Modelo de Jogo no Futebol: o que é e para que serve?

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Foto de Victoria Prymak na Unsplash

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Este texto abordará o que é modelo de jogo no futebol e complementa a publicação sobre periodização tática, feita anteriormente. Aliás, se você quiser saber mais sobre o assunto, também publicamos um texto que apresenta a importância dos fractais na periodização tática. Assim, a primeira questão que o treinador precisa desenvolver para iniciar a Periodização Tática é a criação de um Modelo de Jogo no futebol. Esse modelo norteará os treinamentos e a competição.

O que é Modelo de Jogo no futebol?

Fonte: criado pelo autor.

Primeiramente, citaremos o entendimento do próprio Prof. Vitor Frade acerca do assunto, em entrevista:

“Portanto, para mim, modelo é o que existe em termos estruturais e funcionais, que proporciona que regularmente uma equipa se identifique como equipa. Que mesmo quando você mete umas camisolas da cor “do burro quando foge” ao ela estar a jogar mal você diz: “Não, este é o Barcelona”. O modelo é este lado, esta evidência empírica.”

O Modelo de Jogo no futebol, em síntese, é a “descrição do jogar” da equipe. Ou seja, está no imaginário do técnico. Portanto, será a maneira como ele idealiza que os jogadores desta equipe se comportem em cada momento do jogo, como interajam entre si para solucionar os problemas que aparecem durante a partida, etc.

Modelo de jogo ideal vs concepção de jogo.

O Modelo de Jogo, também chamado de Modelo de Jogo Ideal, será o norteador da equipe nos treinos e competições. Segundo o livro de Israel Teoldo, se o futebol se joga por conceitos, é o modelo de jogo que dá ou retira significados a esses conceitos, que os agrega ou separa.

Assim como vimos acima, o Modelo está presente na cabeça do treinador, tendo, a sua disposição, um cenário perfeito, com os melhores jogadores do mundo, semanas inteiras para treinar, condições ótimas de treinamento, etc. Porém, isso nunca será possível. Dessa forma, a Concepção de Jogo ou Modelo de Jogo Adaptado será a forma como o técnico prevê que a equipe jogue, mas considerando os itens a seguir:

  • Característica dos jogadores;
  • Cultura do clube;
  • Cultura da região;
  • Estrutura do clube;
  • Pretensões do clube nas competições que há de disputar;
  • Ideia de jogo do treinador.

Portanto, após o técnico ter criado um estilo de jogo “perfeito” (Modelo de Jogo), ele irá adequá-lo às condições citadas acima (Concepção de Jogo). Segundo Israel Teoldo, a concepção de jogo é influenciada pelo modelo de jogo ideal e, simultaneamente, condicionada por vários constrangimentos.

Mas, por que “modelar o jogo”?

Ora, já sabemos acerca da complexidade do jogo de Futebol e que, como tal, precisa ser tratado com olhares sistêmicos. Então, partindo disso, como criamos parâmetros para que os jogadores compreendam o jogar a que se pretende e consigam sintonia coletiva? Para responder, vamos nos aproveitar do trecho de Lê Moigne citado em “Abordagem sistêmica do jogo de futebol: moda ou necessidade?”: 

“Se pretendemos construir a inteligibilidade de um sistema complexo, devemos modelá-lo.” Ou seja, precisamos criar modelos que possam ser compreendidos pelos jogadores, de modo que eles reproduzam determinados padrões no jogo.

As duas características principais ao modelá-lo são:

Unicidade

Não existe um modelo genérico, pois o jogo é complexo e há todo um contexto, também complexo, ao seu entorno. Portanto, cada modelo é único, sem a possível aplicação do mesmo em diferentes locais e momentos. 

Pense com você mesmo: sempre teremos à disposição a mesma estrutura, os mesmos jogadores e objetivos iguais? Todos os clubes e cidades possuem a mesma cultura? Bom, assim você consegue entender a tal da unicidade que citamos. Aliás, nem no mesmo clube, na mesma temporada, mas em alturas diferentes desta, teremos sucesso com um mesmo modelo, mas esse é um assunto para o próximo tópico.

