Estudo comparou os piores cenários produzidos durante a semana nas sessões de treino com as exigências físicas das partidas

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Um grupo de pesquisadores da Universidad San Jorge, na Espanha, conduziu uma investigação sobre as diferenças de exigência física entre os treinos e os jogos em uma temporada completa do futebol profissional. O estudo foi publicado na revista científica Biology of Sport, com o título “Comparison of the worst-case scenarios between training and competition weeks for each playing position in an elite football season”.

Qual era o objetivo do estudo

O principal objetivo foi comparar os chamados “piores cenários” (worst-case scenarios, WCS) — momentos de maior exigência física — entre as sessões de treino realizadas durante a semana e as partidas oficiais, analisando ainda as diferenças conforme as posições dos jogadores em campo.

Como o estudo foi conduzido

A pesquisa acompanhou uma equipe da segunda divisão do futebol espanhol durante a temporada 2020/2021. Ao todo, foram analisadas 194 sessões de treino e 42 partidas, com dados captados por dispositivos de GPS acoplados aos atletas. Os jogadores foram divididos em quatro grupos conforme suas posições: zagueiros centrais, laterais (e meio-campistas de lado), meio-campistas centrais e atacantes. As variáveis analisadas incluíram distância total percorrida, distâncias em alta velocidade (acima de 21 km/h e 24 km/h), número de acelerações e desacelerações intensas, e distância em alta carga metabólica.

Principais resultados encontrados

O estudo mostrou que, em média, os momentos de maior exigência física nos jogos superaram os dos treinos em quase todas as variáveis analisadas. No dia do jogo (MD), por exemplo, a distância percorrida em alta velocidade foi 218,7% maior que a média dos treinos, e a distância em velocidade de sprint (acima de 24 km/h) chegou a ser 289,3% superior.

Além disso, os treinos não conseguiram replicar as mesmas exigências nos chamados “piores cenários” em nenhuma posição de campo, com exceção dos zagueiros centrais, que apresentaram semelhança nos dados de velocidade em alguns dias. Os laterais e meio-campistas de lado foram os que mais exigiram do físico durante os jogos, especialmente em distâncias percorridas e ações de alta intensidade.

Por que isso acontece, segundo os autores

Segundo os pesquisadores, essas diferenças podem estar ligadas a fatores como a estrutura das atividades nos treinos (como o uso de jogos reduzidos com menor espaço), a variação do modelo tático adotado pelo time e a função desempenhada por cada posição no jogo. Em especial, os jogadores de lado foram muito exigidos nas partidas devido ao papel central que tiveram tanto no ataque quanto na defesa da equipe estudada.

Outro ponto discutido foi a influência do tempo de análise. Como o estudo se baseou em janelas de 1 minuto para detectar os momentos mais exigentes, o pico de intensidade pode ser mais agudo e difícil de replicar em treinos convencionais, onde as demandas são mais distribuídas.

Aplicações práticas e sugestões para treinadores

Os autores defendem que, para preparar melhor os atletas, é importante que os treinos sejam planejados com base nos momentos de maior exigência das partidas, e não apenas nas médias de desempenho. Isso pode ajudar na prevenção de lesões e na otimização da performance, além de permitir uma preparação mais específica por posição.

A identificação dos dias da semana em que se aproximam mais das exigências do jogo (como MD-4 e MD-3, dependendo da variável e da posição) pode auxiliar treinadores e preparadores físicos a organizar melhor as cargas de treino e estratégias de recuperação. Ainda assim, o estudo destaca que nenhum dia de treino atingiu os níveis de intensidade dos jogos, reforçando a necessidade de ajustes e inovações no planejamento semanal.

O artigo completo está disponível clicando aqui

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João Bonfatti

João Bonfatti atualmente trabalha como Coordenador do setor de Análise de Desempenho no América-MG. Antes disso, teve passagens pelo Vasco da Gama, onde atuou em diferentes categorias: foi auxiliar técnico do Sub-20, treinador interino do Sub-17 e auxiliar técnico do Sub-17.

Atuou também pelo Atlético-MG, onde desempenhou o papel de auxiliar técnico do Sub-15. No Corinthians, auxiliar técnico do Sub-14, além de exercer a função de supervisor metodológico.

Sua formação inclui o Bacharelado em Futebol pela Universidade Federal de Viçosa e a Licença B da CBF Academy, o que reforça sua base teórica e prática no desenvolvimento de atletas.

Felipe Bonholi

Felipe Bonholi integra a equipe do Palmeiras como Analista de Desempenho no Centro de Formação de Atletas (CFA), contribuindo para o desenvolvimento e acompanhamento de jovens talentos.

Antes disso, acumulou cinco anos de experiência na Ferroviária, onde atuou como Analista de Desempenho da equipe profissional, e no São Carlos Futebol Clube na mesma função.

