Jogos ou treinos isolados? Estudo mostrou como treinadores estruturam suas sessões de treinamento

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Um novo estudo realizado na Inglaterra e publicado na revista científica Science and Medicine in Football, analisou como treinadores de futebol de categorias menores estruturam seus treinamentos.

Os pesquisadores André Roca, Chris Pocock & Paul Ford, das universidades britânicas de Saint Mary e Chichester; investigaram a organização das estruturas de exercícios e as estratégias pedagógicas empregadas por treinadores durante as sessões de treino. E os resultados apresentaram dados bem interessantes.

Por que o estudo foi realizado?

Para entender o contexto do estudo, uma questão que vem chamando a atenção de pesquisadores e treinadores, é a otimização das atividades de treinamento e dos ambientes de prática para o desenvolvimento de jovens jogadores.

Pesquisas recentes têm demonstrado que o jogo é uma ferramenta poderosa de aprendizado, estimulando a tomada de decisão, o desenvolvimento da inteligência tática e a capacidade de adaptação às diferentes situações. Afinal, é no jogo que os jogadores precisam integrar habilidades técnicas, táticas e psicológicas para alcançar o sucesso.

Como o estudo foi feito?

Os pesquisadores entrevistaram 12 treinadores de clubes de base na Inglaterra das categorias entre 9 e 11 anos. Eles analisaram 35 sessões de treinamento para entender ‘como e por que’ os treinadores escolhem determinadas atividades durante a sessão.

Foram realizadas observações e entrevistas com os treinadores para melhor compreender cada exercício, com base em dois tipos de atividades:

  • Atividades de Jogo (com tomada de decisão ativa): onde os jogadores interagem com adversários e companheiros de equipe de forma semelhante ao jogo real (por exemplo, jogos reduzidos e confrontos).
  • Atividades de Treinamentos isolados (com tomada de decisão não-ativa): onde habilidades motoras com a bola são praticadas sem a presença de jogadores adversários e, às vezes, com companheiros de equipe.

Principais resultados encontrados

Os resultados mostraram que os treinadores dedicaram tempo quase igual em atividades que exigem tomada de decisão ativa e não-ativa.

As sessões de treinamento tiveram uma duração média de 86 minutos. E os treinadores dedicaram aproximadamente 41% do tempo a atividades de tomada de decisão ativa (atividades de jogo), 42% a atividades de tomada de decisão não-ativa (atividades de treinamento isolado); e 17% em outras atividades de transição (como conversas, momentos de hidratação e pausas).

Além disso, os treinadores geralmente empregavam atividades de tomada de decisão não-ativa na primeira metade das sessões de treino, e atividades de tomada de decisão ativa na segunda metade do treino.

Figura 1 do artigo. Percentage of time (Porcentagem de tempo). First half (primeira metade), Second half (segunda metade), Session segment (Segmento da Sessão). Active decision making (Tomada de decisão ativa), Non-active (tomada de decisão não-ativa) e transition(transição).

Os treinadores justificaram a utilização de atividades de tomada de decisão não-ativa na primeira metade do treino, como uma forma de desenvolver habilidades técnicas básicas antes de introduzir situações de jogo. Segundo eles, isso ajudaria os jogadores a se sentirem mais confortáveis com a bola antes de enfrentar situações de jogo mais complexas.

Na segunda parte do treino, o foco muda para jogos e atividades de confronto, onde os jogadores precisariam aplicar as habilidades aprendidas em um ambiente mais dinâmico e desafiador.

O que podemos aprender com o estudo?

Os resultados sugerem que os treinadores de futebol de base, apesar de dedicarem mais tempo às atividades de tomada de decisão ativa do que em estudos anteriores, ainda priorizam uma abordagem tradicional, com foco no desenvolvimento de habilidades técnicas básicas antes de introduzir o jogo.

A justificativa dos treinadores para o sequenciamento das atividades parece ser baseada na percepção de que o jogo pode ser muito desafiador para jogadores jovens, e que o desenvolvimento de habilidades básicas é fundamental para o sucesso posterior no jogo.

Além do mais, o estudo nos mostra que os treinadores de base estão cada vez mais conscientes da importância de atividades que envolvam tomada de decisão ativa. No entanto, a abordagem tradicional, com foco em habilidades técnicas, ainda tem um papel importante no processo de desenvolvimento.

Conclusão

Este estudo traz uma visão interessante sobre a estrutura dos treinos de futebol de base. Os resultados sugerem que os treinadores estão buscando um equilíbrio entre a tradição e as novas descobertas sobre o aprendizado no esporte.

Para ter acesso ao artigo completo, clique aqui

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João Bonfatti

João Bonfatti atualmente trabalha como Coordenador do setor de Análise de Desempenho no América-MG. Antes disso, teve passagens pelo Vasco da Gama, onde atuou em diferentes categorias: foi auxiliar técnico do Sub-20, treinador interino do Sub-17 e auxiliar técnico do Sub-17.

Atuou também pelo Atlético-MG, onde desempenhou o papel de auxiliar técnico do Sub-15. No Corinthians, auxiliar técnico do Sub-14, além de exercer a função de supervisor metodológico.

