Treinadora de futebol e a atuação no mercado

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O Futsal e o Futebol são modalidades dinâmicas em sua essência. Apesar de tornar-se com o tempo umas das modalidades mais praticadas e de fácil acesso para as pessoas, algumas estruturas de organização social e cultural refletem o conjunto de trabalhadores que atuam nestes espaços, em especial as mulheres como treinadora de futebol.

A ascensão e permanência de mulheres liderando equipes esportivas no Brasil tem baixa representatividade e isso só contribui para o predomínio masculino nesse campo profissional.

Infelizmente, há poucos estudos e pesquisas referentes a esta representatividade feminina no âmbito esportivo. De acordo com uma pesquisa realizada em 2013, das 259 federações esportivas de 22 modalidades no Brasil, apenas 7% dos técnicos esportivos são mulheres. E do total de federações pesquisadas, 71,4% não possuem mulheres cadastradas como técnicas.

Retrato social na Liga Nacional de Futsal e Brasileirão Feminino

A Liga Nacional de Futsal, por exemplo, é considerada a mais importante da América do Sul e uma das mais disputadas do mundo. No ano de 2021 a categoria masculina contou com a participação de 22 equipes, de mais de sete estados enquanto a categoria feminina, contou com 12 equipes ao total. Nas 12 equipes femininas, os resultados indicaram a presença de apenas 3 mulheres como treinadoras de futsal,  enquanto 9 homens eram treinadores em equipes femininas da competição acima descrita.

Além disso, os resultados no Futsal apresentam semelhanças com os resultados encontrados no futebol. A Série A do Brasileirão Feminino, considerada principal Liga Brasileira de Futebol profissional entre clubes do Brasil, disputada desde 2013, conta atualmente com 16 equipes, sendo 09 delas comandadas por treinadores  e apenas sete por treinadoras.

Por que a baixa representatividade de mulheres como treinadora de futebol?

Uma prática incompatível com a natureza feminina

Reportando a construção histórica, a participação feminina no Futsal foi negada na década de 40, com base no Decreto de Lei 3.199, que afirmava em seu artigo 54 que: “as mulheres não se permitirão a prática de desportos incompatíveis com as condições de sua natureza”. Um pensamento retrógrado que permanece em alguns momentos ainda na atualidade.

O domínio masculino e a aceitação social

É notório que a medida em que avançamos para o alto rendimento, o número de mulheres reduz simbolicamente como membras da comissão técnica. Três motivos merecem destaque para essa redução. O primeiro motivo é o domínio masculino que não permite que a mulher suba de posição, restringindo-as à base da pirâmide familiar ou de trabalho (na maioria das vezes). O segundo motivo é a própria mulher acomodar-se, pois quanto mais elevado o nível, maior será a dedicação a vida esportiva. Em contraponto com a vida pessoal e familiar, cuidado com os filhos, as mulheres optam pelas bases da pirâmide familiar. E o terceiro motivo é  a Aceitação feminina da exclusão, em que é possível observar que a maioria acaba se acomodando e interiorizando o domínio masculino, não se aventurando e enfrentando os obstáculos. Portanto, este torna-se bem mais ardiloso do que para os homens.

O perfil para o cargo

É incutido na sociedade, sobretudo no ambiente do futebol,  que para ser técnico é preciso ter vivenciado a modalidade como atleta para identificar as emoções em quadra ou do campo com mais ênfase. Também é construído que a postura firme e o comportamento mais “agressivo” do treinador estejam presente nos treinamentos e partidas oficiais. Entretanto, sabemos que normalmente, a treinadora de futebol têm uma sensibilidade e um carisma mais evidente, que por muitas vezes transparece aos olhos de quem está fora, que a equipe está sem comando ou algo relacionado.

Para conseguir uma posição na comissão técnica de alto rendimento, uma mulher teria que possuir, não só o que é explicitamente exigido pela descrição do cargo, como todos os atributos que os profissionais  masculinos determinam que são: uma estatura física avantajada, uma voz ou aptidões agressivas, segurança,  autoridade dita como natural para quais os homens foram preparados e treinados enquanto homens.

