O Fundamento passe na iniciação do Futsal

Data:

Foto de Michal Balog na Unsplash

Compartilhe:

É natural que os professores de base sintam insegurança ao trabalhar esta habilidade do passe no futsal ainda na infância. Primordialmente, o professor precisa entender que esta fase é crucial para que a criança desenvolva sua motricidade globalmente, através de diferentes variedades de movimentos. Essa aprendizagem e experiências se dão a partir da ludicidade, de jogos, brincadeiras e, inclusive, ginástica.

Além do desenvolvimento motor, a compreensão das ações de jogo deve ser incentivada desde a tenra idade. E esta compreensão pode se dar por meio do fundamento passe. Mas como a abordagem deste, pode agregar conhecimento na iniciação?

O fundamento passe e seus princípios táticos na iniciação do futsal

Além disso, compreende-se que na iniciação do futsal, a aprendizagem dos fundamentos técnicos acontece de maneira natural com incentivo de uma pedagogia criativa e diversificada.

No entanto, a partir dos seis anos, a metodologia já deve consistir em abordar a ocupação de espaço, compreensão de regras, cooperação entre o grupo, etc. Afinal, o desenvolvimento dos fundamentos é inerente a coordenação motora, por isso, o treino deve pautar-se na organização de movimentos corporais que atendam uma necessidade ou um objetivo. Sendo assim, é preciso trabalhar o básico do movimento para enriquecer o repertório motor.

Durante a execução do fundamento passe, o aluno precisa ter a visão do jogo para encontrar seu colega em um espaço vazio ou sem marcação, além de precisar identificar a distância para saber a “força” que necessita colocar na bola, executando o passe no momento certo. E como a criança compreende toda essa dinâmica?

Quais atividades promovem situações táticas na iniciação a partir do fundamento passe?  

É essencial que nesta fase o treino não seja apenas com cargas unilaterais (exclusivo de uma modalidade), mas que venha enriquecer o acervo da criança. Por isso a atividade a seguir, trabalhará passes com as mãos, por exemplo.

Brincadeira do “Meinho”

O “meinho”, é uma brincadeira simples que pode ser realizada em pequenos grupos (trios, quartetos), facilitando assim maior contato com a bola. Em um espaço delimitado por cones, divida os alunos, um deverá ficar no meio interceptando o passe dos outros colegas, assim que interceptar, troca de posição com o último que realizou o passe. Iniciaremos esta atividade com as mãos. Ainda nessa brincadeira, podemos variar tamanhos da bola (Vôlei, tênis, etc.), ou com a inclusão da contagem de passes, regras de passar e movimentar para outro espaço, ou trabalhar com os pés. Dessa forma, o momento cria situações importantes para o desenvolvimento do jogo e compreensão cognitiva do aluno (a), por exemplo:

  • Manipulação de objetos;
  • Percepção espacial;
  • Movimentação no espaço;
  • Criação de linhas de passe (ataque) e o encurtamento de espaço (defesa).

Brincadeira “não deixe ser gol”

Ainda assim, outra atividade interessante para compreender a distância do colega que fará a recepção é o “não deixe ser gol”. Em duplas, um de frente para o outro e com pequenas goleiras atrás de cada criança, elas realizarão passes entre si, porém o objetivo é que a bola passe pelo colega e entre no gol. Esta atividade pode incluir os fundamentos de finalização e recepção. O professor pode estipular várias distâncias entre os dois alunos, para que estes percebam a força que deve ser colocada ao passar/chutar dependendo da distância em que está com a bola.  Além disso, alguns princípios de ataque e defesa são identificados nesta situação.

Brincadeira dos bambolês

Por fim, uma última brincadeira é a livre com bambolês: organize um espaço e distribua um bambolê para cada. Deixe as crianças brincarem livres: jogar no alto, segurar com uma mão apenas, girar e segurar, lançar o bambolê a sua frente, lançar o objeto para o colega e realizar a troca entre eles. Use a criatividade em sua aula.

Mas você deve estar se perguntando de que forma brincar de bambolê auxilia no desenvolvimento do fundamento passe, então imagine quantas ações de domínio corporal e cognitivo a criança estará realizando no espaço e como há relação com o passe no futsal:

  • Capacidade de processamento de movimentos (girar, agarrar, lançar);
  • Ordenação e elaboração da informação (material, espaço, colega, movimento);
  • Adaptação a variedade na atividade, adquirindo o hábito de prever possibilidades ou situações futuras.

