Qual diferença entre Jogo de Posição e Ataque Posicional?

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Foto de Pascal Swier na Unsplash

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O jogo de posição é um termo que vem ganhando força no futebol moderno, porém muita confusão ainda é feita quando o relacionamos com o ataque posicional. Portanto, neste texto vou esclarecer as diferenças entre esses dois conceitos:

Ataque posicional

A princípio, o ataque posicional foi definido por Júlio Garganta em 1997, na sua tese de doutorado denominada Modelação Tática do Jogo de Futebol. Nesta tese o autor nos apresenta os três métodos ofensivos fundamentais: ataque posicional, ataque rápido e contra-ataque.

Conforme o professor Júlio Garganta, o ataque posicional é o mais demorado dos três. Possui, como principais características, os passes curtos, desmarques de apoio e coberturas ofensivas. Além disso, a literatura da área nos apresentam outras 5 particularidades desta forma de atacar:

  • 1 – a bola é conquistada no meio campo defensivo ou ofensivo e a equipa adversária apresenta-se equilibrada defensivamente;
  • 2 – a circulação da bola é realizada mais em largura do que em profundidade, com passes curtos e desmarcações de apoio;
  • 3 – realiza acima de 7 passes;
  • 4 – tempo de realização do ataque elevado (superior a 18 segundos);
  • 5 – ritmo de jogo lento em comparação aos dois outros métodos (menor velocidade de circulação da bola e dos jogadores).

Jogo de posição

Já o jogo de posição é uma cultura de futebol presente há muitos anos no esporte, no entanto, diferentemente do ataque posicional, sua origem não foi científica, mas no próprio esporte. Podemos verificar muitas literaturas, principalmente vindo da Europa, sobre o Jogo de Posição, além de muitos treinadores com relevância no cenário esportivo já terem falado sobre o tema. Porém ainda não temos este assunto aprofundado em termos acadêmicos, com validade científica.

O jogo de posição possui algumas características marcantes, como:

A bola vai até o jogador, e não o contrário

Os jogadores possuem zonas de campo em que devem se movimentar, ou seja, sua posição será pré-determinada pelo técnico e dependerá de onde está a bola. Dessa forma, os jogadores devem movimentar-se na sua faixa de atuação, não sendo possível sair dela para buscar a bola, por exemplo.

Sendo assim, um vídeo que relata muito bem essa situação é o de Henry, que explica num canal de TV como Guardiola pensava o Jogo de Posição.

Busca gerar vantagens (numérica, qualitativa, posicional, cenestésica e sócio afetiva)

O jogo de posição sempre visará criar vantagens. Desse modo, recomendo a leitura do texto 5 maneiras de criar vantagens no futebol. A partir deste texto vocês entenderão melhor cada uma das vantagens e em como podemos usá-las ao nosso favor.

Achar o jogador livre

No jogo de posição é incansável a busca pelo jogador livre. Para que isso ocorra é importante haver trocas de passes rápidos, que envolvam o adversário, além de tentar atrair o adversário para uma faixa de campo e, depois, soltar a bola em um local menos ocupado, com jogadores livres.

Assim, um meio muito utilizado para achar o jogador livre é o terceiro “homem”. Esse mecanismo irá interligar 3 jogadores, sendo o último a receber a bola o jogador livre.

Formar triângulos entre os jogadores

Você já deve ter ouvido falar sobre a criação de triângulos entre os jogadores. Portanto esses triângulos irão lhe proporcionar, pelo menos, duas opções de passe. Dessa forma será possível mover o time através de passes curtos, os quais são mais fáceis e possuem menos probabilidade de erro. Veja o esquema tático a baixo:

Fonte: Criado pelo autor usando o tactical-board.com

Boa gestão espaço-temporal

Futebol é um jogo de tempo e espaço. Se você conseguir ter espaço, terá tempo. Caso o seu time consiga criar espaços, haverá mais tempo para pensar e resolver aquela situação problema. Entretanto, ao contrário, se você não consegue achar os espaços, seu tempo para pensar será muito reduzido, o que aumenta as chances de erro.