A realidade Feminina nos espaços masculinizados

No entanto, cabe ressaltar que há mulheres afirmando-se enquanto treinadora de futebol. No Brasil a treinadora Maria Cristina, contribuiu para a estruturação do Futsal Feminino brasileiro. Foi no clube Sabesp, em São Paulo, que ela teve seu maior destaque enquanto técnica. Entre os anos 1996 e 2009, foi campeã da Copa Algarve/Portugal (considerado como um mundial de clubes), hexacampeã estadual, octacampeã da Copa Topper Série Ouro, pentacampeã da Taça Brasil, entre muitos outros títulos.

Também chegou ao comando da primeira seleção de Futsal feminina para participar de um desafio internacional contra o Paraguai nos jogos que aconteceram na cidade de Londrina e Cornélio Procópio (PR) em dezembro de 2001. Maria Cristina permaneceu como técnica até o ano de 2019, acumulando mais 101 títulos em sua trajetória profissional.

Na mesma linha do assunto mencionamos a técnica Cris Souza, que ficou entre as 10 melhores treinadoras de futsal do mundo entre homens e mulheres no ano de 2019. Cris atua como técnica da equipe Lince/Taboão da Serra- SP e já conquistou títulos estaduais e nacionais.

É desafiador  encontrarmos mulheres referências a frente de grandes trabalhos no Futsal, porém, alguns nomes já estão presentes na história servindo de exemplo para outras serem escritas.

Como contribuir para a maior representatividade da mulher nos espaços esportivos?

Encontrar a solução do problema não se constitui como tarefa individual, mas coletiva. A escola como espaço transformador pode ser um aliado.

Como proposição nas aulas de Educação Física, citamos a abordagem com temas sobre gênero, sobre a exclusão dos menos habilidosos, na prática do futsal, questionamentos sobre o motivo pelo qual se criou essas barreiras com as mulheres se firmando enquanto treinadora de futebol, e /ou jogadoras, entre outros. Estes vêm de encontro a pedagogia transformadora, possibilitando no currículo escolar um diálogo com maior embasamento e esferas superiores da objetivação humana.

Portanto, estes temas quando discutidos de forma contextualizadas podem auxiliar e amenizar estes embates sobre gênero, referindo-se ao esporte como um espaço para ser ocupado por todos (as), em especial mulheres treinadoras.

Links de Referências

As mulheres e o esporte olímpico brasileiro entre as décadas de 1930 a 1960 – as políticas públicas do esporte e da educação física

Novo Futsal Brasileiro

O Percurso de mulheres como técnicas esportivas no Brasil.

A baixa representatividade de mulheres como técnicas esportivas no Brasil.

Futsal e Futebol: Bases metodológicas.

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João Bonfatti

João Bonfatti atualmente trabalha como Coordenador do setor de Análise de Desempenho no América-MG. Antes disso, teve passagens pelo Vasco da Gama, onde atuou em diferentes categorias: foi auxiliar técnico do Sub-20, treinador interino do Sub-17 e auxiliar técnico do Sub-17.

Atuou também pelo Atlético-MG, onde desempenhou o papel de auxiliar técnico do Sub-15. No Corinthians, auxiliar técnico do Sub-14, além de exercer a função de supervisor metodológico.

Sua formação inclui o Bacharelado em Futebol pela Universidade Federal de Viçosa e a Licença B da CBF Academy, o que reforça sua base teórica e prática no desenvolvimento de atletas.

Felipe Bonholi

Felipe Bonholi integra a equipe do Palmeiras como Analista de Desempenho no Centro de Formação de Atletas (CFA), contribuindo para o desenvolvimento e acompanhamento de jovens talentos.

Antes disso, acumulou cinco anos de experiência na Ferroviária, onde atuou como Analista de Desempenho da equipe profissional, e no São Carlos Futebol Clube na mesma função.

Sua formação acadêmica inclui Bacharelado em Administração de Empresas pela UNIARA (2014–2017) e graduação em andamento em Educação Física pela mesma instituição, iniciada em 2019.

Com sólida base teórica e ampla experiência prática, Felipe Bonholi se destaca por sua capacidade de integrar análise técnica, gestão e visão estratégica no contexto esportivo, contribuindo para o desempenho e evolução de atletas e equipes.