Sem fim em si mesmo

Primeiro, há o costume de se falar que um modelo não tem fim em si mesmo. Mas o que isso quer dizer? Significa que não é fechado, sendo suscetível a otimizações e adaptações. E tudo isso se deve a influência do tempo, já que, por exemplo, as pretensões do clube podem variar ao longo da competição, assim como nem sempre todos os jogadores estarão disponíveis. Além desses fatores também existe a busca constante pelo melhor “ajuste” possível (otimização). 

Cabe aqui citar outro trecho da entrevista do Prof. Vitor Frade: “o modelo é qualquer coisa que não existe em lado nenhum, todavia eu procuro encontrá-lo”.

Enfim, não existe um molde genérico, um modelo aplicável em diferentes contextos e cenários, afinal, falamos de um jogo complexo sob a influência do tempo.

O modelo de jogo na Periodização Tática

A tática, representada pelo Modelo de Jogo, é tida como uma “supradimensão” da Periodização Tática. Mas o que isso quer dizer? Ora, que as demais dimensões (técnica, física e mental/psicológica) são levadas de arraste ao se treinar a dimensão tática. Ou seja, quando treinamos o jogar, tomando em consideração o que queremos propor como Modelo de Jogo, acabamos também treinando indiretamente as demais vertentes. 

Da mesma forma que o citado antes, Mourinho, no livro Porquê de tantas vitórias, deixa isso claro ao mencionar que sua preocupação desde o primeiro dia de treinamento é fazer com que a equipe possua um conjunto de princípios que deem organização a ela (equipe), e as preocupações técnicas, físicas e psicológicas surgem por arrastamento.

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Contato dos autores:

Chrístopher Kilpp Suhre
Instagram: @Christopher_Suhre

Roberto Augusto Lazzarotto Pereira
Instagram: @ralazzarottop

Confira abaixo um episódio do Podcast sobre o assunto:

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João Bonfatti

João Bonfatti atualmente trabalha como Coordenador do setor de Análise de Desempenho no América-MG. Antes disso, teve passagens pelo Vasco da Gama, onde atuou em diferentes categorias: foi auxiliar técnico do Sub-20, treinador interino do Sub-17 e auxiliar técnico do Sub-17.

Atuou também pelo Atlético-MG, onde desempenhou o papel de auxiliar técnico do Sub-15. No Corinthians, auxiliar técnico do Sub-14, além de exercer a função de supervisor metodológico.

Sua formação inclui o Bacharelado em Futebol pela Universidade Federal de Viçosa e a Licença B da CBF Academy, o que reforça sua base teórica e prática no desenvolvimento de atletas.

Felipe Bonholi

Felipe Bonholi integra a equipe do Palmeiras como Analista de Desempenho no Centro de Formação de Atletas (CFA), contribuindo para o desenvolvimento e acompanhamento de jovens talentos.

Antes disso, acumulou cinco anos de experiência na Ferroviária, onde atuou como Analista de Desempenho da equipe profissional, e no São Carlos Futebol Clube na mesma função.

Sua formação acadêmica inclui Bacharelado em Administração de Empresas pela UNIARA (2014–2017) e graduação em andamento em Educação Física pela mesma instituição, iniciada em 2019.

Com sólida base teórica e ampla experiência prática, Felipe Bonholi se destaca por sua capacidade de integrar análise técnica, gestão e visão estratégica no contexto esportivo, contribuindo para o desempenho e evolução de atletas e equipes.

Mylena Baransk

Mylena Baransk é doutora em Educação Física pela Universidade Federal do Paraná e mestre em Ciências da Saúde pela Universidade Estadual de Ponta Grossa, onde também concluiu sua graduação em Educação Física – Bacharelado. Especialista em futsal com foco em análise de desempenho, atuou como docente em cursos do ensino superior e analista de desempenho no futebol.