Além disso, Xavi, ex-jogador do Barcelona, explica muito bem nesse vídeo como ele enxerga o futebol e como o tempo e espaço são os bens mais precioso desse esporte.

Compactação no ataque e na defesa

A compactação está presente tanto no ataque como na defesa. Mas por quê? É fácil de responder essa pergunta. Pois no ataque queremos os jogadores próximos para os passes serem mais preciso e rápidos. Já na defesa devemos estar compactados, a fim de reduzir os espaços entre os jogadores e, assim, diminuir os espaços para o adversário jogar.

Está presente tanto no momento ofensivo como defensivo

O jogo de posição não visa somente o momento ofensivo, ele também está presente na hora de se defender. Um dos princípios do jogo de posição é ter a bola, portanto, é importante recuperá-la o mais rápido possível quando a perdemos. Dessa forma, isso só é possível realizando uma pressão pós perda com jogadores próximos uns dos outros e de forma sincronizada. 

Marcação pressão zonal

Esse estilo de marcação também é uma característica do time adepto ao jogo de posição. O objetivo é pressionar o jogador e, para isso, cada defensor fica responsável por uma zona de marcação. Assim, um jogador pode pressionar o portador da bola enquanto os companheiros retirar suas linhas de passes.

O ataque posicional não está dentro do jogo de posição

Muitas pessoas acreditam que o ataque posicional é uma fase que está presente dentro do jogo de posição, se referindo ao primeiro com o momento ofensivo do segundo, porém isto não necessariamente é verdade. Os dois possuem características parecidas. Dessa forma, se a equipe que está atacando respeitar as características do ataque posicional e do jogo de posição, podemos falar sim que eles se interligam. Porém, se algumas das características não estiverem presentes no modelo da equipe atacar, eles não podem ser misturados.

Desse modo, é importante também ressaltar que o Jogo de Posição é uma cultura de jogo que engloba tanto as organizações ofensivas como defensivas, como as transições ofensivas e defensivas. Já o ataque posicional visa somente a organização ofensiva, sem se ater as outras fases do jogo.

Contato do Autor:

 @Christopher_suhre

Link de Referência

Jogo de posição x Ataque posicional – Rafael Marques Oliveira

Confira um episódio do Podcast Ciência da Bola que fala sobre o assunto:

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João Bonfatti

João Bonfatti atualmente trabalha como Coordenador do setor de Análise de Desempenho no América-MG. Antes disso, teve passagens pelo Vasco da Gama, onde atuou em diferentes categorias: foi auxiliar técnico do Sub-20, treinador interino do Sub-17 e auxiliar técnico do Sub-17.

Atuou também pelo Atlético-MG, onde desempenhou o papel de auxiliar técnico do Sub-15. No Corinthians, auxiliar técnico do Sub-14, além de exercer a função de supervisor metodológico.

Sua formação inclui o Bacharelado em Futebol pela Universidade Federal de Viçosa e a Licença B da CBF Academy, o que reforça sua base teórica e prática no desenvolvimento de atletas.

Felipe Bonholi

Felipe Bonholi integra a equipe do Palmeiras como Analista de Desempenho no Centro de Formação de Atletas (CFA), contribuindo para o desenvolvimento e acompanhamento de jovens talentos.

Antes disso, acumulou cinco anos de experiência na Ferroviária, onde atuou como Analista de Desempenho da equipe profissional, e no São Carlos Futebol Clube na mesma função.

Sua formação acadêmica inclui Bacharelado em Administração de Empresas pela UNIARA (2014–2017) e graduação em andamento em Educação Física pela mesma instituição, iniciada em 2019.

Com sólida base teórica e ampla experiência prática, Felipe Bonholi se destaca por sua capacidade de integrar análise técnica, gestão e visão estratégica no contexto esportivo, contribuindo para o desempenho e evolução de atletas e equipes.