A importância da organização metodológica na iniciação do futsal

Em síntese, a criança precisa manipular objetos, correr para um espaço vazio, estender o braço, segurar objetos de diversos tamanhos, sentar, saltar, etc. Dessa forma, quanto mais experiências a criança adquirir, mais capacidade de responder às situações do jogo ela terá futuramente, seja gestual ou cognitiva.

Desse modo, o professor precisa adaptar e compreender as reais necessidades da infância, afinal, o trabalho terá resultados a longo prazo. Quando falamos nas atividades acima: de linhas de passe e encurtamento de espaço, lógico que não utilizaremos estes termos em nossas falas. Porém, a criança começa a desenvolver, pelos estímulos recebidos, a compreensão de que longe do adversário receberá a bola com maior facilidade.

O passe é o fundamento que remete uma das características principais do futsal, o dinamismo. E a sua execução depende de uma série de conteúdos táticos, tais como ritmo de execução; informação (colega marcado ou não); controle do espaço (ocupar espaços vazios). Toda essa construção vai se dando gradualmente, mas precisa ser possibilitado contextualizadamente e lúdica, aproximando-se do jogo coletivo.

Portanto, atividades que trabalhem o fundamento passe tanto com as mãos quanto com os pés, juntamente com aquelas que desenvolvam a percepção do espaço e dos colegas se faz necessária.  Aprender a passar é aprender a socializar em grupo as habilidades individuais.

Contato da autora:

Instagram: @Torettifaveri

Fontes e Referências

Escola da Bola. Um ABC Para Iniciantes nos Jogos Esportivos.

Corpo em movimento na Educação Infantil

A atividade pedagógica da Educação Física

Confira abaixo um episódio do Podcast sobre o assunto:

Para receber conteúdos como esse em seu e-mail, participe da nossa Newsletter.

spot_img
spot_img

Posts Relacionados

Quais os critérios utilizados por treinadores da base no processo de seleção de jovens no Futebol?

Uma pesquisa recente investigou os fatores que influenciam a seleção de jovens jogadores de futebol. O estudo foi...

Os dados de GPS devem ser normalizados para monitoramento de desempenho e fadiga no futebol?

Um novo estudo publicado na revista German Journal of Exercise and Sport Research em junho de 2025 questiona a...

O que influencia a velocidade máxima nas partidas ao longo de uma temporada no Futebol?

Um estudo recente analisou a velocidade máxima atingida por jogadores de futebol durante as partidas, levando em consideração...

Tratamentos para dor crônica em jogadores de Futebol

Um estudo em formato de revisão integrativa analisou a eficácia de tratamentos farmacológicos e não farmacológicos na gestão...

João Bonfatti

João Bonfatti atualmente trabalha como Coordenador do setor de Análise de Desempenho no América-MG. Antes disso, teve passagens pelo Vasco da Gama, onde atuou em diferentes categorias: foi auxiliar técnico do Sub-20, treinador interino do Sub-17 e auxiliar técnico do Sub-17.

Atuou também pelo Atlético-MG, onde desempenhou o papel de auxiliar técnico do Sub-15. No Corinthians, auxiliar técnico do Sub-14, além de exercer a função de supervisor metodológico.

Sua formação inclui o Bacharelado em Futebol pela Universidade Federal de Viçosa e a Licença B da CBF Academy, o que reforça sua base teórica e prática no desenvolvimento de atletas.

Felipe Bonholi

Felipe Bonholi integra a equipe do Palmeiras como Analista de Desempenho no Centro de Formação de Atletas (CFA), contribuindo para o desenvolvimento e acompanhamento de jovens talentos.

Antes disso, acumulou cinco anos de experiência na Ferroviária, onde atuou como Analista de Desempenho da equipe profissional, e no São Carlos Futebol Clube na mesma função.

Sua formação acadêmica inclui Bacharelado em Administração de Empresas pela UNIARA (2014–2017) e graduação em andamento em Educação Física pela mesma instituição, iniciada em 2019.

Com sólida base teórica e ampla experiência prática, Felipe Bonholi se destaca por sua capacidade de integrar análise técnica, gestão e visão estratégica no contexto esportivo, contribuindo para o desempenho e evolução de atletas e equipes.

