Quais os critérios utilizados por treinadores da base no processo de seleção de jovens no Futebol?

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Uma pesquisa recente investigou os fatores que influenciam a seleção de jovens jogadores de futebol. O estudo foi conduzido por Fabiana Parreira Bonito e demais pesquisadores de universidades portuguesas, e os resultados foram publicados no Journal of Functional Morphology and Kinesiology.

Qual objetivo e como foi realizado o estudo?

O objetivo do estudo foi analisar a relação entre as decisões dos técnicos e a idade relativa dos jogadores, seu nível de maturação biológica e a experiência, ao selecionar atletas Sub-14 para equipes regionais e a seleção nacional.

Para isso, foram avaliados 360 jogadores de futebol masculino Sub-14 que participaram de um torneio nacional em Portugal. Os pesquisadores registraram as datas de nascimento dos jogadores, categorizando-os por trimestre de nascimento. Além disso, foram realizadas medições antropométricas, avaliação do nível de aptidão física e documentação de indicadores de sucesso, como a avaliação de desempenho pelos técnicos, minutos jogados e convocação para a Seleção Nacional. A maturação dos jogadores foi determinada pela idade óssea.

Principais resultados

Os resultados indicaram que a idade de maturação e o efeito da idade relativa são fatores com influência nas decisões de seleção dos técnicos. A maioria dos jogadores no estudo nasceram nos primeiros dois trimestres do ano, independentemente do seu estado de maturação.

Embora as diferenças morfológicas e funcionais entre jogadores nascidos em diferentes trimestres não fossem significativas após controlar o efeito da idade óssea, atletas com maturação tardia jogaram menos minutos.

Entre os jogadores selecionados para a Seleção Nacional, grande parte apresentava maturação precoce ou no tempo certo, e a maioria nasceu no primeiro ou segundo trimestre do ano.

Dessa forma, o estudo aponta que os técnicos tendem a selecionar jogadores mais maduros, independentemente do trimestre de nascimento. Isso pode ser explicado pelas vantagens físicas e funcionais que atletas com maturação precoce ou no tempo certo geralmente possuem, como melhor desempenho em tarefas que envolvem força, potência, velocidade, agilidade e resistência.

Idade relativa e a seleção de atletas

A prevalência de jogadores nascidos nos primeiros trimestres do ano nas equipes de base é um fenômeno conhecido, onde atletas mais velhos dentro da mesma categoria de idade cronológica tendem a ter mais experiência e, em muitos casos, maiores dimensões corporais.

Apesar de estudos anteriores terem indicado uma variabilidade reduzida entre a idade óssea e a idade decimal nos terceiro e quarto trimestres, este estudo sugere uma maior variabilidade em todos os trimestres de nascimento. Isso significa que a preferência por jogadores mais maduros foi observada em todos os trimestres de nascimento, ao contrário de pesquisas anteriores que indicavam que esse efeito era menos pronunciado nos trimestres posteriores.

Conclusão e implicações práticas

As consequências dessas tendências são significativas: atletas com maturação tardia podem ter menos oportunidades de jogo.

Para garantir um processo de seleção mais justo, os pesquisadores sugerem que clubes, associações e federações de futebol adotem métodos como o “bio-banding” (agrupamento de jogadores com base na maturação biológica), monitorem o viés de maturação e promovam programas de desenvolvimento de longo prazo para jovens jogadores.

Além disso, técnicos e olheiros são incentivados a utilizar critérios de avaliação mais abrangentes, oferecer treinamento adequado para jogadores com diferentes estágios de maturação e apoiar estruturas de competição flexíveis.

O artigo completo está disponível clicando aqui

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Rodrigo Aquino

Rodrigo Aquino é professor na Universidade Federal do Espírito Santo, onde atua no Departamento de Desportos e como docente do Programa de Pós-Graduação em Educação Física (Mestrado e Doutorado).

É líder do Grupo de Estudos Pesquisa em Ciências no Futebol (GECIF/UFES) e coordenador do Programa Academia e Futebol (Núcleo UFES), financiado pelo Ministério do Esporte. Seu trabalho envolve a coordenação de projetos técnico-científicos em parceria com categorias de base e equipes profissionais de futebol no Brasil.

Rodrigo é graduado em Educação Física e Esporte pela USP, com especialização em Ciências do Desporto pela Universidade do Porto. Concluiu o mestrado e doutorado em Ciências também pela USP. Acumula experiência prática no futebol desde 2015 como fisiologista e preparador físico em clubes profissionais, além de atuar como treinador e coordenador técnico em categorias de base. Reconhecido academicamente, está entre os 10 cientistas do esporte mais produtivos da América Latina em publicações científicas relacionadas ao futebol.

Neto Pereira

Neto Pereira é um profissional de preparação física e performance esportiva com experiência em clubes do Brasil e do exterior. Atualmente é Preparador Físico no sub-20 do Vasco da Gama.

Trabalhou como Head Performance and Fitness Coach no FC Semey do Cazaquistão (2024). Foi Preparador Físico no Confiança (2023-2024) e Head of Performance and Health no Avaí (2022-2023). Também exerceu o cargo de Coordenador de Performance no Confiança (2022) e trabalhou como Fisiologista no CRB (2021-2022) e no próprio Confiança (2019-2021).

Possui Mestrado em Saúde e Educação Física pela Universidade Federal de Sergipe e Especialização em Desempenho Humano pela Universidade Tiradentes (Unit). Suas principais competências incluem preparação física, análise de desempenho, força, potência e velocidade no esporte.

Rafael Grazioli

Rafael Grazioli, natural de Canoas (RS), é formado em Educação Física pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), onde também concluiu mestrado e doutorado em Ciências do Movimento Humano.

Com nove anos de experiência atuando como coordenador científico e fisiologista no futebol profissional, ele passou as últimas três temporadas no Guarani de Campinas (SP) antes de ser anunciado pelo Criciúma em janeiro de 2025.