Sua formação inclui o Bacharelado em Futebol pela Universidade Federal de Viçosa e a Licença B da CBF Academy, o que reforça sua base teórica e prática no desenvolvimento de atletas.

Felipe Bonholi

Felipe Bonholi integra a equipe do Palmeiras como Analista de Desempenho no Centro de Formação de Atletas (CFA), contribuindo para o desenvolvimento e acompanhamento de jovens talentos.

Antes disso, acumulou cinco anos de experiência na Ferroviária, onde atuou como Analista de Desempenho da equipe profissional, e no São Carlos Futebol Clube na mesma função.

Sua formação acadêmica inclui Bacharelado em Administração de Empresas pela UNIARA (2014–2017) e graduação em andamento em Educação Física pela mesma instituição, iniciada em 2019.

Com sólida base teórica e ampla experiência prática, Felipe Bonholi se destaca por sua capacidade de integrar análise técnica, gestão e visão estratégica no contexto esportivo, contribuindo para o desempenho e evolução de atletas e equipes.

Mylena Baransk

Mylena Baransk é doutora em Educação Física pela Universidade Federal do Paraná e mestre em Ciências da Saúde pela Universidade Estadual de Ponta Grossa, onde também concluiu sua graduação em Educação Física – Bacharelado. Especialista em futsal com foco em análise de desempenho, atuou como docente em cursos do ensino superior e analista de desempenho no futebol.

Atualmente, exerce a função de analista de desempenho no Clube Atlético Mineiro, onde trabalha desde agosto de 2024. Antes disso, desempenhou a mesma função na Associação Ferroviária de Esportes entre março e agosto de 2024, atuando em Araraquara, São Paulo.

Além da atuação em clubes, possui experiência acadêmica como docente, tendo lecionado na UniCesumar entre julho e outubro de 2023, em Curitiba, Paraná. Também foi professora na UNIFATEB, onde atuou por quase três anos, de fevereiro de 2021 a outubro de 2023, em Telêmaco Borba, Paraná.

Com forte presença na área de análise de desempenho no futebol, também é CEO da Statisticsfut, onde se dedica ao desenvolvimento de conteúdos e estratégias voltadas à análise estatística e desempenho esportivo.

Nathália Arnosti

Nathália Arnosti é uma profissional de destaque na área de Fisiologia do Esporte e Preparação Física, com sólida formação acadêmica e ampla experiência no futebol brasileiro.

Bacharel e mestre em Educação Física pela Universidade Metodista de Piracicaba e doutora pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), ela construiu uma carreira marcada pela integração entre ciência e prática esportiva.

No cenário dos clubes, já contribuiu com equipes como Athletico Paranaense, Red Bull Bragantino, Palmeiras, Audax, Ferroviária e Ponte Preta. Em janeiro de 2024, assumiu o cargo de fisiologista do Cruzeiro, reforçando seu papel como referência no acompanhamento e otimização do desempenho esportivo.

Rodrigo Aquino

Rodrigo Aquino é professor na Universidade Federal do Espírito Santo, onde atua no Departamento de Desportos e como docente do Programa de Pós-Graduação em Educação Física (Mestrado e Doutorado).

É líder do Grupo de Estudos Pesquisa em Ciências no Futebol (GECIF/UFES) e coordenador do Programa Academia e Futebol (Núcleo UFES), financiado pelo Ministério do Esporte. Seu trabalho envolve a coordenação de projetos técnico-científicos em parceria com categorias de base e equipes profissionais de futebol no Brasil.

Rodrigo é graduado em Educação Física e Esporte pela USP, com especialização em Ciências do Desporto pela Universidade do Porto. Concluiu o mestrado e doutorado em Ciências também pela USP. Acumula experiência prática no futebol desde 2015 como fisiologista e preparador físico em clubes profissionais, além de atuar como treinador e coordenador técnico em categorias de base. Reconhecido academicamente, está entre os 10 cientistas do esporte mais produtivos da América Latina em publicações científicas relacionadas ao futebol.

Neto Pereira

Neto Pereira é um profissional de preparação física e performance esportiva com experiência em clubes do Brasil e do exterior. Atualmente é Preparador Físico no sub-20 do Vasco da Gama.

Trabalhou como Head Performance and Fitness Coach no FC Semey do Cazaquistão (2024). Foi Preparador Físico no Confiança (2023-2024) e Head of Performance and Health no Avaí (2022-2023). Também exerceu o cargo de Coordenador de Performance no Confiança (2022) e trabalhou como Fisiologista no CRB (2021-2022) e no próprio Confiança (2019-2021).

Possui Mestrado em Saúde e Educação Física pela Universidade Federal de Sergipe e Especialização em Desempenho Humano pela Universidade Tiradentes (Unit). Suas principais competências incluem preparação física, análise de desempenho, força, potência e velocidade no esporte.

Rafael Grazioli

Rafael Grazioli, natural de Canoas (RS), é formado em Educação Física pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), onde também concluiu mestrado e doutorado em Ciências do Movimento Humano.

Com nove anos de experiência atuando como coordenador científico e fisiologista no futebol profissional, ele passou as últimas três temporadas no Guarani de Campinas (SP) antes de ser anunciado pelo Criciúma em janeiro de 2025.