Mylena Baransk

Mylena Baransk é doutora em Educação Física pela Universidade Federal do Paraná e mestre em Ciências da Saúde pela Universidade Estadual de Ponta Grossa, onde também concluiu sua graduação em Educação Física – Bacharelado. Especialista em futsal com foco em análise de desempenho, atuou como docente em cursos do ensino superior e analista de desempenho no futebol.

Atualmente, exerce a função de analista de desempenho no Clube Atlético Mineiro, onde trabalha desde agosto de 2024. Antes disso, desempenhou a mesma função na Associação Ferroviária de Esportes entre março e agosto de 2024, atuando em Araraquara, São Paulo.

Além da atuação em clubes, possui experiência acadêmica como docente, tendo lecionado na UniCesumar entre julho e outubro de 2023, em Curitiba, Paraná. Também foi professora na UNIFATEB, onde atuou por quase três anos, de fevereiro de 2021 a outubro de 2023, em Telêmaco Borba, Paraná.

Com forte presença na área de análise de desempenho no futebol, também é CEO da Statisticsfut, onde se dedica ao desenvolvimento de conteúdos e estratégias voltadas à análise estatística e desempenho esportivo.

Nathália Arnosti

Nathália Arnosti é uma profissional de destaque na área de Fisiologia do Esporte e Preparação Física, com sólida formação acadêmica e ampla experiência no futebol brasileiro.

Bacharel e mestre em Educação Física pela Universidade Metodista de Piracicaba e doutora pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), ela construiu uma carreira marcada pela integração entre ciência e prática esportiva.

No cenário dos clubes, já contribuiu com equipes como Athletico Paranaense, Red Bull Bragantino, Palmeiras, Audax, Ferroviária e Ponte Preta. Em janeiro de 2024, assumiu o cargo de fisiologista do Cruzeiro, reforçando seu papel como referência no acompanhamento e otimização do desempenho esportivo.

Rodrigo Aquino

Rodrigo Aquino é professor na Universidade Federal do Espírito Santo, onde atua no Departamento de Desportos e como docente do Programa de Pós-Graduação em Educação Física (Mestrado e Doutorado).

É líder do Grupo de Estudos Pesquisa em Ciências no Futebol (GECIF/UFES) e coordenador do Programa Academia e Futebol (Núcleo UFES), financiado pelo Ministério do Esporte. Seu trabalho envolve a coordenação de projetos técnico-científicos em parceria com categorias de base e equipes profissionais de futebol no Brasil.

Rodrigo é graduado em Educação Física e Esporte pela USP, com especialização em Ciências do Desporto pela Universidade do Porto. Concluiu o mestrado e doutorado em Ciências também pela USP. Acumula experiência prática no futebol desde 2015 como fisiologista e preparador físico em clubes profissionais, além de atuar como treinador e coordenador técnico em categorias de base. Reconhecido academicamente, está entre os 10 cientistas do esporte mais produtivos da América Latina em publicações científicas relacionadas ao futebol.

Neto Pereira

Neto Pereira é um profissional de preparação física e performance esportiva com experiência em clubes do Brasil e do exterior. Atualmente é Preparador Físico no sub-20 do Vasco da Gama.

Trabalhou como Head Performance and Fitness Coach no FC Semey do Cazaquistão (2024). Foi Preparador Físico no Confiança (2023-2024) e Head of Performance and Health no Avaí (2022-2023). Também exerceu o cargo de Coordenador de Performance no Confiança (2022) e trabalhou como Fisiologista no CRB (2021-2022) e no próprio Confiança (2019-2021).

Possui Mestrado em Saúde e Educação Física pela Universidade Federal de Sergipe e Especialização em Desempenho Humano pela Universidade Tiradentes (Unit). Suas principais competências incluem preparação física, análise de desempenho, força, potência e velocidade no esporte.

Rafael Grazioli

Rafael Grazioli, natural de Canoas (RS), é formado em Educação Física pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), onde também concluiu mestrado e doutorado em Ciências do Movimento Humano.

Com nove anos de experiência atuando como coordenador científico e fisiologista no futebol profissional, ele passou as últimas três temporadas no Guarani de Campinas (SP) antes de ser anunciado pelo Criciúma em janeiro de 2025.