Atualmente, exerce a função de analista de desempenho no Clube Atlético Mineiro, onde trabalha desde agosto de 2024. Antes disso, desempenhou a mesma função na Associação Ferroviária de Esportes entre março e agosto de 2024, atuando em Araraquara, São Paulo.

Além da atuação em clubes, possui experiência acadêmica como docente, tendo lecionado na UniCesumar entre julho e outubro de 2023, em Curitiba, Paraná. Também foi professora na UNIFATEB, onde atuou por quase três anos, de fevereiro de 2021 a outubro de 2023, em Telêmaco Borba, Paraná.

Com forte presença na área de análise de desempenho no futebol, também é CEO da Statisticsfut, onde se dedica ao desenvolvimento de conteúdos e estratégias voltadas à análise estatística e desempenho esportivo.

Nathália Arnosti

Nathália Arnosti é uma profissional de destaque na área de Fisiologia do Esporte e Preparação Física, com sólida formação acadêmica e ampla experiência no futebol brasileiro.

Bacharel e mestre em Educação Física pela Universidade Metodista de Piracicaba e doutora pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), ela construiu uma carreira marcada pela integração entre ciência e prática esportiva.

No cenário dos clubes, já contribuiu com equipes como Athletico Paranaense, Red Bull Bragantino, Palmeiras, Audax, Ferroviária e Ponte Preta. Em janeiro de 2024, assumiu o cargo de fisiologista do Cruzeiro, reforçando seu papel como referência no acompanhamento e otimização do desempenho esportivo.

Rodrigo Aquino

Rodrigo Aquino é professor na Universidade Federal do Espírito Santo, onde atua no Departamento de Desportos e como docente do Programa de Pós-Graduação em Educação Física (Mestrado e Doutorado).

É líder do Grupo de Estudos Pesquisa em Ciências no Futebol (GECIF/UFES) e coordenador do Programa Academia e Futebol (Núcleo UFES), financiado pelo Ministério do Esporte. Seu trabalho envolve a coordenação de projetos técnico-científicos em parceria com categorias de base e equipes profissionais de futebol no Brasil.

Rodrigo é graduado em Educação Física e Esporte pela USP, com especialização em Ciências do Desporto pela Universidade do Porto. Concluiu o mestrado e doutorado em Ciências também pela USP. Acumula experiência prática no futebol desde 2015 como fisiologista e preparador físico em clubes profissionais, além de atuar como treinador e coordenador técnico em categorias de base. Reconhecido academicamente, está entre os 10 cientistas do esporte mais produtivos da América Latina em publicações científicas relacionadas ao futebol.

Neto Pereira

Neto Pereira é um profissional de preparação física e performance esportiva com experiência em clubes do Brasil e do exterior. Atualmente é Preparador Físico no sub-20 do Vasco da Gama.

Trabalhou como Head Performance and Fitness Coach no FC Semey do Cazaquistão (2024). Foi Preparador Físico no Confiança (2023-2024) e Head of Performance and Health no Avaí (2022-2023). Também exerceu o cargo de Coordenador de Performance no Confiança (2022) e trabalhou como Fisiologista no CRB (2021-2022) e no próprio Confiança (2019-2021).

Possui Mestrado em Saúde e Educação Física pela Universidade Federal de Sergipe e Especialização em Desempenho Humano pela Universidade Tiradentes (Unit). Suas principais competências incluem preparação física, análise de desempenho, força, potência e velocidade no esporte.

Rafael Grazioli

Rafael Grazioli, natural de Canoas (RS), é formado em Educação Física pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), onde também concluiu mestrado e doutorado em Ciências do Movimento Humano.

Com nove anos de experiência atuando como coordenador científico e fisiologista no futebol profissional, ele passou as últimas três temporadas no Guarani de Campinas (SP) antes de ser anunciado pelo Criciúma em janeiro de 2025.