Mylena Baransk

Mylena Baransk é doutora em Educação Física pela Universidade Federal do Paraná e mestre em Ciências da Saúde pela Universidade Estadual de Ponta Grossa, onde também concluiu sua graduação em Educação Física – Bacharelado. Especialista em futsal com foco em análise de desempenho, atuou como docente em cursos do ensino superior e analista de desempenho no futebol.

Atualmente, exerce a função de analista de desempenho no Clube Atlético Mineiro, onde trabalha desde agosto de 2024. Antes disso, desempenhou a mesma função na Associação Ferroviária de Esportes entre março e agosto de 2024, atuando em Araraquara, São Paulo.

Além da atuação em clubes, possui experiência acadêmica como docente, tendo lecionado na UniCesumar entre julho e outubro de 2023, em Curitiba, Paraná. Também foi professora na UNIFATEB, onde atuou por quase três anos, de fevereiro de 2021 a outubro de 2023, em Telêmaco Borba, Paraná.

Com forte presença na área de análise de desempenho no futebol, também é CEO da Statisticsfut, onde se dedica ao desenvolvimento de conteúdos e estratégias voltadas à análise estatística e desempenho esportivo.

Nathália Arnosti

Nathália Arnosti é uma profissional de destaque na área de Fisiologia do Esporte e Preparação Física, com sólida formação acadêmica e ampla experiência no futebol brasileiro.

Bacharel e mestre em Educação Física pela Universidade Metodista de Piracicaba e doutora pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), ela construiu uma carreira marcada pela integração entre ciência e prática esportiva.

No cenário dos clubes, já contribuiu com equipes como Athletico Paranaense, Red Bull Bragantino, Palmeiras, Audax, Ferroviária e Ponte Preta. Em janeiro de 2024, assumiu o cargo de fisiologista do Cruzeiro, reforçando seu papel como referência no acompanhamento e otimização do desempenho esportivo.

Rodrigo Aquino

Rodrigo Aquino é professor na Universidade Federal do Espírito Santo, onde atua no Departamento de Desportos e como docente do Programa de Pós-Graduação em Educação Física (Mestrado e Doutorado).

É líder do Grupo de Estudos Pesquisa em Ciências no Futebol (GECIF/UFES) e coordenador do Programa Academia e Futebol (Núcleo UFES), financiado pelo Ministério do Esporte. Seu trabalho envolve a coordenação de projetos técnico-científicos em parceria com categorias de base e equipes profissionais de futebol no Brasil.

Rodrigo é graduado em Educação Física e Esporte pela USP, com especialização em Ciências do Desporto pela Universidade do Porto. Concluiu o mestrado e doutorado em Ciências também pela USP. Acumula experiência prática no futebol desde 2015 como fisiologista e preparador físico em clubes profissionais, além de atuar como treinador e coordenador técnico em categorias de base. Reconhecido academicamente, está entre os 10 cientistas do esporte mais produtivos da América Latina em publicações científicas relacionadas ao futebol.

Neto Pereira

Neto Pereira é um profissional de preparação física e performance esportiva com experiência em clubes do Brasil e do exterior. Atualmente é Preparador Físico no sub-20 do Vasco da Gama.

Trabalhou como Head Performance and Fitness Coach no FC Semey do Cazaquistão (2024). Foi Preparador Físico no Confiança (2023-2024) e Head of Performance and Health no Avaí (2022-2023). Também exerceu o cargo de Coordenador de Performance no Confiança (2022) e trabalhou como Fisiologista no CRB (2021-2022) e no próprio Confiança (2019-2021).

Possui Mestrado em Saúde e Educação Física pela Universidade Federal de Sergipe e Especialização em Desempenho Humano pela Universidade Tiradentes (Unit). Suas principais competências incluem preparação física, análise de desempenho, força, potência e velocidade no esporte.

Rafael Grazioli

Rafael Grazioli, natural de Canoas (RS), é formado em Educação Física pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), onde também concluiu mestrado e doutorado em Ciências do Movimento Humano.

Com nove anos de experiência atuando como coordenador científico e fisiologista no futebol profissional, ele passou as últimas três temporadas no Guarani de Campinas (SP) antes de ser anunciado pelo Criciúma em janeiro de 2025.