Sua formação acadêmica inclui Bacharelado em Administração de Empresas pela UNIARA (2014–2017) e graduação em andamento em Educação Física pela mesma instituição, iniciada em 2019.

Com sólida base teórica e ampla experiência prática, Felipe Bonholi se destaca por sua capacidade de integrar análise técnica, gestão e visão estratégica no contexto esportivo, contribuindo para o desempenho e evolução de atletas e equipes.

Mylena Baransk

Mylena Baransk é doutora em Educação Física pela Universidade Federal do Paraná e mestre em Ciências da Saúde pela Universidade Estadual de Ponta Grossa, onde também concluiu sua graduação em Educação Física – Bacharelado. Especialista em futsal com foco em análise de desempenho, atuou como docente em cursos do ensino superior e analista de desempenho no futebol.

Atualmente, exerce a função de analista de desempenho no Clube Atlético Mineiro, onde trabalha desde agosto de 2024. Antes disso, desempenhou a mesma função na Associação Ferroviária de Esportes entre março e agosto de 2024, atuando em Araraquara, São Paulo.

Além da atuação em clubes, possui experiência acadêmica como docente, tendo lecionado na UniCesumar entre julho e outubro de 2023, em Curitiba, Paraná. Também foi professora na UNIFATEB, onde atuou por quase três anos, de fevereiro de 2021 a outubro de 2023, em Telêmaco Borba, Paraná.

Com forte presença na área de análise de desempenho no futebol, também é CEO da Statisticsfut, onde se dedica ao desenvolvimento de conteúdos e estratégias voltadas à análise estatística e desempenho esportivo.

Nathália Arnosti

Nathália Arnosti é uma profissional de destaque na área de Fisiologia do Esporte e Preparação Física, com sólida formação acadêmica e ampla experiência no futebol brasileiro.

Bacharel e mestre em Educação Física pela Universidade Metodista de Piracicaba e doutora pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), ela construiu uma carreira marcada pela integração entre ciência e prática esportiva.

No cenário dos clubes, já contribuiu com equipes como Athletico Paranaense, Red Bull Bragantino, Palmeiras, Audax, Ferroviária e Ponte Preta. Em janeiro de 2024, assumiu o cargo de fisiologista do Cruzeiro, reforçando seu papel como referência no acompanhamento e otimização do desempenho esportivo.

Rodrigo Aquino

Rodrigo Aquino é professor na Universidade Federal do Espírito Santo, onde atua no Departamento de Desportos e como docente do Programa de Pós-Graduação em Educação Física (Mestrado e Doutorado).

É líder do Grupo de Estudos Pesquisa em Ciências no Futebol (GECIF/UFES) e coordenador do Programa Academia e Futebol (Núcleo UFES), financiado pelo Ministério do Esporte. Seu trabalho envolve a coordenação de projetos técnico-científicos em parceria com categorias de base e equipes profissionais de futebol no Brasil.

Rodrigo é graduado em Educação Física e Esporte pela USP, com especialização em Ciências do Desporto pela Universidade do Porto. Concluiu o mestrado e doutorado em Ciências também pela USP. Acumula experiência prática no futebol desde 2015 como fisiologista e preparador físico em clubes profissionais, além de atuar como treinador e coordenador técnico em categorias de base. Reconhecido academicamente, está entre os 10 cientistas do esporte mais produtivos da América Latina em publicações científicas relacionadas ao futebol.

Neto Pereira

Neto Pereira é um profissional de preparação física e performance esportiva com experiência em clubes do Brasil e do exterior. Atualmente é Preparador Físico no sub-20 do Vasco da Gama.

Trabalhou como Head Performance and Fitness Coach no FC Semey do Cazaquistão (2024). Foi Preparador Físico no Confiança (2023-2024) e Head of Performance and Health no Avaí (2022-2023). Também exerceu o cargo de Coordenador de Performance no Confiança (2022) e trabalhou como Fisiologista no CRB (2021-2022) e no próprio Confiança (2019-2021).

Possui Mestrado em Saúde e Educação Física pela Universidade Federal de Sergipe e Especialização em Desempenho Humano pela Universidade Tiradentes (Unit). Suas principais competências incluem preparação física, análise de desempenho, força, potência e velocidade no esporte.

Rafael Grazioli

Rafael Grazioli, natural de Canoas (RS), é formado em Educação Física pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), onde também concluiu mestrado e doutorado em Ciências do Movimento Humano.

Com nove anos de experiência atuando como coordenador científico e fisiologista no futebol profissional, ele passou as últimas três temporadas no Guarani de Campinas (SP) antes de ser anunciado pelo Criciúma em janeiro de 2025.