Modelo de Jogo no Futebol: o que é e para que serve?

Por: Chrístopher Suhre e Roberto Lazzarotto

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Foto de Victoria Prymak na Unsplash

Este texto abordará o que é modelo de jogo no futebol e complementa a publicação sobre periodização tática, feita anteriormente. Aliás, se você quiser saber mais sobre o assunto, também publicamos um texto que apresenta a importância dos fractais na periodização tática. Assim, a primeira questão que o treinador precisa desenvolver para iniciar a Periodização Tática é a criação de um Modelo de Jogo no futebol. Esse modelo norteará os treinamentos e a competição.

O que é Modelo de Jogo no futebol?

Fonte: criado pelo autor.

Primeiramente, citaremos o entendimento do próprio Prof. Vitor Frade acerca do assunto, em entrevista:

“Portanto, para mim, modelo é o que existe em termos estruturais e funcionais, que proporciona que regularmente uma equipa se identifique como equipa. Que mesmo quando você mete umas camisolas da cor “do burro quando foge” ao ela estar a jogar mal você diz: “Não, este é o Barcelona”. O modelo é este lado, esta evidência empírica.”

O Modelo de Jogo no futebol, em síntese, é a “descrição do jogar” da equipe. Ou seja, está no imaginário do técnico. Portanto, será a maneira como ele idealiza que os jogadores desta equipe se comportem em cada momento do jogo, como interajam entre si para solucionar os problemas que aparecem durante a partida, etc.

Modelo de jogo ideal vs concepção de jogo.

O Modelo de Jogo, também chamado de Modelo de Jogo Ideal, será o norteador da equipe nos treinos e competições. Segundo o livro de Israel Teoldo, se o futebol se joga por conceitos, é o modelo de jogo que dá ou retira significados a esses conceitos, que os agrega ou separa.

Assim como vimos acima, o Modelo está presente na cabeça do treinador, tendo, a sua disposição, um cenário perfeito, com os melhores jogadores do mundo, semanas inteiras para treinar, condições ótimas de treinamento, etc. Porém, isso nunca será possível. Dessa forma, a Concepção de Jogo ou Modelo de Jogo Adaptado será a forma como o técnico prevê que a equipe jogue, mas considerando os itens a seguir:

  • Característica dos jogadores;
  • Cultura do clube;
  • Cultura da região;
  • Estrutura do clube;
  • Pretensões do clube nas competições que há de disputar;
  • Ideia de jogo do treinador.

Portanto, após o técnico ter criado um estilo de jogo “perfeito” (Modelo de Jogo), ele irá adequá-lo às condições citadas acima (Concepção de Jogo). Segundo Israel Teoldo, a concepção de jogo é influenciada pelo modelo de jogo ideal e, simultaneamente, condicionada por vários constrangimentos.

Mas, por que “modelar o jogo”?

Ora, já sabemos acerca da complexidade do jogo de Futebol e que, como tal, precisa ser tratado com olhares sistêmicos. Então, partindo disso, como criamos parâmetros para que os jogadores compreendam o jogar a que se pretende e consigam sintonia coletiva? Para responder, vamos nos aproveitar do trecho de Lê Moigne citado em “Abordagem sistêmica do jogo de futebol: moda ou necessidade?”: 

“Se pretendemos construir a inteligibilidade de um sistema complexo, devemos modelá-lo.” Ou seja, precisamos criar modelos que possam ser compreendidos pelos jogadores, de modo que eles reproduzam determinados padrões no jogo.

As duas características principais ao modelá-lo são:

Unicidade

Não existe um modelo genérico, pois o jogo é complexo e há todo um contexto, também complexo, ao seu entorno. Portanto, cada modelo é único, sem a possível aplicação do mesmo em diferentes locais e momentos. 

Pense com você mesmo: sempre teremos à disposição a mesma estrutura, os mesmos jogadores e objetivos iguais? Todos os clubes e cidades possuem a mesma cultura? Bom, assim você consegue entender a tal da unicidade que citamos. Aliás, nem no mesmo clube, na mesma temporada, mas em alturas diferentes desta, teremos sucesso com um mesmo modelo, mas esse é um assunto para o próximo tópico.

Sem fim em si mesmo

Primeiro, há o costume de se falar que um modelo não tem fim em si mesmo. Mas o que isso quer dizer? Significa que não é fechado, sendo suscetível a otimizações e adaptações. E tudo isso se deve a influência do tempo, já que, por exemplo, as pretensões do clube podem variar ao longo da competição, assim como nem sempre todos os jogadores estarão disponíveis. Além desses fatores também existe a busca constante pelo melhor “ajuste” possível (otimização). 

Cabe aqui citar outro trecho da entrevista do Prof. Vitor Frade: “o modelo é qualquer coisa que não existe em lado nenhum, todavia eu procuro encontrá-lo”.

Enfim, não existe um molde genérico, um modelo aplicável em diferentes contextos e cenários, afinal, falamos de um jogo complexo sob a influência do tempo.

O modelo de jogo na Periodização Tática

A tática, representada pelo Modelo de Jogo, é tida como uma “supradimensão” da Periodização Tática. Mas o que isso quer dizer? Ora, que as demais dimensões (técnica, física e mental/psicológica) são levadas de arraste ao se treinar a dimensão tática. Ou seja, quando treinamos o jogar, tomando em consideração o que queremos propor como Modelo de Jogo, acabamos também treinando indiretamente as demais vertentes. 

Da mesma forma que o citado antes, Mourinho, no livro Porquê de tantas vitórias, deixa isso claro ao mencionar que sua preocupação desde o primeiro dia de treinamento é fazer com que a equipe possua um conjunto de princípios que deem organização a ela (equipe), e as preocupações técnicas, físicas e psicológicas surgem por arrastamento.

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Contato dos autores:

Chrístopher Kilpp Suhre
Instagram: @Christopher_Suhre

Roberto Augusto Lazzarotto Pereira
Instagram: @ralazzarottop

Confira abaixo um episódio do Podcast sobre o assunto:

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