Mylena Baransk

Mylena Baransk é doutora em Educação Física pela Universidade Federal do Paraná e mestre em Ciências da Saúde pela Universidade Estadual de Ponta Grossa, onde também concluiu sua graduação em Educação Física – Bacharelado. Especialista em futsal com foco em análise de desempenho, atuou como docente em cursos do ensino superior e analista de desempenho no futebol.

Atualmente, exerce a função de analista de desempenho no Clube Atlético Mineiro, onde trabalha desde agosto de 2024. Antes disso, desempenhou a mesma função na Associação Ferroviária de Esportes entre março e agosto de 2024, atuando em Araraquara, São Paulo.

Além da atuação em clubes, possui experiência acadêmica como docente, tendo lecionado na UniCesumar entre julho e outubro de 2023, em Curitiba, Paraná. Também foi professora na UNIFATEB, onde atuou por quase três anos, de fevereiro de 2021 a outubro de 2023, em Telêmaco Borba, Paraná.

Com forte presença na área de análise de desempenho no futebol, também é CEO da Statisticsfut, onde se dedica ao desenvolvimento de conteúdos e estratégias voltadas à análise estatística e desempenho esportivo.

Nathália Arnosti

Nathália Arnosti é uma profissional de destaque na área de Fisiologia do Esporte e Preparação Física, com sólida formação acadêmica e ampla experiência no futebol brasileiro.

Bacharel e mestre em Educação Física pela Universidade Metodista de Piracicaba e doutora pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), ela construiu uma carreira marcada pela integração entre ciência e prática esportiva.

No cenário dos clubes, já contribuiu com equipes como Athletico Paranaense, Red Bull Bragantino, Palmeiras, Audax, Ferroviária e Ponte Preta. Em janeiro de 2024, assumiu o cargo de fisiologista do Cruzeiro, reforçando seu papel como referência no acompanhamento e otimização do desempenho esportivo.

Rodrigo Aquino

Rodrigo Aquino é professor na Universidade Federal do Espírito Santo, onde atua no Departamento de Desportos e como docente do Programa de Pós-Graduação em Educação Física (Mestrado e Doutorado).

É líder do Grupo de Estudos Pesquisa em Ciências no Futebol (GECIF/UFES) e coordenador do Programa Academia e Futebol (Núcleo UFES), financiado pelo Ministério do Esporte. Seu trabalho envolve a coordenação de projetos técnico-científicos em parceria com categorias de base e equipes profissionais de futebol no Brasil.

Rodrigo é graduado em Educação Física e Esporte pela USP, com especialização em Ciências do Desporto pela Universidade do Porto. Concluiu o mestrado e doutorado em Ciências também pela USP. Acumula experiência prática no futebol desde 2015 como fisiologista e preparador físico em clubes profissionais, além de atuar como treinador e coordenador técnico em categorias de base. Reconhecido academicamente, está entre os 10 cientistas do esporte mais produtivos da América Latina em publicações científicas relacionadas ao futebol.

Neto Pereira

Neto Pereira é um profissional de preparação física e performance esportiva com experiência em clubes do Brasil e do exterior. Atualmente é Preparador Físico no sub-20 do Vasco da Gama.

Trabalhou como Head Performance and Fitness Coach no FC Semey do Cazaquistão (2024). Foi Preparador Físico no Confiança (2023-2024) e Head of Performance and Health no Avaí (2022-2023). Também exerceu o cargo de Coordenador de Performance no Confiança (2022) e trabalhou como Fisiologista no CRB (2021-2022) e no próprio Confiança (2019-2021).

Possui Mestrado em Saúde e Educação Física pela Universidade Federal de Sergipe e Especialização em Desempenho Humano pela Universidade Tiradentes (Unit). Suas principais competências incluem preparação física, análise de desempenho, força, potência e velocidade no esporte.

Rafael Grazioli

Rafael Grazioli, natural de Canoas (RS), é formado em Educação Física pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), onde também concluiu mestrado e doutorado em Ciências do Movimento Humano.

Com nove anos de experiência atuando como coordenador científico e fisiologista no futebol profissional, ele passou as últimas três temporadas no Guarani de Campinas (SP) antes de ser anunciado pelo Criciúma em janeiro de 2025.