases expostas. Na literatura especializada em Pedagogia do Esporte, encontramos diferentes nomenclaturas para as fases, no entanto, o conteúdo, segundo a idade se assemelha nas diferentes propostas. Por fim, obedecer um sistema de treinamento esportivo facilita o processo de avaliação e realinhamento do projeto. Portanto, uma base teórica sólida é fundamental para os profissionais que almejam êxito na transição do Futsal para o Futebol.

Para receber conteúdos como esse em seu e-mail, participe da nossa Newsletter.

Referências e links

Contato do Autor:
Tássio Sardinha
E-mail: tassiosardinha@gmail.com
Instagram: @tsardinha1

Confira abaixo um episódio do Podcast sobre o assunto:

spot_img
spot_img

Posts Relacionados

Quais os critérios utilizados por treinadores da base no processo de seleção de jovens no Futebol?

Uma pesquisa recente investigou os fatores que influenciam a seleção de jovens jogadores de futebol. O estudo foi...

Os dados de GPS devem ser normalizados para monitoramento de desempenho e fadiga no futebol?

Um novo estudo publicado na revista German Journal of Exercise and Sport Research em junho de 2025 questiona a...

O que influencia a velocidade máxima nas partidas ao longo de uma temporada no Futebol?

Um estudo recente analisou a velocidade máxima atingida por jogadores de futebol durante as partidas, levando em consideração...

Tratamentos para dor crônica em jogadores de Futebol

Um estudo em formato de revisão integrativa analisou a eficácia de tratamentos farmacológicos e não farmacológicos na gestão...

João Bonfatti

João Bonfatti atualmente trabalha como Coordenador do setor de Análise de Desempenho no América-MG. Antes disso, teve passagens pelo Vasco da Gama, onde atuou em diferentes categorias: foi auxiliar técnico do Sub-20, treinador interino do Sub-17 e auxiliar técnico do Sub-17.

Atuou também pelo Atlético-MG, onde desempenhou o papel de auxiliar técnico do Sub-15. No Corinthians, auxiliar técnico do Sub-14, além de exercer a função de supervisor metodológico.

Sua formação inclui o Bacharelado em Futebol pela Universidade Federal de Viçosa e a Licença B da CBF Academy, o que reforça sua base teórica e prática no desenvolvimento de atletas.

Felipe Bonholi

Felipe Bonholi integra a equipe do Palmeiras como Analista de Desempenho no Centro de Formação de Atletas (CFA), contribuindo para o desenvolvimento e acompanhamento de jovens talentos.

Antes disso, acumulou cinco anos de experiência na Ferroviária, onde atuou como Analista de Desempenho da equipe profissional, e no São Carlos Futebol Clube na mesma função.

Sua formação acadêmica inclui Bacharelado em Administração de Empresas pela UNIARA (2014–2017) e graduação em andamento em Educação Física pela mesma instituição, iniciada em 2019.

Com sólida base teórica e ampla experiência prática, Felipe Bonholi se destaca por sua capacidade de integrar análise técnica, gestão e visão estratégica no contexto esportivo, contribuindo para o desempenho e evolução de atletas e equipes.

Mylena Baransk

Mylena Baransk é doutora em Educação Física pela Universidade Federal do Paraná e mestre em Ciências da Saúde pela Universidade Estadual de Ponta Grossa, onde também concluiu sua graduação em Educação Física – Bacharelado. Especialista em futsal com foco em análise de desempenho, atuou como docente em cursos do ensino superior e analista de desempenho no futebol.

Atualmente, exerce a função de analista de desempenho no Clube Atlético Mineiro, onde trabalha desde agosto de 2024. Antes disso, desempenhou a mesma função na Associação Ferroviária de Esportes entre março e agosto de 2024, atuando em Araraquara, São Paulo.

Além da atuação em clubes, possui experiência acadêmica como docente, tendo lecionado na UniCesumar entre julho e outubro de 2023, em Curitiba, Paraná. Também foi professora na UNIFATEB, onde atuou por quase três anos, de fevereiro de 2021 a outubro de 2023, em Telêmaco Borba, Paraná.

Com forte presença na área de análise de desempenho no futebol, também é CEO da Statisticsfut, onde se dedica ao desenvolvimento de conteúdos e estratégias voltadas à análise estatística e desempenho esportivo.

Nathália Arnosti

Nathália Arnosti é uma profissional de destaque na área de Fisiologia do Esporte e Preparação Física, com sólida formação acadêmica e ampla experiência no futebol brasileiro.

Bacharel e mestre em Educação Física pela Universidade Metodista de Piracicaba e doutora pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), ela construiu uma carreira marcada pela integração entre ciência e prática esportiva.

No cenário dos clubes, já contribuiu com equipes como Athletico Paranaense, Red Bull Bragantino, Palmeiras, Audax, Ferroviária e Ponte Preta. Em janeiro de 2024, assumiu o cargo de fisiologista do Cruzeiro, reforçando seu papel como referência no acompanhamento e otimização do desempenho esportivo.

Rodrigo Aquino

Rodrigo Aquino é professor na Universidade Federal do Espírito Santo, onde atua no Departamento de Desportos e como docente do Programa de Pós-Graduação em Educação Física (Mestrado e Doutorado).

É líder do Grupo de Estudos Pesquisa em Ciências no Futebol (GECIF/UFES) e coordenador do Programa Academia e Futebol (Núcleo UFES), financiado pelo Ministério do Esporte. Seu trabalho envolve a coordenação de projetos técnico-científicos em parceria com categorias de base e equipes profissionais de futebol no Brasil.

Rodrigo é graduado em Educação Física e Esporte pela USP, com especialização em Ciências do Desporto pela Universidade do Porto. Concluiu o mestrado e doutorado em Ciências também pela USP. Acumula experiência prática no futebol desde 2015 como fisiologista e preparador físico em clubes profissionais, além de atuar como treinador e coordenador técnico em categorias de base. Reconhecido academicamente, está entre os 10 cientistas do esporte mais produtivos da América Latina em publicações científicas relacionadas ao futebol.

Neto Pereira

Neto Pereira é um profissional de preparação física e performance esportiva com experiência em clubes do Brasil e do exterior. Atualmente é Preparador Físico no sub-20 do Vasco da Gama.

Trabalhou como Head Performance and Fitness Coach no FC Semey do Cazaquistão (2024). Foi Preparador Físico no Confiança (2023-2024) e Head of Performance and Health no Avaí (2022-2023). Também exerceu o cargo de Coordenador de Performance no Confiança (2022) e trabalhou como Fisiologista no CRB (2021-2022) e no próprio Confiança (2019-2021).

Possui Mestrado em Saúde e Educação Física pela Universidade Federal de Sergipe e Especialização em Desempenho Humano pela Universidade Tiradentes (Unit). Suas principais competências incluem preparação física, análise de desempenho, força, potência e velocidade no esporte.

Rafael Grazioli

Rafael Grazioli, natural de Canoas (RS), é formado em Educação Física pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), onde também concluiu mestrado e doutorado em Ciências do Movimento Humano.

Com nove anos de experiência atuando como coordenador científico e fisiologista no futebol profissional, ele passou as últimas três temporadas no Guarani de Campinas (SP) antes de ser anunciado pelo Criciúma em janeiro de 2025.